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Médico mandou Comandos rastejar para a ambulância

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As conclusões retiradas pelo Ministério Público, no âmbito da morte dos instruendos do curso de Comandos, são arrasadoras para os sete militares detidos que são acusados de terem tratado os recrutas “como pessoas descartáveis” e “movidos por um ódio patológico”.

Sete militares foram detidos, nesta quinta-feira, sob suspeita de crimes de abuso de autoridade por ofensa à integridade física e crimes de omissão de auxílio, no âmbito das mortes dos recrutas Hugo Abreu e Dylan Silva no 127.º Curso de Comandos.

Os dois militares, que morreram com 20 anos no primeiro dia do curso, “terão sido impedidos de beber água” durante as várias horas que decorreu a fatal prova, escreve o jornal Público, citando as conclusões das autópsias e do Ministério Público.

O jornal avança que Hugo Abreu e Dylan Silva só tiveram direito a água e soro quando “já nada haveria a fazer”. E quando a ambulância do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) chegou, já tinham “lesões neurológicas graves e irreversíveis“, aponta a mesma fonte.

O MP aponta que há “sinais de diversas agressões” e uma “situação de desidratação extrema” que deixou os recrutas num “estado confusional” com “episódios de delírio”, sustenta o Público.

Capitão-médico mandou vítimas rastejar para a ambulância

O capitão-médico Miguel Domingues, responsável pela saúde dos instruendos do curso e um dos detidos, é um dos principais visados no processo e o Correio da Manhã garante que “esteve 16 horas ausente” da prova.

De acordo com este jornal, o capitão-médico “esteve ausente do treino desde o início da prova, às 21h30, de 3 de Setembro até às 11h00 de dia 4”. Nessa altura, “já havia vítimas a tombar, desidratadas”, mas o médico voltou a sair às 19 horas “com 21 instruendos na enfermaria”, aponta o CM.

Este diário ainda garante que “o médico mandou duas vítimas rastejar para a ambulância” com o intuito de “causar lesões físicas e neurológicas nos militares”, refere o CM, citando as alegações do MP.

E “quando decidiu que Abreu e Dylan seriam hospitalizados, não lhes deu prioridade urgente“, refere ainda o jornal.

Instruendos tratados “como pessoas descartáveis”

O despacho de acusação, citado pelo Expresso, considera que os arguidos trataram “os instruendos como pessoas descartáveis”, “movidos por um ódio patológico, irracional” contra os recrutas que “consideram inferiores por ainda não fazerem parte do Grupo de Comandos, cuja supremacia apregoam”.

A mãe de Hugo Abreu disse à RTP que o filho foi obrigado a comer terra, quando já estava em grandes dificuldades físicas. E a mãe de Dylan Silva referiu à estação pública que o filho estava “todo negro” e que terá sido ameaçado por um dos sargentos instrutores do curso.

O manual do Curso de Comandos – intitulado de Ficha de Apresentação do Curso (FAC) – determina que “a disponibilização de água aos instruendos deve ser condicionada ao mínimo”, afiança o Público, notando que a prática habitual é “deixar os recrutas sem qualquer água durante várias horas“.

O CM garante que, apesar das temperaturas superiores a 40 graus, alguns recrutas “só beberam três litros, num racionamento por castigos e que nem estava previsto no esquema do curso”.

Entretanto, o advogado Varela de Matos entregou no Supremo Tribunal de Justiça, em Lisboa, um pedido de “habeas corpus para libertação imediata dos sete militares. O objectivo será impedir que sejam interrogados por um juiz esta sexta-feira de manhã.

Comentando o caso, o ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, garantiu o “empenho político” para o apuramento pleno dos factos no “quadro da investigação criminal”.

SV, ZAP

9 Comments

  1. Nada disto me espanta, pois eu presenciei tudo isto ha alguns anos na região de Santa margarida onde tambem morreram alguns instruendos e o Curso nessa altura foi supenso para reavaliação da metodologia do treino. Infelizmente passados estes anos a história repete-se. Há que ser firme nas medidas a tomar, que estes Militares sejam punidos severamente para dar o exemplo para futuros Cursos. Este médico que fez um Juramento e que tem uma formação para salvar vidas, actua com amentalidade dos restantes militares “comandos”, ou seja de cabeça ôca. È inadmissivel que isto se passe actualmente. è altura dos Cursos de Comandos e dos seus diretores saberem que a água e indispensavel a vida e que estes militares são seres humanos, não podem ser carenciados de agus sobretudo durante os treinos. (Já na minha altura se morria ou se ficava com lesões graves vilatlicias por falta de água).

    • Por aquilo que se está a ver importa “punir”….foram presos preventivamente e já começou a punição. Estará certo ou vamos assistir ao mesmo que se passou com o GNR que baleou um rapazito que o pai levou em estágio para o assalto ?

      Assim o Circo fica muito melhor servido; mandar prender 7 militares bate mais do que procurar se 2 moços na força da vida quiseram ter a certeza que conseguiam…

      Apesar de poderem ter recorrido ao que não deviam -os jovens- e com isso violado a própria ficha da instrução, isso obrigará à expulsão dos falecidos a título póstumo; do pouco que quase nada sei, os indícios apontam para o problema é transversal nas forças especiais de vários países – várias ocorrências estão identificadas. Só no SAS (Inglaterra) foram mais de 80 baixas.

