Farooq Khan / EPA

Forças de segurança indianas patrulham uma estrada em Pampore, nos arredores de Srinagar, Índia.
Paquistão diz ter abatido 5 caças indianos. Já morreram 34 civis dos dois lados. O pior pode estar por vir na única junção nuclear tripla do mundo.
O sul asiático está cada vez mais perto de se tornar palco de uma guerra entre duas potências nucleares.
Esta terça-feira, a Índia lançou ataques aéreos contra alvos no Paquistão e na Caxemira paquistanesa. O Paquistão retaliou com fogo na fronteira, e a comunidade internacional — como os EUA, Reino Unido e China — já começaram a apelar à contenção.
Esta é a pior escalada militar entre os dois países em mais de 20 anos e o pior pode ainda estar por vir: as duas regiões têm na sua posse armas nucleares, além de parte do nordeste da Caxemira ser administrado pela potência nuclear China. O Paquistão terá cerca de 170 armas nucleares, enquanto a Índia vem logo atrás, com cerca de 160.
Nova Deli afirma ter atingido nove infraestruturas “terroristas” — centros de recrutamento e locais de doutrinação e treino — ligadas aos grupos Jaish-e-Mohammed e Lashkar-e-Taiba, acusados pela Índia de operar sob proteção do Estado paquistanês e de terem protagonizado o ataque terrorista que matou 26 turistas hindus em abril que desencadeou a escalada de tensão que se vive atualmente.
As forças indianas garantem ter utilizado armamento de precisão para minimizar danos em civis, mas Islamabade, por sua vez, afirma que os atingidos eram civis e garante ter abatido 5 aviões indianos, algo que a Índia ainda não confirmou — embora fontes governamentais na Caxemira indiana tenham dito à Reuters que três aviões caíram durante a noite em zonas da região montanhosa e que os pilotos estão hospitalizados.
Intensos bombardeamentos e trocas de tiros também foram registados ao longo da Linha de Controlo na Caxemira, algo que já vinha a acontecer nos últimos dias.
Na manhã desta quarta-feira, a troca de bombardeamentos entre os dois países já tinha provocado a morte de 34 civis, entre os quais 26 paquistaneses — na sequência dos mísseis que terão atingido seis locais civis na província de Punjab e na Caxemira paquistanesa — e oito indianos, bem como várias dezenas de feridos.
Índia vai “cortar a água”
O pior temia-se no Paquistão, e vai mesmo acontecer: a Índia vai “cortar a água” dos rios que correm do seu território para o Paquistão.
“A água pertencente à Índia costumava fluir para o exterior, mas agora será cortada para servir os interesses da Índia e será utilizada para o país”, declarou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi num discurso público.
A ameaça já tinha sido feita em 2019, também durante uma escalada de tensão: o Paquistão depende da água do sistema do rio Indo, que atravessa a Índia, para cerca de 90% de sua agricultura.
O governo paquistanês já tinha dito no final do mês passado que um colapso do tratado das águas do Indo é “um ato de guerra”, e garantiu que responderá se os rios forem bloqueados ou desviados.
O Paquistão já notou esta terça-feira alterações no caudal do rio Chenab, um dos três rios sob o controlo de Islamabad ao abrigo do tratado de 1960.
“Notámos alterações no Chenab que nada têm de natural (…) o caudal do rio, que é normal, foi consideravelmente reduzido de um dia para o outro”, disse o ministro da Irrigação do Punjab, Kazim Pirzada.
O ataque que abriu feridas antigas e “direito de resposta” indiana
A Índia partiu com a nova ofensiva, batizada de “Operação Sindoor” — referência ao termo hindu que remete ao pó vermelho usado por mulheres casadas — sob o pretexto de ação preventiva: o secretário dos Negócios Estrangeiros da Índia, Vikram Misri, disse ter informações de inteligência que indicavam a “iminência” de novos ataques em solo indiano.
A ofensiva surge também devido à demora do Paquistão na resposta ao atentado recente que vitimou os 26 turistas hindus na Caxemira indiana.
“Apesar de terem passado duas semanas desde os ataques, não há provas de que o Paquistão tenha tomado medidas contra as infraestruturas terroristas no seu território ou sob o seu controlo”, afirmou Misri aos jornalistas em conferência de imprensa.
O ataque, o maior contra civis na região em 25 anos, aumentou as tensões entre os rivais de longa data. No final de abril, o governo paquistanês disse ter “informações credíveis” de que a Índia planeava um ataque militar “nas próximas 24 a 36 horas” e prometeu uma “resposta decisiva” ao mesmo.
A Caxemira é disputada na fronteira há vários anos entre os dois países. Desde a independência do Raj britânico em 1947, Índia e Paquistão já se confrontaram em três guerras, duas das quais por causa da Caxemira, maioritariamente muçulmana e dividida entre os dois Estados, mas reivindicada por ambos na totalidade.
Mundo pede diálogo
O presidente dos EUA Donald Trump já veio pedir um “fim muito rápido” dos ataques entre os dois países. “Eles lutam há muitas décadas… séculos, na verdade, se pensarmos bem. Só espero que isto pare muito rapidamente”, disse o chefe de Estado norte-americano.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou à máxima contenção por ambas as partes.
Os Estados Unidos, a China e a Rússia reforçaram o mesmo apelo, instando à abertura de canais diplomáticos e à evitação de uma escalada.
Uma equipa de observadores das Nações Unidas foi enviada para a Caxemira paquistanesa para apurar os danos provocados pelos bombardeamentos.
As bolsas de valores da Índia e do Paquistão registaram quedas a pique na abertura, embora tenham recuperado ligeiramente ao longo do dia.
O valor da rupia indiana desceu e várias companhias aéreas, como a IndiGo, Air India e Qatar Airways, cancelaram voos devido ao encerramento de aeroportos e do espaço aéreo em zonas de risco.
Os dois países estão em guerra?
Os ataques de 2019 em Pulwama já tinham originado bombardeamentos aéreos sobre território paquistanês, mas desta vez a gravidade é outra, segundo os analistas.
“Dada a escala da greve indiana, que foi muito maior do que a que vimos em 2019, podemos esperar uma resposta considerável do Paquistão“, diz o analista do Foreign Policy e especialista em assuntos do Sul Asiático, Michael Kugelman.
“Tivemos um ataque e um contra-ataque, e o que vier a seguir será a indicação mais forte de quão grave esta crise pode tornar-se”, explica o analista.
O ministro da Defesa do Paquistão disse à Bloomberg que “enquanto estivermos sob ataque temos de nos defender”, mas Khawaja Asif também sublinhou que o Paquistão estaria disposto a “acabar com esta tensão” se a Índia recuasse.
A Índia é o país mais populoso do mundo, com 1,4 mil milhões de habitantes, e o Paquistão conta com 240 milhões de habitantes.
De acordo com um estudo de 2019, uma guerra nuclear entre Índia e Paquistão poderia matar 100 milhões de pessoas e provocar o arrefecimento global do planeta. Um outro estudo, de 2016, apontava a falta de água na baía do Indo como uma causa provável (e local) da 1ª Guerra Nuclear na Terra.
E bom não esquecer por parte dos políticos da esquerda da geringonça que escancararam as nossas fronteiras, que por via disso estão cá a viver muitos indianos e paquistaneses e se isto descamba as nossas autoridades vão ter muito trabalho.
Onde está a ONU, o que faz o inapto António Guterres? Nunca está.