Enviar ou não armas para o exército ucraniano? Esta pergunta pode beneficiar partidos extremistas nas eleições regionais de domingo.
O decrescente apoio no leste da Alemanha ao fornecimento de armas à Ucrânia por Berlim poderá ser decisivo nas eleições regionais de domingo, beneficiando partidos extremistas, indicam analistas alemães.
Além dos temas da educação e da política de migrações, o recente partido “Bündnis Sarah Wagenknecht” (BSW) centra-se na questão da guerra na Ucrânia e está a ganhar muito apoio nos três estados da Alemanha de Leste com sondagens de 13 a 20%. A AfD, que, segundo as previsões, tem entre 23 e 30 por cento das intenções de voto também aborda a questão de uma forma populista.
“Ambos os partidos são contra o fornecimento de armas à Ucrânia e a favor de negociações imediatas com a Rússia. Isto transforma uma questão de política externa num tema chave de campanha a nível estatal”, afirmou Stefan Meister, do Conselho Alemão de Relações Externas (DGAP), num relatório.
Os estados regionais da Turíngia e da Saxónia, no Leste da Alemanha, vão a votos no dia 1 de setembro. A 22 de setembro é a vez de Brandeburgo escolher o seu parlamento.
“Wagenknecht sublinhou que só apoia coligações que sejam claramente a favor da ‘diplomacia e contra os preparativos para a guerra’ a nível nacional. Com estas exigências populistas, a deputada pressiona não só os partidos da coligação, mas sobretudo a CDU”, salienta Meister, diretor do Centro para a Ordem e a Governação na Europa Oriental, Rússia e Ásia Central do DGAP.
De acordo com as últimas sondagens, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) deverá vencer no estado federado da Turíngia, com 30%, a uma distância grande do segundo lugar, a União Democrata-cristã (CDU) com 24%. Na Saxónia, os resultados não parecem claros com diferentes institutos a darem vitória à AfD ou à CDU.
“Enquanto a CDU federal é claramente a favor do fornecimento de armas à Ucrânia, o líder estadual da CDU na Saxónia, Michael Kretschmer, bem como os seus homólogos do Partido da Esquerda (Die Linke) e do SPD, Bodo Ramelow na Turíngia e Dietmar Woidke em Brandeburgo, apelam a um maior empenho na paz. Isto põe em causa o papel da Alemanha como o mais importante apoiante europeu da Ucrânia”, argumenta Stefan Meister.
Para o politólogo alemão Ulrich von Alemann, uma possível coligação entre a CDU, o SPD e o BSW na Turíngia não parece possível.
“O BSW está tão afastado do SPD, mas também da CDU, porque acabou por exigir a redução do apoio à guerra defensiva ucraniana contra a Rússia, que não consigo imaginar uma verdadeira coligação”, defende, em declarações à Lusa.
Martin Kessler, editor-chefe de política do jornal Rheinische Post, recorda que muitos alemães de leste estão contra o apoio do governo federal à Ucrânia, o que pode ter um peso forte na altura de votar.
“Defendem um acordo de paz e o fim da guerra. Não querem que a Alemanha continue a enviar armas e apoie a defesa ucraniana. Aqui sente-se uma grande diferença em relação ao resto da Alemanha e dos países europeus”, acrescenta.
“Tanto o Governo Federal como a CDU devem responder proativamente e com base em factos à deturpação do BSW e do AfD no que diz respeito à guerra russa contra a Ucrânia e ao estacionamento de armas de longo alcance dos EUA na Alemanha. A coligação que forma o governo também se tornou vulnerável através da sua comunicação contraditória sobre a questão da Ucrânia, embora nem o BSW nem a AfD tenham apresentado conceitos viáveis para um cessar-fogo”, detalha escreve Stefan Meister.
Para o diretor do Centro para a Ordem e a Governação na Europa Oriental, Rússia e Ásia Central do DGAP, os partidos do governo e a CDU devem responder às preocupações da população do Leste “sem fazer falsas promessas”.
“Têm de comunicar mais claramente por que razão o apoio à Ucrânia torna possíveis as negociações de cessar-fogo”, conclui.
// Lusa