/

“Inexplicável”. Marcelo desautorizou o Governo no caso CEMA (mas Costa apressou-se a apagar o fogo)

20

Mário Cruz / Lusa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (D), acompanhado pelo primeiro-ministro, António Costa (E)

Marcelo Rebelo de Sousa foi surpreendido, e ficou desagradado, com as notícias sobre a substituição do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), Mendes Calado, pelo almirante Gouveia e Melo, e lembrou ao Governo que só ele pode fazer esta troca. Mas António Costa apressou-se a apagar a mini-crise.

Após os “equívocos” apontados pelo Presidente da República quanto ao anúncio da demissão do CEMA, António Costa pediu uma audiência de emergência a Marcelo Rebelo de Sousa e foi a Belém acompanhado do ministro da Defesa, João Gomes Cravinho.

O encontro terminou com uma lacónica nota que aponta que “ficaram esclarecidos os equívocos suscitados a propósito da Chefia do Estado-Maior da Armada”.

O Expresso avança que Marcelo só teve conhecimento da conversa em que o ministro da Defesa exonerou o CEMA “depois de ela ter acontecido”. Uma situação “inexplicável”, segundo refere uma fonte oficial de Belém ao semanário.

O desconforto de Marcelo com o caso levou-o a desautorizar publicamente o Governo, mas em particular o ministro da Defesa, alertando que o comandante supremo das Forças Armadas é o Presidente da República.

Associações militares arrasam o ministro da Defesa

Entretanto, as associações profissionais de militares dizem não compreender as razões da intenção do Governo de propor a exoneração do CEMA, deixando muitas críticas.

O coronel António Mota, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), estranha que “a política esteja completamente sem escrúpulos, ainda por cima numa área extraordinariamente sensível como é a Defesa”, conforme declarações à Lusa.

António Mota refere que o almirante Mendes Calado “foi reconduzido em Fevereiro” e que, portanto, tinha, na altura, “uma confiança reforçada”.

Além disso, o coronel recorda que Mendes Calado, bem como “o general Borrego da Força Aérea” e o “general Fonseca do Exército” se “opuseram às ideias estapafúrdias do senhor ministro da Defesa na reestruturação da estrutura superior das Forças Armadas”.

O coronel refere-se às recentes alterações à Lei de Defesa Nacional e à Lei Orgânica de Bases das Forças Armadas que geraram polémica e críticas dos chefes dos três ramos.

Para o coronel, o ministro tem até demonstrado “arrogância” e “tiques autoritários para não dizer ditatoriais”, e vai arranjar uma “desculpa esfarrapada” para justificar a proposta de exoneração.

Vincando que nada tem contra o vice-almirante Gouveia e Melo, o coronel aponta ainda que “qualquer Chefe do Estado Maior que se siga, nestas condições específicas, não fica bem na fotografia porque ficará sempre ligado, até de forma involuntária, a uma nomeação que aparentemente foi feita à medida“.

“Há qualquer coisa que não bate certo”

Já o sargento Lima Coelho, presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), diz que recebeu a notícia com “estranheza e surpresa”.

“Não se percebe que um chefe militar que há pouco mais de seis meses foi reconduzido por este Governo, por este ministro, proposta ao Presidente da República a sua recondução, por ter excelentes qualidades, por ter exercido uma excelente missão… Não se percebe o que terá passado neste tão pouco período de tempo que leve o senhor ministro a propor a demissão deste chefe militar”, aponta Lima Coelho.

Para o sargento, “é importante que se explique rigorosamente aos cidadãos o que está por detrás de tudo isto porque as Forças Armadas não podem ser alvo de arremesso político”.

Também o presidente da Associação de Praças (AP), Paulo Amaral, fala em “estupefação” e “estranheza”, apontando que “não é fácil” para os militares e qualquer cidadão compreender o que se passou e considerando “imperativo” que haja esclarecimentos.

“Estamos a falar de uma instituição que é secular, que tem como inerência principal a defesa da soberania nacional, e também de um homem [Mendes Calado] que deu uma vida inteira à causa das Forças Armadas, à instituição e à causa nacional. Não pode ser tratado desta forma leviana“, sustenta Paulo Amaral.

Fazendo referência às declarações do Presidente da República sobre o assunto, Paulo Amaral considera que “há aqui qualquer coisa que não está a bater certo”, acrescentando que “as ordens, quando vêm de cima, têm que ser ordens claras”.

