Marcelo arrasou Costa e Galamba, (quase) todos arrasam Marcelo

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Fernando Veludo, André Kosters, Hugo Delgado / Lusa

Num discurso no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa criticou a decisão de António Costa de manter no governo o ministro João Galamba, mas não deseja usar os poderes que a Constituição lhe confere para interromper a governação. PSD aplaude, o resto da oposição arrasa o presidente.

O Presidente anunciou no seu discurso desta noite que “tira consequências dos acontecimentos envolvendo João Galamba”, mas não vai dissolver o Parlamento.

À direita, o PSD não tem dúvidas: revê-se na leitura do Presidente, e a culpa de instabilidade será do Governo. A Iniciativa Liberal salienta que Marcelo apresentou uma visão do futuro contraditória com a avaliação arrasadora que fez de Costa.

O Chega diz que faltou coragem política ao chefe de estado, o CDS considera que o Parlamento deveria ter sido dissolvido.

À esquerda, o PCP não quer falar de Galamba e pede ao presidente e ao governo que se concentrem nos problemas que preocupam os portugueses.

O Partido Socialista está em silêncio. No comments.

De quem é a culpa da instabilidade?

O secretário-geral do PSD afirmou hoje que o partido se revê na leitura feita pelo Presidente da República da situação política, respeita as conclusões do chefe de Estado e avisa que a culpa da instabilidade será do Governo.

“É muito importante que os portugueses saibam que, se o calendário eleitoral vier a ser antecipado em Portugal, ou seja, se as eleições vierem a ser antecipadas e se houver instabilidade política, deve-se única e exclusivamente ao primeiro-ministro e ao Governo”, acusou Hugo Soares.

“Entre aquela que foi a leitura do primeiro-ministro e aquela que é a leitura do Presidente da República sobre a situação política em Portugal, o PSD não tem dúvidas: revê-se na leitura do Presidente da República”, afirmou.

“No PSD respeitamos as conclusões a que o senhor Presidente da República chegou e dizemos que é necessário de facto um reforço da vigilância sobre este Governo”, defendeu.

O secretário-geral do PSD lembrou que João Galamba já tinha “apresentado todas as razões” para deixar o Governo. “Está sempre a tempo de sair do Governo, mas aparentemente o primeiro-ministro continua a não querer”, disse.

Marcelo amarrado ao governo

A Iniciativa Liberal defendeu que o Presidente da República “amarrou a avaliação do seu mandato” aos próximos meses de governação do primeiro-ministro, considerando que os dois são agora corresponsáveis pelo que acontecer “nos próximos tempos”.

“O primeiro-ministro amarrou o seu destino político a João Galamba, o Presidente da República amarrou a avaliação deste seu mandato aos próximos tempos de governação de António Costa”, defendeu o presidente da IL, Rui Rocha, no parlamento, em reação à comunicação ao país de Marcelo Rebelo de Sousa.

A partir de agora, continuou, “são ambos – Presidente da República e primeiro-ministro – corresponsáveis por tudo o que vier a acontecer nos próximos tempos do ponto de vista da solução governativa”.

O líder liberal afirmou que o chefe de Estado português fez uma avaliação da governação de Costa “absolutamente arrasadora”, tendo colocado em causa “a credibilidade, a autoridade, a respeitabilidade da solução governativa”.

No entanto, sinalizou, “a visão de futuro que o senhor Presidente da República apresenta é completamente contraditória com o diagnóstico e avaliação arrasadora que fez do Governo”, discordando da decisão de Marcelo e considerando que se devia “devolver aos portugueses a possibilidade de decidirem o seu futuro”.

Em democracia há sempre alternativas“, concluiu.

Os problemas da população

O PCP pediu hoje ao Presidente da República e ao Governo que se concentrem na resolução dos problemas da população e considerou “lamentável toda a sucessão de casos” que tem envolvido o executivo.

Em declarações aos jornalistas, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, apelou a que, numa altura em que, “no plano económico e social, se avolumam problemas” e se assiste a “um conjunto de episódios lamentáveis que envolvem membros do Governo, não se desviem as atenções daquilo que é central e crucial”.

“Aquilo que os trabalhadores, os reformados, o povo reclama são respostas para os problemas com os quais estão confrontados: os salários e as pensões não chegam até ao fim do mês, há dificuldades na habitação, no acesso à saúde, para colocar comida todos os dias na mesa”, disse.

Paula Santos defendeu que o Presidente da República e o Governo devem estar “concentrados na resposta a estes problemas”, pedindo que “não se aproveitem os problemas para evitar as soluções que são necessárias”.

A líder parlamentar do PCP acrescentou que, “há pouco mais de um ano”, a Assembleia da República foi dissolvida “de forma tempestiva”, tendo surgido um Governo de maioria absoluta das eleições legislativas.

“Não há nada que impeça o atual Governo de dar resposta a estes problemas. A questão central neste momento é encontrar soluções, avançar com as soluções para resolver os problemas na vida das pessoas”, disse.

Questionada se o PCP desvaloriza assim o episódio que envolveu o Governo, Paula Santos afirmou que o seu partido nunca disse isso.

“Nós consideramos que a situação é muito grave e que efetivamente tem sido lamentável toda a sucessão de casos que tem vindo a público e que envolvem elementos do Governo. Queremos é colocar em cima da mesa as questões que são fundamentais para dar resposta aos problemas”, vincou.

Parlamento deveria ter sido dissolvido

O CDS-PP reagiu às declarações do presidente através de um comunicado enviado às redações, no qual afirma que concorda com a análise do chefe de estado sobre o fracasso da governação do PS, mas discorda frontalmente das conclusões retiradas a propósito da grave crise que Portugal atravessa”, avança o partido.

