A provocação tripla chamada Galamba – e a “caça às bruxas” de Marcelo que correu muito mal

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Miguel A. Lopes / LUSA

O ministro das Infrastruturas, João Galamba, no debate do Orçamento do Estado 2024

Num debate que soube a pouco ou quase nada, o momento mais marcante ficou reservado para os últimos minutos, na terça-feira.

A proposta do Orçamento do Estado para 2024 foi aprovada, na generalidade, nesta terça-feira.

Não houve surpresas: bastava a aprovação dos deputados do Partido Socialista (PS), que estão em maioria absoluta na Assembleia da República.

Confirmou-se essa aprovação: todos os deputados do PS disseram “sim”, quase toda a oposição disse “não”. PSD, Chega, IL, PCP e BE rejeitaram o documento. Livre e PAN foram as excepções e preferiram a abstenção.

A proposta vai baixar às comissões parlamentares para ser discutida na especialidade. A votação final está marcada para 29 de Novembro e a redacção final deverá ser publicada no dia 14 de Dezembro.

Galamba fecha

Segunda e terça-feira: dois dias de debates, de conversas, pouco relevantes. Muitas vezes com assuntos que nada tinham a ver com o Orçamento do Estado.

O momento mais marcante acabou por ser o último antes da votação, na terça-feira: quem encerrou este debate na generalidade foi João Galamba.

António Costa, que nunca falou na terça-feira, escolheu o ministro das Infraestruturas para fechar a “ementa” – algo que nunca tinha acontecido.

Alexandra Machado, editora de economia no Observador, acha que o primeiro-ministro quis “desafiar” o presidente da República.

Para entender melhor este contexto, convém recordar que Marcelo Rebelo de Sousa disse publicamente que João Galamba deveria ter deixado o Governo, na sequência das “novelas” à volta da TAP e de Frederico Pinheiro.

A primeira e a segunda provocações estavam lançadas: a primeira para Marcelo, a segunda para Pedro Nuno Santos – o antigo ministro das Infraestruturas que, agora enquanto deputado, estava a ver bem perto o seu sucessor a falar sobre processos que o próprio Pedro Nuno liderou.

Citar Marcelo

A terceira provocação surgiu nos últimos parágrafos do discurso de Galamba: “Senhoras e senhores deputados, permitam-me citar sua excelência, o presidente da República: este orçamento segue a única estratégia possível. E, pedindo permissão, acrescentar: e é mesmo um bom orçamento”.

Galamba estava a citar Marcelo, já depois de vários minutos a falar de intenções, de obra feita, de medidas e de números (parcialmente, parecia um discurso escrito por Fernando Medina, ministro das Finanças).

E depois de várias “bocas” à oposição – que devolveu as “bocas” sobretudo nesta parte, quando o ministro citou o presidente da República, não o deixando completar a frase à primeira.

No final, aplausos de pé da bancada parlamentar do PS. Pedro Nuno Santos também se levantou e aplaudiu (pouco entusiasmado, aparentemente).

Quando os ministros saíram após a votação, António Costa levantou-se e só procurou um ministro: João Galamba. Falaram um pouco com cumprimento e sorrisos, além de palmada nas costas. O primeiro-ministro tapou a boca com um caderno, para não se perceber o que disse ao ministro.

Humilhação e “caça às bruxas”

Rui Pedro Antunes, editor de política no Observador, destaca que Marcelo Rebelo de Sousa foi “completamente humilhado” neste debate, mesmo não estando presente na Assembleia da República nesses dois dias.

A “humilhação” está relacionada precisamente com a escolha de João Galamba para encerrar o debate e com o facto de, nesse discurso de encerramento, Galamba nunca ter falado sobre um processo sobre o qual é responsável: a TAP – quatro dias depois de o presidente da República ter vetado a privatização da empresa.

“A caça às bruxas do presidente correu muito mal”, finalizou Rui Pedro Antunes, na noite de Halloween.

No meio de quase meia hora, o ministro das Infraestruturas falou durante uns segundos sobre o novo aeroporto de Lisboa, deixando a garantia: “Temos e teremos em curso melhorias no Aeroporto Humberto Delgado e tomaremos uma decisão que tem estado indefinida há mais de 50 anos. Sim, decidiremos mesmo a localização do novo aeroporto”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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