Rota marítima liga a ilha de Chipre, no leste do Mediterrâneo, à Faixa de Gaza. Israel deu o “OK” preliminar à passagem humanitária no mesmo dia em que disparou contra um comboio de ajuda da UNRWA.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita anunciou esta quinta-feira ter concordado, “em princípio”, com a abertura de um corredor marítimo humanitário entre a ilha de Chipre, no leste do Mediterrâneo, e a Faixa de Gaza.
“Em princípio, existe uma autorização para utilizar esta rota [marítima], mas ainda há alguns problemas práticos a resolver“, declarou à agência noticiosa France-Presse (AFP) o porta-voz do ministério israelita, Lior Haiat.
O projeto deverá contribuir para aumentar significativamente a ajuda humanitária aos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, cujos contentores europeus e de outros destinos serão descarregados em Chipre “sob a supervisão israelita”, sublinhou.
A proposta foi apresentada há várias semanas por Chipre — que fica a 400 quilómetros da costa da Faixa de Gaza — após o início da guerra, a 7 de outubro, entre Israel e o Hamas, o movimento islamita palestiniano no poder na Faixa.
Citadas pela agência noticiosa CNA, fontes oficiais cipriotas afirmaram que Nicósia tinha concluído todos os procedimentos para a criação do corredor marítimo. No entanto, foram levantadas questões sobre a segurança dos navios e respetivas tripulações à medida que se aproximam da costa de Gaza, bem como sobre as modalidades de descarga.
Ao apresentar o plano, Chipre, membro da União Europeia (UE), explicou que a ajuda seria recolhida e depois armazenada na ilha, e ali inspecionada por um comité misto, que incluiria representantes israelitas antes de ser transportada por navio.
Israel dispara contra comboio de ajuda
Este “OK” preliminar de Israel acontece um dia antes da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) acusar o exército israelita de ter disparado contra um dos seus comboios de ajuda na Faixa de Gaza, num ataque sem vítimas que terá tido lugar esta quinta-feira.
“Os soldados israelitas dispararam contra um comboio de ajuda humanitária quando este regressava do norte de Gaza, utilizando uma rota designada pelo exército israelita“, disse o diretor da UNRWA em Gaza, Thomas White, nas redes sociais.
Segundo White, o chefe da caravana internacional e a equipa não ficaram feridos, mas um veículo ficou danificado.
“Os trabalhadores humanitários nunca devem ser um alvo”, acrescentou, citado pela agência francesa AFP. Questionado pela agência de notícias francesa, o exército israelita disse que estava a verificar a informação.
O chefe das operações humanitárias da ONU, Martin Griffiths, também criticou duramente as condições em que a ajuda está a ser entregue em Gaza.
“Comboios são alvo de fogo. Atrasos nos pontos de passagem“, escreveu nas redes sociais.
Griffiths condenou o facto de os trabalhadores humanitários estarem “eles próprios a ser deslocados e mortos”. Denunciou também que a população traumatizada e exausta estava amontoada num “pedaço de terra cada vez mais pequeno”.
“Três níveis de inspeções antes de os camiões poderem entrar. Confusão e longas filas de espera. Uma lista cada vez mais longa de produtos rejeitados”, lamentou.
Griffiths afirmou que “a situação é impossível para a população de Gaza e para aqueles que a ajudam”.
85% da população de Gaza expulsa de casa
Desde o início das operações militares israelitas, já foram mortas em Gaza 21.320 pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
A situação humanitária em Gaza é desastrosa, frisa a AFP.
Cerca de 1,9 milhões de pessoas — ou seja, 85% da população — foram expulsas das suas casas, segundo a ONU. Os bens de primeira necessidade são extremamente escassos no território, que se encontra sob cerco total de Israel desde 09 de outubro.
Até à data, muito pouca ajuda humanitária foi entregue por terra através da passagem de Rafah entre a Faixa de Gaza e o Egito, fronteira que estava encerrada desde o início dos bombardeamentos israelitas ao território.
No primeiro dia de abertura dos portões de Rafah, o vice-diretor do gabinete do OCHA nos territórios palestiniano, Andrea De Domenico, indicou à agência EFE que a ajuda não iria ser suficiente para os palestinianos que se encontram em Gaza.
ZAP // Lusa
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