Gazprom suspende fornecimento de gás à Letónia. EUA alertam para ciberataques de Rússia, China e Irão nas eleições

O consórcio russo Gazprom anunciou este sábado a suspensão imediata do fornecimento de gás à Letónia, alegando a violação das condições de abastecimento, sendo este o sexto país atingido com medida semelhante.

“Hoje a Gazprom suspendeu o fornecimento de gás à Letónia […] devido à violação das condições de abastecimento”, anunciou em comunicado, decisão que surge numa altura em que a empresa decidiu baixar as entregas de gás russo à Europa, através do gasoduto Nord Stream, alegando necessidade de manutenção das turbinas.

A Rússia já cortou o fornecimento de gás à Polónia, Bulgária, Finlândia, Dinamarca e Países Baixos.

“Putin quer espalhar informação falsa”

Os serviços de informações dos Estados Unidos (EUA) estão preocupados com a “forte probabilidade” de interferência da Rússia, China e Irão nas próximas eleições intercalares norte-americanas e especialistas acreditam no cenário de uma ação concertada, avançou este sábado a agência Lusa.

“A possibilidade de uma ação concertada entre estes três países [Rússia, China e Irão] não pode ser excluída. Sabemos, logo à partida, que partilham um interesse comum: derrotar o que consideram ser a estratégia norte-americana para manter a hegemonia de controlo herdada do século XX”, disse à Lusa Herbert Lin, investigador do ‘think tank’ Hoover Institution.

Este analista e autor do livro ‘Cyberthreats and Nuclear Weapons’ (Ciberameaças e Armas Nucleares, numa tradução literal) lembrou que, nos últimos anos, Moscovo e Pequim têm trocado entre si informações obtidas sobre os programas militares norte-americanos, em particular sobre o programa nuclear.

Herbert Lin, aliás, considera que as recentes declarações de “amizade eterna” entre os dois regimes está assente, em parte, nestes interesses comuns de procurar fragilizar a posição dos EUA em vários pontos do globo e que o Irão, nessa perspetiva, é um aliado “que não pode ser menosprezado”.

Recentemente, altos funcionários das agências de informação Federal Bureau of Investigation (FBI) e National Security Agency (NSA) revelaram estar na posse de dados que apontam para a continuidade da ameaça de interferência externa no sistema eleitoral dos EUA.

Esses agentes sublinharam que a Rússia está interessada em aproveitar as próximas eleições intercalares para o Congresso norte-americano, no final deste ano, para promover uma campanha de desinformação, com vista a obter benefícios na invasão em curso da Ucrânia.

O diretor do FBI, Christopher Wray, explicou que a Rússia não estará sozinha neste propósito de interferência no processo eleitoral, através de meios digitais, sendo também provável que o Irão e a China tenham planos para provocar danos na democracia norte-americana.

O diretor da agência britânica de informações externas MI5, Ken McCallum, tem dito publicamente, repetidas vezes, que os seus agentes mais que duplicaram o trabalho de monitorização da atividade chinesa, nos últimos três anos.

No início de julho, os diretores do FBI e do MI5 fizeram uma muito rara aparição pública conjunta, em Londres, para denunciar o aumento da ameaça que a China constitui para a segurança mundial, referindo os riscos de ações de ciberespionagem por parte da China sobre as quais persistem dúvidas de colaboração com a Rússia.

A NSA e o FBI revelaram mesmo que possuem “provas fortes” de que os atos de interferência nas eleições norte-americanas, que remontam a 2016, aquando da vitória do ex-Presidente Donald Trump, se podem repetir em futuros atos eleitorais, desde logo nas eleições intercalares, e que a Rússia não será o único ator.

Kiev atribui ataque contra prisão aos Wagner

Os serviços de inteligência da Ucrânia acusaram a empresa militar privada russa Wagner pelo ataque com mísseis a uma prisão na região separatista de Donestsk, que resultou em 40 mortos e 130 feridos entre ucranianos, avançou esta sexta-feira pelo gabinete de inteligência do Ministério da Defesa ucraniano, citado pelo Ukrinform.

Antes, segundo a agência Lusa, o comando das Forças de Artilharia e Mísseis do Exército Ucraniano tinha negado, em comunicado, que as suas forças tenham lançado ataques com mísseis e artilharia na região de Yelenovka, após as acusações de que a responsabilidade era de Kiev, por parte de Moscovo.