Na nota, assinada pelo presidente Nuno Melo, o partido considera que “manter-se o actual quadro político perpetua um Governo diminuído e fragiliza o papel do Presidente da República”.

“No CDS não nos habituamos aos casos, aos escândalos, ao nepotismo, à ausência de estatura e sentido de Estado de governantes socialistas”, lê-se no comunicado.

O Parlamento deveria ter sido dissolvido e a palavra devolvida aos eleitores, para que se pudesse ultrapassar uma crise política gravíssima. O país precisa de um novo ciclo político que dê esperança aos portugueses”, conclui o presidente do CDS.

Como é a vida das pessoas?

Após o discurso do presidente, Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, defendeu que “há um óbvio problema de credibilidade quando o primeiro-ministro opta por manter em funções ministros que mentem e que são absolvidos e amnistiados pelo primeiro-ministro”.

O Presidente está “enredado numa maioria absoluta arrogante e prepotente que não leva o país a sério”, disse a deputada, que não confia “nem no Governo nem no Presidente da República para apresentar soluções ao país”.

Numa referência à fiscalização do governo, que no seu discurso Marcelo prometeu fazer, Mariana Mortágua assegura que o país pode “contar sempre com a fiscalização séria do Bloco de Esquerda” e que devemos confiar nas “mobilizações populares” — uma vez que só elas “desafiam a maioria absoluta”.

É preciso, conclui a deputada, ir além da “questão palaciana de jogos de poder entre primeiro-ministro e Presidente e da República, e colocar o foco no que interessa: como é a vida das pessoas amanhã?”.

Faltou coragem política

O líder parlamentar do Chega considerou o Presidente da República deveria ter tido a “coragem política” para dissolver o parlamento e convocar eleições, defendendo que o Governo está “em farrapos” e o país “precisa de estabilidade”.

Pedro Pinto afirmou que o Governo está “em farrapos, partido aos bocados”, e “não dá credibilidade ao país” e que “este não é um Governo estável”, contrapondo que “Portugal precisa de estabilidade, mas a estabilidade tem de vir com eleições“.

“Achamos que o Presidente devia ter ido mais além, devia ter terminado hoje mesmo com este Governo porque falou em estabilidade, mas que estabilidade é que têm os portugueses quando estão com dificuldades todos os dias de meter a comida na mesa, de pagar a renda de casa, de pagar o seu carro?”, questionou.

Pedro Pinto disse que “não é surpresa” que o Presidente não tenha dissolvido a Assembleia, apesar de considerar que “devia ter dado esse passo, devia ter essa coragem política. Porque às vezes os Presidentes da República têm que ter coragem para fazer isso. Faltou-lhe essa coragem hoje“, lamentou.

O Presidente deixou um “recado muito claro, de que vai estar atento aquilo que vai fazer o Governo”, mas já disse isso antes “noutras situações”, acrescentou. “O que é certo é que Marcelo Rebelo de Sousa confiou em alguém que não é confiável, que é o primeiro-ministro, António Costa”, disse o deputado do Chega.

Para Pedro Pinto, o chefe de Estado “arrasou completamente” o ministro das Infraestruturas, João Galamba. “É um ministro que está acabado, ele já estava acabado, já estava a prazo, e hoje teve o seu ponto final, teve o seu epílogo com estas declarações do Presidente da República”, referiu.

ZAP // Lusa

10 Comments

  1. Mais uma vez Marcelo a mostrar que é cúmplice do governo e dos grandes lobbys e casos de corrupção que reinam em Portugal.

  2. Desta vez não houve surpresa. Marcelo mostrou o cartão amarelo ao Governo e deixou a este a responsabilidade pela porcaria que ainda estará (?) por vir. Se e quando o PR se fartar de Costa (não será antes da venda da TAP e das conclusões da CPI, creio), manda a chuva dissolvente. A demissão ou dissolução imediata não seria nem responsável nem favorável ao próprio Marcelo.

  3. Recordo que o Costa é o espertalhão que PERDEU as eleições, e mesmo assim conseguiu ser PM através de esquemas de bastidores de virar o estomago. Ou seja, nas eleições o povo deu-lhe o cartão vermelho e ele deu-nos o dedo do meio. Cada vez há menos diferença entre o Costa e o Socrates… são todos “bons” rapazes.

  4. BRIGA DE COMPADRES – piadas, elogios , “chega-prá- cá , “chega – prá – lá ” , mas por detrás de tudo isso , as desavenças são de brincadeiras – ” farinha do mesmo saco” ; seriedade : ” só conversa p’rá boi dormir ” O Povo que se dane-se ,, no mais aguardem as próximas eleições com outra camada de corruptos e salafrários. É o que pensa , joaoluizgondimaguiargondim – jlg21.com@gmailcom

  5. Brincar com os portugueses é a única coisa que o Costa e os galambas sabem fazer…chega de tanta incompetência e desrespeito para Com o país e a vida dificil do Cidadão… não prestam, vão-se embora não é positivo continuar nesta choldra de governo…

  6. Agradar a gregos e troianos é tão difícil como com os lusitanos … desde o tempo dos romanos! Sobressai sim o sentido não do Governo, mas sim da sua hipocrisia bem como a da maioria dos deputados egocêntricos e interesseiros defendendo o seu “umbigo” os partidos e interesses pessoais esquecendo as pessoas, os seus problemas… toda a Sociedade que para sobreviver se enreda na corrupção e em esquemas ilícitos …

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