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“Ela é que mandava”. Sandro acusa Márcia da morte de Valentina, mas a madrasta nega

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Paulo Cunha / Lusa

Inspectores da Polícia Judiciária acompanham o pai (D) de Valentina Fonseca, a menina de 9 anos que foi encontrada morta numa zona de mato.

O pai e a madrasta de Valentina, a menina que morreu em Maio de 2020, em Peniche, com apenas 9 anos de idade e sinais de agressões, acusaram-se mutuamente na primeira sessão do julgamento do caso no Tribunal de Leiria.

Os dois arguidos, Sandro e Márcia, pai e madrasta da criança, respectivamente, estão acusados pelo Ministério Público (MP) de Leiria dos crimes de homicídio qualificado, de profanação de cadáver, de abuso e simulação de sinais de perigo.

O pai da menina está ainda acusado de um crime de violência doméstica.

Sandro diz que Márcia deu “murros” a Valentina

Perante o colectivo de juízes, Sandro negou ter sido ele a colocar a menina na banheira e a mandar-lhe água a ferver para cima.

Estava a dormir e acordei com os gritos da Valentina. Fui à casa de banho e vi a menina inanimada e a desfalecer. Tirei-a e levei-a para a cozinha, colocando-a por baixo de uma claraboia para apanhar ar”, contou, atribuindo, assim, a Márcia a culpa pelas lesões mais graves que terão levado à morte de Valentina.

O pai referiu ainda que bateu apenas por uma ocasião à menina, quando a confrontou com os alegados contactos sexuais que lhe tinham contado.

“Dei-lhe umas palmadas no rabo”, disse. No entanto, garantiu que não voltou a bater na filha e acusou a mulher de ter “dado murros” e “apertado o pescoço” à criança.

O arguido disse ainda que não pediu ajuda “por respeito” à mulher, alegando que era ela que “mandava lá em casa”. Perante estas declarações, Márcia foi abanando a cabeça.

“Ela começou a dizer coisas e a encher-me a cabeça“, acrescentou ainda Sandro.

Após se ter apercebido da morte da filha, Sandro alegou que foi ele a escolher o local onde esconderam o cadáver da menina, mas que a ideia de simular o desaparecimento foi de Márcia.

“Nunca pensei que ela morresse”, disse ainda, notando que acabou por confessar à polícia onde tinha escondido o corpo por “não aguentar mais” a “pressão”.

Márcia diz que Sandro “bateu muitas vezes e com força”

No seu testemunho, por vezes emocionado e com as lágrimas a correrem-lhe pela face, a madrasta acusou o pai de ter sido o autor de todas as agressões que levaram à morte da criança.

“Ele confrontou a menina [com os alegados contactos sexuais] e ela confirmou. Bateu-lhe e eu disse para parar porque não era assim que se resolviam as coisas. A menina era pequena e tínhamos de lhe explicar. Mandou-me calar e disse que a filha era dele“, relatou Márcia.

Segundo o seu testemunho, o arguido “bateu muitas vezes e com muita força” na criança.

A mulher disse ainda que foi o pai quem levou a menina para a banheira e quem lhe apontou o chuveiro para os pés com água a ferver.

“Estava a dar o leite à minha bebé e tentei impedi-lo várias vezes, mas ele empurrava-me. Tentei sempre proteger a Valentina e ele insistia que ele é que era o pai e que tinha de lhe dar educação”, acrescentou.

Quando viu a menina a “desfalecer”, Márcia diz que fechou a torneira e que avisou que tinham de a retirar da banheira. “Estava com os olhos abertos, mas não respondia”, contou.

Quando o seu filho mais velho se deparou com a situação, a arguida afirmou ter sido o companheiro a mandá-lo para o quarto, “se quisesse continuar a ver as irmãs e a mãe”.

Márcia afirmou também que não pediu ajuda “por medo”, porque Sandro a ameaçou e aos filhos.

Quando o casal se ausentou para ir à farmácia, a arguida disse que foi o filho quem ligou para Sandro a alertar que Valentina estava a “espumar da boca”.

“Insisti sempre para pedir ajuda e dizer que tinha sido um acidente, mas ele só dizia que não queria ir preso e que não ia deixar de ver as filhas”, reforçou Márcia.

A mulher admitiu que conduziu o carro até ao pinhal para esconderem o corpo e combinaram no dia seguinte alertar as autoridades do desaparecimento da criança.

Pai e madrasta deixaram Valentina “a agonizar”

De acordo com a acusação, no dia 1 de Maio, Sandro, de 33 anos, confrontou a filha, Valentina, com o facto de ter tido “conhecimento que a mesma tinha mantido contactos de cariz sexual com colegas da escola“.

Na presença da companheira, de 39 anos, o pai ameaçou a filha com uma colher de pau que depois terá usado para lhe bater.

Já inanimada, depois das agressões, a criança permaneceu deitada no sofá, sem que os arguidos pedissem socorro, adianta o Ministério Público (MP).

Para o MP, pai e madrasta deixaram Valentina “a agonizar, na presença dos outros menores, indiferentes ao sofrimento intenso da mesma”, não havendo dúvidas de que Márcia colaborou na actuação de Sandro sem promover o socorro à menor ou impedindo as agressões.

ZAP // Lusa

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8 Comments

  1. Esta criança foi morta pelas mãos do pai e da madrasta. (Ponto final) onde estão os direitos das crianças, onde estão os idiotas das nossas instituições que defendem as crianças?? Fechados em gabinetes com bons salários, regalias e afins…quando acontece estes casos aparecem na tv chocados com a noticia..(ignorantes) quase sempre sabem destas situações( casos assinalados por eles) mas nada fazem para que não aconteçam, depois veem os politicos alterar as leis…a pena de morte por alguma razão foi criada( ja sei que muitos vão criticar, e a miuda??? Alguem a defendeu, alguem a ajudou??) pena de morte…nada de penas de 25 anos que passados uns a aninhos se transformam num maximo de 10!!! Sim porque estes psicopatas depois teem “bom comportamento na prisão! Devíamos parar para pensar reflectir e mudar….”onde quer que esteja que descanse em paz”

  2. Isto ultrapassa tudo o que é de aceitável num ser humano e logo dois e nenhum deles teve o discernimento para ver que aquilo iria dar desgraça e que o próprio futuro deles estaria ameaçado. Até me transtorna ler ou ouvir tal notícia e só lamento como num país que pretende pertencer ao grupo dos civilizados se protege tanto o criminoso. Por cá pode-se assassinar várias centenas de pessoas e a pena máxima será sempre 25 anos, simplesmente incrível, tal como este caso contra uma criança indefesa e filha de um deles.

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