“Graças às armas de alta precisão recebidas por países parceiros, [as nossas forças] lançam ataques extremamente precisos apenas contra objetos militares russos”, assegurou o comando militar.

Os separatistas pró-Rússia da Ucrânia acusaram as forças de Kiev de atacar com mísseis uma prisão em Donetsk onde estavam detidos prisioneiros ucranianos. “Durante a noite, dispararam contra a prisão de Yelenovka, supostamente com HIMARS”, atirou Daniil Bezsonov, vice-ministro da Informação dos separatistas.

O porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, descreveu o ataque como uma “provocação sangrenta” destinada a desencorajar os soldados ucranianos a renderem-se. E declarou ainda que oito guardas prisionais também foram feridos pelo bombardeamento.

Por seu lado, os militares ucranianos acusaram a Rússia de manter os seus “métodos de propaganda de conduzir uma guerra de informação para acusar as Forças Armadas da Ucrânia de bombardear a infraestrutura civil e a população, ocultando assim as suas próprias ações insidiosas”.

O mesmo comunicado adiantou ainda que “tais declarações sobre o suposto bombardeamento da infraestrutura civil e da população pelas Forças Armadas da Ucrânia são puras mentiras e provocações cuja responsabilidade é da Rússia, país agressor, ocupante e patrocinador do terrorismo”.

Kiev nega estar envolvida e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia acusou por sua vez a Rússia de estar por detrás do ataque em território separatista pró-russo.

Mais de 2.400 soldados ucranianos em Mariupol foram feitos prisioneiras após quase três meses de luta pelo porto de Azov, onde estavam escondidos no complexo siderúrgico Azovstal, e a sua resistência tornou-se um símbolo da luta ucraniana contra a invasão russa que começou em 24 de fevereiro.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse estar “chocado com os relatos de que a Rússia matou dezenas de prisioneiros de guerra ucranianos” no ataque à prisão de Olenivka, lembrando que os prisioneiros de guerra “estavam sob proteção legal da Rússia sob o direito internacional humanitário”.

EUA “prolongam agonia do regime de Kiev”

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, disse na sexta-feira ao seu homólogo norte-americano, Antony Blinken, que Washington está a “prolongar a agonia do regime de Kiev” enviando armas para o exército ucraniano, durante a primeira conversa em mais de cinco meses entre os dois chefes de diplomacia.

Lavrov enfatizou que fornecer ao Exército e “batalhões ultranacionalistas ucranianos” armas dos EUA e da NATO, que “são usadas massivamente contra a população civil, apenas prolonga a agonia do regime de Kiev, o conflito e a multiplicação das vítimas” e reivindicou que o Exército russo respeita “estritamente” o direito internacional, segundo nota do Ministério das Relações Exteriores russo.

O responsável salientou também que nos “territórios libertados” na Ucrânia a vida está a regressar ao normal e que os objectivos da “operação militar especial” – expressão usada por Moscovo para designar a invasão de território ucraniano – “serão plenamente alcançados”, segundo um comunicado.

Condenado a perpétua na troca de prisioneiros

Oficiais do governo russo pediram que um coronel dos serviços secretos do país (FSB) seja adicionado à proposta dos EUA para libertar dois norte-americanos detidos na Rússia. Trata-se de Vadim Krasikov. O pedido foi visto pelos EUA como problemático, nomeadamente por ter chegado através de um canal informal do FSB.

Na quinta-feira, a CNN revelou que a administração norte-americana propôs a Moscovo trocar Brittney Griner e Paul Whelan por Viktor Bout, um conhecido traficante de armas russo que cumpre uma pena de prisão de 25 anos.

Segundo o Washington Post, um tribunal alemão condenou Krasikov a prisão perpétua em dezembro do ano passado por matar um homem num parque em Berlim. A vítima, Zelimkhan Khangoshvili, comandou uma milícia na Chechénia entre 2000 e 2004 e era considerado pela Rússia um “terrorista”.

Durante o julgamento, os procuradores consideraram que se tratava de um assassinato de “motivos políticos” ordenado pela Rússia.

Apesar do pedido para envolver Krasikov na troca ter sido considerado ilegítimo, a CNN revelou que os oficiais norte-americanos terão feito inquéritos junto das autoridades alemãs. Porém, uma fonte da Alemanha adianta que a entrega do prisioneiro não foi considerada seriamente.

Taísa Pagno , ZAP //

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