Uma combinação letal no país africano: guerra, seca e inflação. Quase 4 milhões já saíram de casa – mas encontram terroristas pelo caminho.
Guerra na Ucrânia, mais recentemente sismos na Turquia e na Síria.
As notícias sobre o mundo centram-se nestes dois assuntos, ao longo desta semana.
Ambos justificam tantos artigos e tantas reportagens – mas há outro caso urgente, e extremamente preocupante, que está quase a passar ao lado dos noticiários: a Somália.
Talvez por ficar “lá longe”, no Corno de África, talvez por já nos termos habituados a algo que não deveria ser hábito: ver imagens de miséria e guerra naquela região. Como se fizesse parte da paisagem – mas não deveria fazer. E porque a Somália não é o centro económico-financeiro-político de nada.
Encontrar uma fotografia recente da população da Somália, para ilustrar este artigo, foi mais complicado do que o habitual.
Há uma combinação letal que está a matar naquele país africano: guerra, seca e inflação.
Nesta quarta-feira a Organização das Nações Unidas (ONU) deixou um apelo para ajudar cerca de 7.6 milhões de somalis – ou seja, quase metade da população total do país – e vai precisar de 2.4 mil milhões de euros.
Ao todo, serão mais de 8 milhões de pessoas que precisam de auxílio humanitário e de protecção imediata.
É preciso ajuda imediata de países mais ricos; e ali a “poucos” quilómetros estão nações como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
A ONU acredita que, a partir de Abril, se não chegar a ajuda suficiente e se não voltar a chover (após a quinta estação chuvosa fraca), milhões de pessoas vão passar fome. Há milhões de vidas em risco.
Esta é considerada a seca mais severa no Corno de África ao longo dos últimos 40 anos. E não é um desastre natural: é uma consequência das alterações climáticas, segundo diversos cientistas.
As colheitas e os animais desapareceram – a ONU estima que pelo menos 3.5 milhões de cabeças de gado morreram.
Há previsão de catástrofe alimentar para 727 mil somalis, num contexto que, reforça o Governo local, a Somália “paga o preço por uma emergência climática que fez muito pouco para criar”.
Seca + guerra
No dia anterior, terça-feira, a mesma ONU tinha pedido uma investigação independente, eficaz e imparcial por parte das autoridades somalis, por causa dos confrontos mortais que começaram no domingo passado.
Pelo menos 20 pessoas já terão morrido, incluindo crianças. Mais de 100 somalis ficaram feridos.
Os confrontos têm surgido entre a polícia local e membros de um clã, em Laas Canood.
Mas, na verdade, as cenas de guerra na Somália prolongam-se. Há cerca de 30 anos que há conflitos no país.
É o Jihadismo que empurra famílias para campos de deslocados, avisa o El País, que retrata o “drama” vivido na Somália.
O extremismo islâmico está a encher cabanas com crianças. Quase 4 milhões de somalis já terão abandonado a casa onde viviam – mas no caminho para os campos de deslocados encontram jihadistas (Al Shabab, com ligação à Al Qaeda) que roubam, sequestram e matam; passam fome e enfrentam altas temperaturas.
A completar a “tripla mortal”, a inflação: primeiro a COVID-19, depois a guerra na Ucrânia – tudo contribuiu para um cenário de alarme na Somália, onde falta água e comida para milhões de pessoas.
Ainda não está declarada situação de fome, por parte dos organismos internacionais. “Mas o sofrimento da população é imenso: morrer de fome dispensa explicações”, alerta o jornal espanhol.
Também não aparece nas noticias o bloqueio de ajuda humanitária à Síria por parte do Ocidente … também não aparece a guerra no Iémen …