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Material de Tancos abre guerra entre o Ministério Público e militares

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Paulo Novais / Lusa

Entrada dos Paióis Nacionais do Polígono Militar de Tancos

A Polícia Judiciária Militar não informou o Ministério Público nem os procuradores da Unidade Nacional de Contraterrorismo da PJ de que tinha encontrado o material de guerra roubado, em junho passado, em Tancos.

Segundo o Diário de Notícias, o diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), do Ministério Público, convocou a Polícia Judiciária Militar (PJM) para uma reunião urgente ontem à tarde para esclarecer a recuperação, na madrugada desta quarta-feira, do material desaparecido dos Paióis Nacionais de Tancos.

O MP, titular da investigação, quer garantias de que a investigação não ficou comprometida, uma vez que nem este nem os procuradores da Unidade Nacional de Contraterrorismo da PJ foram informados pela PJM que o material tinha sido encontrado.

As autoridades encontraram o material roubado na zona da Chamusca, depois de uma denúncia anónima, tendo intercetado 44 armas de guerra, granadas e explosivos. Fonte militar confirmou que o material foi todo encontrado, com exceção de algumas munições.

A diligência foi feita com a ajuda do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé. O material foi entretanto levado para os Paióis de Santa Margarida, onde “está a ser realizada peritagem para identificação mais detalhada”.

Militares desvalorizam críticas

De acordo com o DN, o “mal-estar é notório” e algumas fontes policiais e do Ministério Público admitem ao jornal que o diretor do DCIAP, Amadeu Guerra, pode fazer queixa à hierarquia das Forças Armadas.

“É fundamental garantir que não houve intenção de esconder alguma coisa que não interessava aos militares que se soubesse”, explica um procurador já reformado ao diário.

O Diário de Notícias escreve que fontes militares desvalorizam as críticas, até com alguma ironia, “perguntando se a PJ costuma chamar ou avisar previamente o MP quando faz uma apreensão de droga” e acrescentando que “não queriam show off nem ver fotografias da cena do crime nos jornais”.

Tendo recebido a denúncia, a PJM destacou investigadores que estavam na zona há semanas, com militares da GNR de Loulé, no âmbito de um outro processo relacionado com comércio ilícito de armamento.

De acordo com as fontes ouvidas pelo DN, os investigadores estavam longe de imaginar que iam encontrar o material furtado dos paióis de Tancos. A expectativa era recolher “coisas do Ultramar”, armas e ou granadas que tivessem ficado a descoberto após as fortes chuvadas ocorridas naquela região.

Investigadores desconfiam dos militares

Em declarações à TSF, investigadores ligados ao processo acreditam que houve “mão interna” ou, pelo menos, ajuda de militares no furto, considerando que é impossível os autores do crime terem chegado a três paióis específicos, num total de 20, precisamente aqueles que tinham material relevante.

Sobre a hipótese colocada pelo ministro da Defesa, Azeredo Lopes, de que o roubo podia nem sequer ter existido, a mesma fonte explica à radio que isso nunca foi pensado.

As razões são simples: “o material roubado era em grandes quantidades e quem quer que tivesse simulado esse roubo ter-se-ia dado ao trabalho de cortar uma rede, fazer um trilho no mato e arrombar as portas, o que é inverosímil, além de que o relatório de existências feito meses antes era claro a identificar o material que estava nos paióis”.

Segundo o Jornal de Notícias, o material terá sido abandonado na Chamusca, na sequência da pressão da Polícia Judiciária Militar que andava há meses a investigar suspeitos, nos quais se incluem militares.

O PS anunciou ontem que vai chamar com caráter de urgência o ministro da Defesa à Comissão Parlamentar de Defesa. Este requerimento da bancada socialista foi transmitido à agência Lusa por fonte oficial da direção do Grupo parlamentar dos socialistas.

ZAP //

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