      Notar que alguns países optam por contratar homens de outras nacionalidades – assim quando as coisas azedam sempre são estrangeiros….e evita-se o CIRCO. Os britânicos têm unidades inteiras de Ghurcas e os Franceses a Legião (onde estão bastantes portugueses ex-comandos).

      Como fiz o curso – 2º Turno de 1981 – não vi ninguém na situação das ocorridas recentemente.

      Quanto ao comentário feito por Carlos Pedro, a questão da limitação de agua, ela ocorre por um período limitado de tempo na prova de choque (a mais difícil) e corresponde a uma dotação mínima/dia; em 1981 era 1,5 l/dia, ao que agora é público seriam 4l/dia. Compete ao instruendo gerir essa àgua até à nova entrega. Há quem a beba toda de uma vez. Submeter um instruendo à sede claro que não faz bem à saúde, assim como a carne vermelha, álcool em excesso, doçaria etc.

      Mas é a dureza do treino…..aguentas ou não!!!

  2. Metam em curso é uma investigação a esses cursos.
    Metam lá um à paisana para realmente verem como estes animais instruem!
    Não percebo como este tipo de pessoas embaraçam o país que dizem lutar desta maneira.
    Mas mais grave ainda é essa amostra de oficial/médico, enfim vivemos no país ainda atrasado a muitos níveis!

  3. Chega de notícias sórdidas e a roçar o incentivo à violência. Está mal, foi mau, para os próprios e para as famílias. Eu não quero imaginar se me batesse à porta. Mas agora deixem as instituições funcionar. Deixemos de ser carrascos, senão somos todos iguais….

  4. O Sr Rui Valente ainda entende que submeter um instruendo a sede nao faz bem tal como ingerir carnes vermelhas ou excesso de alccol…por favor seja realista e nao compare o incomparavel….se fosse um familiar seu tambem pensaria da mesma maneira? somos seres humanos e tudo tem o seu limite deveriam forçar o medico a passar pela mesma situaçao. è anadmissivel e vergonhoso tudo o que se passou…mas com a justiça que temos so ver para crer!!!!!

  5. Há que fazer justiça a sério sem olhar a divisas ou galões que aliás esses senhores não serão dignos de usar e só mancham o nome e a reputação das FA embora arrogantes e autoritários se imaginem com direito a tudo e ao fazer-se justiça ficará um sério aviso para novos brutamontes que se queiram candidatar a mandões daquilo que como homens que deveriam ser não estão capacitados para tal.

  6. Rui valente, você sabe do que está a falar? Está a falar de jovens mortos por culpa de uns cobardolas, que dizem-se muito valentões mas é dentro do ninho, ou seja do quartel. Se fossem homens com H não se calavam perante o juiz de instrução criminal. Assumiam os actos que praticaram e que para mim pode configurar homicídio voluntário. Sim, digo bem voluntário, porque negligência é outra coisa bem diferente. Não passam de uns cobardolas. Agora que a coisa pia mais fino, remetem-se ao silêncio. Pildra com eles por muitos anos para não voltarem a fazer mal a ninguém. E quanto a água na cadeia qualquer decilitro/dia será suficiente para saberem o que custa a vida. Gostaria de saber o que estaria agora o Rui Valente aqui a comentar se fosse um filho dele. Submeter jovens a provas que põem em risco a própia vida, não tem sentido. Bem basta se eles estivessem num cenário de guerra em que as mortes podem acontecer por causas fortuitas, agora em treino isto não pode acontecer. Estes militares não passam de uns frustados da vida que vêem ali a oportunidade de se vingar em alguém. Mão pesada da justiça é o que lhes desejo.

