Ainda as declarações de António Costa sobre o Chega, em Bruxelas. O eurocepticismo que pouco importou em 2015.
António Costa soltou uma frase em Bruxelas que, no meio de tanta agitação política nacional, passou despercebida em muitos noticiários.
O primeiro-ministro cessante despediu-se dos compromissos europeus e deixou mensagem de tranquilidade sobre o futuro político em Portugal, garantindo que o país vai continuar alinhado com o projecto da União Europeia.
Até porque, apesar do crescimento do Chega, PS e PSD continuam a ser “largamente maioritários” na Assembleia da República, o Chega nunca foi anti-Europa.
“O próprio Chega, ao contrário do que acontece com outros partidos de extrema-direita noutros países da Europa, nunca fez uma campanha contra a UE, a explorar qualquer atitude de eurocepticismo”, comentou António Costa.
“Não vejo nada de errado. Acho é muita graça a essa frase“, começou por analisar João Miguel Tavares.
Primeiro, porque depois das eleições legislativas de 2015, o eurocepticismo pouco ou nada importou quando o próprio António Costa assinou acordos com PCP e BE, dois partidos eurocépticos.
Segundo, porque Costa é o primeiro socialista – pelo menos publicamente – a “introduzir nuances” em relação ao Chega. “O Chega continua a ser tratado como uma espécie de besta negra, toda ela má. E é a primeira vez que um socialista avisa que o Chega ainda poderia ser pior”.
O comentador político recordou na SIC que, antes do seu “não é não”, Luís Montenegro chegou a deixar a sensação de que poderia ter um acordo com o Chega, caso o partido de André Ventura se moderasse. “Mas na altura ninguém admitia sequer essa hipótese: como é possível o Chega moderar-se?”.
À direita, ninguém admitia esse cenário. Mas agora a nuance surgiu à esquerda: “Dá-me a ideia de que, em Portugal, as nuances têm de ser sempre apresentadas pela esquerda. Tal como em 1978, quando Mário Soares atribuiu a devida respeitabilidade democrática ao CDS, quando decidiu coligar-se com o CDS”.
Depois, uma sugestão ao secretário-geral do PS: “A direita tem tanto horror em ser considerada radical que ainda havemos de ver que… Deixo aqui uma ideia para Pedro Nuno Santos: se ele se coligasse com o Chega, acho que conseguiriam fazer um Governo; e têm mesmo maioria absoluta. Não percebo porque essa ideia não está em cima da mesa“.
João Miguel Tavares acha que António Costa “falou bem” e pode ter aberto uma porta para ideias futuras dos socialistas.
Ricardo Araújo Pereira acredita que André Ventura aceitaria essa coligação. Até porque o presidente do Chega “sempre disse que PS e PSD são iguaizinhos”.