Morte de turistas na Índia está a abrir feridas antigas

US Central Intelligence Agency / Wikimedia Commons

Caxemira: zona verde administrada pelo Paquistão, zona laranja pela Índia e zona castanha pela China

Um ataque a turistas em Caxemira foi mais do que um ato isolado: foi reclamado por um grupo terrorista e reacende uma guerra já antiga entre a Índia e o Paquistão. Comércio parado, fronteiras fechadas e muita tensão nos Himalaias.

Esta terça feira, 26 turistas foram mortos por três homens que dispararam sobre os visitantes de um vale na região de Caxemira, na Índia.

Mas este ataque é mais do que um caso isolado, e está a abrir velhas feridas numa guerra de longa data entre a Índia e o Paquistão.

Em causa está a própria região do ataque: Pahalgam, no distrito montanhoso de Anantnag, em Caxemira, há muito tempo território disputado entre os dois países, que têm há várias décadas problemas fronteiriços.

O ataque aos turistas, 25 indianos e 1 nepalês, que passeavam por um vale só acessível a pé ou a cavalo, foi reivindicado pelo grupo armado Frente de Resistência (TRF) de Caxemira. Pouco se sabe sobre este movimento, explica a CNN, porque é bastante recente, criado em 2019, e até agora relativamente desconhecido.

“A TRF posiciona-se como uma força de resistência política, nascida na Caxemira e pela Caxemira, contra as forças de ocupação ilegais, sem nenhuma figura ou liderança jihadista centralizada”, descreve o grupo de reflexão indiano Observer Research Foundation.

A Índia já classificou a TRF como uma organização terrorista e ligou-a ao grupo islâmico terrorista Lashkar-e-Tayyiba, que também protagonizou ataques mortais no país.

O governo de Caxemira já sinalizou três suspeitos do ataque — dois deles são paquistaneses. Testemunhas do ataque contam que os atacantes acusaram as vítimas de apoiar o primeiro-ministro indiano Narendra Modi antes de disparar.

Entretanto, as tensões entre os dois países escalaram: a Índia acusou o Paquistão (cujo governo nega o envolvimento no caso) de apoiar grupos terroristas na região. 

Os países pararam a emissão de vistos para cidadãos do país vizinho, e a Índia fechou uma passagem fronteiriça e suspendeu pela primeira vez a sua participação num tratado crucial de partilha de água. O Paquistão parou então todo o comércio entre os dois países.

Uma região de dúvidas

Se pesquisar “Caxemira” no Google Maps, vai encontrar uma região com fronteiras tracejadas entre a Índia e o Paquistão. Desde 2019, o primeiro-ministro indiano tem tentado manter esta zona dos Himalaias sob a sua alçada, mas o Paquistão reivindica-a. Atualmente o território está administrativamente dividido entre os dois países.

Na verdade, a maioria da população de Caxemira é muçulmana, como a maioria dos paquistaneses. Segundo a BBC, população da Caxemira histórica está dividida: cerca de 10 milhões de pessoas vivem na região de Jammu e Caxemira, administrada pela Índia, e 4,5 milhões na Caxemira administrada pelo Paquistão. A parte nordeste do território é administrada pela China.

A região tem sido, nos últimos anos, alvo de ataques terroristas que reivindicam o território, cortes nas comunicações e censura dos órgãos de comunicação — é uma das regiões mais conturbadas do subcontinente indiano.

Carolina Bastos Pereira, ZAP //

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