  7. Que país este… Um país, ou melhor, um povo que tem as prioridades todas trocadas e confusas… Tanta coisa para dizer a respeito deste tema e de tantos outros, como foi o caso do GNR, penalizado por agir em defesa da Lei e que por este acto é ainda obrigado a indemnizar o marginal. Só neste país mesmo! O povo, nós portugueses, felizmente, até o momento, estamos longe de saber o que são guerras no território Português… Porque quando formos atingidos diretamente, como em muitos outros países, nesse momento, aí sim, serão essas pessoas a chamar a Polícia, a GNR, as Forças Armadas, porque sentirão na pele que precisam de proteção. E serão todos esses homens e mulheres policiais e militares que darão o corpo, a cabeça e a alma para nos proteger a cada um de nós. A todos os cidadãos que ABREM A BOCA SÓ PARA CRITICAR NEGATIVAMENTE AS POLÍCIAS E AS FORÇAS MILITARES pensem nisto! Pensem que, para ser um polícia, um militar… há que ter formação e instrução para tal. E é todo este conjunto de situações teóricas e práticas que formam estes homens e mulheres. São estes homens e mulheres que por vocação e opção de vida escolheram esta vida, uma vida de riscos diários e permanentes sempre com um objetivo: defender e proteger quer o indivíduo no dia a dia, quer um país. Dar a Vida pelo outro. A isto se chama trabalhar pelo bem comum! Formar militares e neste caso concreto, formar forças especiais como os “Comandos” não é a mesma coisa que dar instruções e cuidar de “Escuteiros”. Não há comparação possível! E a maioria dos cidadãos que, em torno desta notícia e outras similares, tem se pronunciado, parece que estão a opinar sobre jovens que se “matricularam” no “grupo de escuteiros” da sua cidade (com todo o respeito pelos Escuteiros e por toda a sua Missão). Pelo amor de Deus não confundamos. As pessoas quando decidem por uma carreira, uma opção de vida… não basta só querer, pensarem que gostam desta ou daquela profissão ou missão a seguir… Não, isto não basta! Para todos os que decidem entrar para as fileiras das Forças Armadas ou até para a Polícia… há todo um percurso a ter em conta. Além de ser postos à prova das suas competências físicas, intelectuais e psicológicas, há algo muito importante a não esquecer: cabe a cada um saber até onde está disposto a ir, saber também aceitar as suas limitações e fraquezas. Sim, porque nem todos os jovens que decidem por esta via, têm capacidades para tal. Passar nos testes (físicos, médicos, etc…) é uma coisa; suportar no dia a dia treinos intensos e exaustivos é outra coisa. Há que admitir e assumir que não é uma vida ao alcance de todos e para todos. Uns suportam, outros até gostariam de suportar… E nesta situação específica há que ter a coragem de dizer: “Quero desistir!” Todos os anos em todos os cursos militares, incluindo nas Academias Militares das várias Forças, entram X candidatos e quase que diariamente vão desistindo… chegando ao fim por vezes metade dos que concorreram. Aqui estão várias razões para isto acontecer: “não é isto que quero para a minha vida”; falta de capacidade física; psicológica; a saúde não é suficiente para tais exigências; etc. Há pessoas que dizem: “Faço desporto. Qual? Caminho diariamente.” Pensam que, pelo facto de caminhar, até conseguem fazer uma prova de atletismo de 10, 15 km. Quando confrontadas com isto, verificam que afinal “caminhar” é diferente de “correr”. No entanto dizem-se atletas. Há grandes atletas de fundo ou meio fundo, que são incapazes de fazer sequer uma “flexão na trave”, no entanto são atletas. Contudo confrontados com outra vertente, outra modalidade, outra exigência física, não são capazes de fazer frente. Relativamente às Universidades, às várias ofertas de Cursos… passa-se a mesma coisa. Muitos são os jovens que gostariam de entrar para um determinado curso e não entram, porque não têm média. Outros para o curso de Educação Física, além da média do Secundário, têm uma série de provas físicas a efetuar… São requisitos necessários! Além disto, ainda há outra questão, por vezes entram para um determinado curso e passado algum tempo, chegam à conclusão que na verdade não era isto que queriam, ou seja, não se identificam ou não têm perfil para esta opção.
    Neste caso concreto: algo correu mal, é certo! Houve mortes, claro que algo correu mal!
    Sim, são treinos e formação para um dia, mais tarde, quando chamados a Territórios Reais, de Guerra, fazerem frente e fazerem o seu melhor. E nesses momentos, muitas serão as situações de sede, de fome, de frio, de calor, de pânico… onde nada, nem ninguém terá oportunidade de “ensaiar” ou recorrer a “manuais de instruções”. Esta será outra realidade.
    Um médico só pode operar quando estiver apto e com a sua formação concluída. E quantos são os casos de doentes que morrem nas mãos dos médicos – médicos excelentes, excelentes profissionais – mas que salvar estes doentes não dependia só deles.
    Tudo isto faz parte da vida, das escolhas e dos riscos!
    Sou mãe de duas filhas militares, desde que ingressaram nesta carreira, correm riscos (como todos os outros, seja em que atividade for…). Mas para hoje serem militares (e de sucesso) também comeram terra, rastejaram, passaram muito frio, muito calor, sentiram sede e fome; Nos momentos de dor, sofrimento, pressões físicas e psicológicas, choraram, quiseram desistir… Eu, como mãe, a única vontade que tinha naqueles momentos era “voar” até elas, abraçá-las e trazê-las comigo. Durante muitas noites, madrugadas, do outro lado do telefone também chorei muito, sofri muito e só uma coisa podia fazer: dar-lhes apoio, força e coragem para continuarem. Tudo seria mais fácil, naqueles momentos, para mim e para elas, se eu dissesse: desiste! Não, a vida tem que ser encarada de outra forma, com garra e com força. Enquanto mãe, o meu papel é estar presente na vida das minhas filhas, ajudá-las na Caminhada da Vida! Ajudá-las a ter força e coragem! Desistir até podem desistir, mas para atingir o possível, há que tentar o impossível!
    E por fim, não confundamos as coisas! Não falemos do que não sabemos ou do que não conhecemos (Quando estamos doentes, vamos ao médico, não à manicura.). É a tal coisa, todos são treinadores de bancada, todos querem ir para dentro do campo, mas só alguns o podem e têm capacidade para o ser!

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