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Paz, pão, habitação, saúde, educação: nada se safa, amigo Sérgio

Letra de Liberdade foi escrita há décadas mas, infelizmente, aplica-se em 2023. Palavra após palavra.

Liberdade é uma das canções mais conhecidas de Sérgio Godinho. Pelo menos, é uma das mais cantaroladas. Ainda hoje.

Ou melhor, sobretudo hoje.

O poema, tal como a melodia obviamente, foi criado há praticamente 50 anos. 1974. Sim, é do ano do 25 de Abril. Aliás, foi escrito na sequência da revolução.

É a faixa de abertura do disco À Queima-Roupa, provavelmente o álbum mais político do cantautor portuense de 78 anos, que neste trabalho discográfico incluiu outras músicas como Os pontos nos Iis, Independência ou Etelvina.

E por falar em política…

Meio século depois do lançamento de Liberdade, em 2023, é fácil citar os versos mais conhecidos desse poema (que também não são muitos):

“A paz, o pão, habitação
Saúde, educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
Quando pertencer ao povo o que o povo produzir
E quando pertencer ao povo o que o povo produzir”

Vamo-nos focar nos dois primeiros versos: paz, pão, habitação, saúde e educação.

Paz: Ucrânia? Gaza? Somália? Síria? Birmânia? Moçambique? Poderia prolongar a lista.

Pão: está mais caro do que nunca, ao longo do último ano e meio. O pão e muitos outros alimentos, pois.

Habitação: é apontado constantemente como um dos grandes problemas do país. Ou mesmo o grande problema em Portugal. Há uma crise generalizada de acesso à habitação, é difícil encontrar casa, é difícil ter uma renda a preços acessíveis, é difícil pagar ao banco o empréstimo… E o cenário não promete ser melhor em breve.

Saúde: bem, este é o assunto do dia. Num país “desenvolvido” uma pessoa passa horas à espera de ser atendida nas urgências, uma grávida chega às 40 semanas e, no dia do parto, não sabe onde vai dar à luz. É um caos no Serviço Nacional de Saúde, com urgências condicionadas nos próximos dias em quase todo o país.

Educação: a outra “guerra”, esta só nossa. Os professores apresentam as suas reivindicações há anos mas nada se resolve; o Governo não quer abrir excepções. As greves acumulam-se, há alunos sem aulas, há pais cansados, há professores cansados e desesperados. E há docentes a dizerem aos mais novos para não fazerem o que eles fizeram – ser professor.

Paz, pão, habitação, saúde e educação… Nada se safa, amigo Sérgio.

Só ainda não nos tiraram a liberdade.

Ah, este artigo foi planeado antes do anúncio da demissão de António Costa – mas nada altera o seu conteúdo.

Até porque tudo isto não surgiu só agora…

“Viemos com o peso do passado e da sementeEsperar tantos anos torna tudo mais urgente”

Oh, não convém falar em urgências.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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