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Marinha contra exoneração de Mendes Calado. Discórdia deixa saída sem data e partidos querem ouvir Mendes Cravinho

Tiago Petinga / Lusa

O Chefe de Estado-Maior da Armada, Almirante António Mendes Calado

Vários partidos já exigiram uma audiência parlamentar de urgência ao Ministro da Defesa sobre a polémica substituição de Mendes Calado por Gouveia e Melo. A Marinha mostra-se contra a exoneração do actual chefe.

Marcelo já deu o assunto como encerrado, dizendo que os “equívocos” ficaram esclarecidos. Primeiro pela boca do Secretário de Estado da Defesa fez também suas as declarações do Presidente, dizendo que a questão está “sanada”.

André Moz Caldas, Secretário de Estado da Defesa, quer também seguir em frente. “O Presidente da República já produziu um comunicado e portanto o assunto está, desse ponto de vista, encerrado”, afirmou no briefing do Conselho de Ministros.

Em está a decisão polémica do Ministro da Defesa de exonerar o Chefe de Estado-Maior da Armada, o Almirante António Mendes Calado, tendo o Vice-Almirante Henrique Gouveia e Melo, o coordenador da task-force da vacinação em Portugal, sido apontado como o seu possível sucessor.

Como líder das forças armadas em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa desautorizou o governo publicamente. António Costa acabou por pedir uma reunião de emergência com o Marcelo, depois de receber o primeiro-ministro, a Presidência publicou uma nota onde referiu que “ficaram esclarecidos os equívocos suscitados a propósito da Chefia do Estado-Maior da Armada”.

O Público avança que não foi posta em causa a substituição de Mendes Calado por Gouveia e Melo mas que ainda não foi decidida a data em que essa mudança deve avançar.

O mesmo jornal avança que a fuga da notícia, avançada pela Lusa citando uma fonte da Defesa Nacional, também foi abordada na reunião, mas o Governo garantiu ao Presidente que a informação não partiu do Ministério da Defesa.

Partidos exigem respostas

Os vários partidos também já reagiram à polémica. Rui Rio considerou a fuga de informação “inadmissível” e descreve toda a situação como “injusta” para Gouveia e Melo. “Quem colocou isto na praça pública, uma vez percebido quem foi, tem de se demitir”, defendeu.

“As Forças Armadas não mereciam que este assunto tivesse sido colocado na praça pública como foi, quem se antecipou e veio dar a notícia prestou um mau e um injusto serviço”, afirmou também o líder do PSD. Os sociais-democratas pediram também uma audição parlamentar urgente ao Ministro da Defesa, com o apoio do CDS, PCP e PAN.

Já o CDS critica a “desarticulação” entre o executivo e a Presidência, considerando que “não é boa para as Forças Armadas e para Portugal”. O deputado Pedro Morais Sarmento refere também que os centristas têm vindo a falar sobre a operacionalização dos meios da Marinha e quer saber se “todos estão em sintonia” sobre as alterações introduzidas à Lei de Defesa Nacional e à Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas (LOBOFA).

Os comunistas querem também um “cabal esclarecimento” sobre os “equívocos” perante o Parlamento. O deputado António Filipe, que integra a Comissão de Defesa Nacional, afirma que a polémica criou “instabilidade ao nível das chefias militares que fragiliza a posição do actual chefe do Estado-Maior da Armada e é uma situação indesejável”-

O PAN caracteriza toda a situação como “infeliz” e como “pouco digna” a forma como Mendes Calado tem sido tratado. Inês de Sousa Real lembra que esta demissão “pode ter subjacente uma discordância política em torno da reestruturação das Forças Armadas” e lamenta também ver Gouveia e Melo, que “teve um papel inexcedível no plano de vacinação”, envolvido na polémica.

Almirantes opõem-se à exoneração

Entre as discórdias políticas, a própria Marinha já se fez ouvir. Segundo escreve o Expresso, o Conselho do Almirantado já se tinha manifestado contra a proposta de exoneração de Mendes Calado e a hierarquia militar não gostou da ideia do Ministro da Defesa, João Mendes Cravinho.

O ex-CEMA na reforma Luís Ma­cieira Fragoso revela ao mesmo jornal que é difícil que Mendes Calado se mantenha no cargo agora, ainda por cima depois de discórdias anteriores com Mendes Cravinho e com o almirante Silva Ribeiro, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.

Ficando Mendes Cravinho e Mendes Calado, “como é possível esta relação?”, questiona. “Que condições tem ele para também ficar? A tutela da Marinha é do ministro da Defesa. O ministro toma uma atitude pública destas, é desautorizado em público pelo Presidente, e tudo fica na mesma com uma conversinha?”, acrescenta.

Macieira Fragoso diz que ficaram muitas questões no ar depois da reunião de Marcelo e Costa, como se Mendes Cravinho avançou sem o conhecimento do primeiro-ministro e sobre os procedimentos que levaram a que o Ministro tomasse a iniciativa sem informar o Presidente da República.

Estava já nos planos que Gouveia e Melo sucedesse a Mendes Calado desde Março, quando o vice-almirante ainda não estava à frente da task-force e era desconhecido do público em geral.

No entanto, o mandato de Mendes Calado foi renovado aquando da demissão do anterior coordenador do processo de vacinação, para que Gouveia e Melo pudesse assumir a liderança da equipa.

O Expresso refere também que ficou acordado que Mendes Calado continuaria no cargo por mais um ano e meio, no máximo, e Gouveia e Melo iria depois substituí-lo de forma “elegante“, como Marcelo queria.

Mas o “momento” oportuno que o PR queria era por volta de Setembro de 2022 e não agora, quando o vice-almirante estaria prestes a entrar no limite de idade para se poder tornar CEMA e depois de já terminado o seu trabalho com a coordenação da vacinação.

Adriana Peixoto, ZAP //

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