Na terça-feira, fontes ligadas à Defesa Nacional disseram à agência Lusa que o Governo iria propor ao Presidente da República a exoneração do CEMA que tinha sido reconduzido para mais dois anos de mandato, com início em Março deste ano.

Fonte próxima do processo e ligada à Defesa Nacional adiantou ainda à Lusa que o Governo iria propor o vice-almirante Gouveia e Melo para o lugar.

Marcelo confirmou que a saída do CEMA antes do fim do mandato está acertada, mas salientou que não acontecerá agora, escusando-se a adiantar qual será a data.

ZAP // Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

20 Comments

  1. O sucesso da liderança do vice-almirante Gouveia e Melo no processo de vacinação mostrou duas coisas: Mostrou a sumptuosa incompetência da vasta corte de parasitas políticos promovidos por cunhas e colocados em cargos que nunca mereceram, e mostrou a diferença que faz na qualidade dos resultados ter alguém competente a liderar uma operação. Qualquer operação.
    O problema é que este segundo facto assusta, e muito, a mole de gente (chamemos-lhe “gente”) do primeiro grupo. E assusta com razão: Nada assusta mais um incompetente do que a exibição do bem que nos fazia ele ser despedido!
    Vai daí, a corte movimenta-se, inquieta e apressada, para abafar o Problema Gouveia e Melo. Qual é a melhor maneira de abafar o problema? É dar-lhe um cargo, claro: Um Cargo Importante, onde ele não faça mais estragos, de preferência lá dentro da estrutura militar, onde não perturbe os civis ineptos e em aflição.
    Os quais, em vez de trabalhar para melhorar, se afadigam a piorar o que, por ser bom, contrasta.
    E assim temos, mais uma vez, o PS a ser PS: A competência não é incentivada através da sua disseminação pelos cargos de chefia em substituição da massa intelectualmente morta que os ocupa, mas pelo contrário é arrumada num canto, para que não fique exposta a dimensão do câncro que arrasta Portugal para o fundo.
    Sem surpresa, vindo daquele-que-não-remodela-o-Cabrita.
    Obrigado, António Costa. Temos homem! Daqui envio um imenso Bem Haja. O povo saberá agradecer.

  2. O vice-almirante Gouveia e Melo não merecia isto!
    Inadmissível!
    Só compreensível por pura inaptidão para os cargos dos denominados “ministro da defesa” e “primeiro-ministro”.
    Será já o efeito do resultado das autárquicas?
    Como o denominado “primeiro-ministro” já não sabe ou esgotaram-se-lhe as artimanhas, é resta-nos o presidente da república.

  3. Quem anunciou a exoneração foi a comunicação social; não o governo – que obviamente nem o poderia fazer ser consultar o PR.
    Relativamente às alterações da “Lei Militar” foi muito bem alterada para diminuir o número de tachos de oficiais superiores – que ainda são demais!…

  4. “numa área extraordinariamente sensível como é a Defesa”

    Quer isto dizer que não temos forças armadas ainda adaptadas au ‘Fait Accompi’ de eles apenas servirem para garantir a Independência e a Democracia

    Ou seja, é um tipo de Taliban e que todos os homens devem vestir burcas, se eles assim se dão na pinha

  5. Se o deixassem este Kosta além de 1.º ministro fazia de presidente da república e o mais que aparecesse.
    Se não tivesse acontecido o 25 de abril teríamos hoje um brilhante Salazar.

  6. Ser Ministro da Defesa exige conhecimento da psicologia e funcionamento da instituição militar. Exige por isso alguém que tenha feito o serviço militar, de preferência durante a Guerra do Ultramar. Paisanos não servem, sobretudo paisanos com complexos anti-militares. Os dois mais recentes ministros da Defesa mostram as consequências de se ignorar esta realidade.

    • O Paulinho das Feiras andou nos escuteiros e depois pediu equivalência a “paraquedista”!…

      Tendo a concordar (a parte de ter servido durante a Guerra Colonial parece-me irrelevante, até porque teria que ser alguém com idade algo avançada e sujeito a desafios completamente diferentes dos desses tempos), mas até acho que este ministro da Defesa (não sei se ele foi militar) até parece ser minimamente competente.

  7. Uma grande barracada quanto a mim preconizada pelo chefe Costa metendo o ministro da defesa à bulha e desrespeitando por completo o Chefe Supremo das Forças Armadas que é o senhor P.R. O 1º ministro começa a dar sinais de desorientação agora mais acentuada com o resultado destas eleições que, na prática, foram um aviso à navegação!

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.