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Fecho das escolas “seria a medida mais forte de saúde pública”

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Paulo Novais / Lusa

O encerramento das escolas “seria a medida mais forte de saúde pública a ser tomada”, perante a existência de um “teto falso” na deteção de novos casos e o aparecimento da variante inglesa, defendeu esta terça-feira um especialista.

Segundo Óscar Felgueiras, matemático especialista em epidemiologia da Universidade do Porto, “o encerramento das escolas seria a medida mais forte de saúde pública que poderia ser tomada. Será muito difícil controlar o aumento do número de casos sem essa medida”.

Em declarações à agência Lusa, o perito defendeu que face à “gravidade da situação” pandémica se justificaria o encerramento das escolas e das universidades. “Existe evidência científica que mostra ser das medidas que mais efeito produz”, salientou.

Quanto às medidas anunciadas esta segunda-feira pelo Governo, o especialista acredita que “podem eventualmente travar [a evolução da pandemia], mas de forma muito lenta”.

“Acho que não é o suficiente para o índice de transmissibilidade [Rt] baixar, aliás, não é garantido que se observe o pico de novos casos no próximo mês”, considerou.

Para Óscar Felgueiras, existem “dois grandes obstáculos”: as “falhas na deteção” de novos casos de infeção e o surgimento da variante detetada em Inglaterra.

“O problema é que existe, neste momento, um grande reservatório de casos não detetados e não vai ser possível esgotá-lo tão cedo”, disse, acrescentando que “existem milhares de inquéritos epidemiológicos em atraso”.

“Para já, o que se espera que aconteça é que estejamos sempre num patamar entre 10 e 11 mil casos durante os dias da semana em que se consegue detetar mais casos, mas sempre sujeitos a um género de teto falso e isso reflete-se na positividade, nos internamentos e nos óbitos”, salientou.

Para o especialista, a subida da taxa de positividade nos testes de rastreio, que neste momento “ronda os 19,1%”, é “sinal de menor deteção de casos”.

Óscar Felgueiras salientou ainda que “o aparecimento da variante inglesa”, que acredita já estar “espalhada pelo país” e que “caminha para ser uma variante dominante”, vai inflacionar o valor do Rt.

“A nova variante vai ter um impacto cada vez mais forte à medida que o tempo passa porque vai ganhar uma preponderância sob todas as outras, é isso que se espera”, afirmou.

Apesar destes fatores arrecadarem “incerteza”, o especialista acredita que algumas medidas anunciadas poderão “produzir algum efeito” e que o aumento das temperaturas mínimas possa ser “um fator a favor”.

Médicos defendem confinamento semelhante ao de março

A Ordem dos Médicos (OM) defendeu a adoção com “a maior brevidade possível” de um confinamento geral “no mínimo” semelhante ao que ocorreu aquando da primeira onda da pandemia, com “uma situação muito menos severa”.

A OM alerta em comunicado ser “emergente esmagar a transmissão na comunidade”, salientando que é preciso “atuar agora com todos os meios” para ter “resultados consistentes daqui a duas semanas” e proteger “com urgência” os doentes, os profissionais de saúde e toda a população.

“Ninguém pode, por más decisões políticas, continuar a tolerar a morte silenciosa de quem não consegue gritar”, sublinha no comunicado, afirmando que “este é um grito de alerta para acordar e ajudar Portugal”

A OM refere que os profissionais de saúde têm, neste momento, de “tomar decisões complexas e muito difíceis em contexto de medicina de catástrofe e de estabelecimento de critérios de prioridade e não conseguem salvar todas as vidas”.

“São eles que desesperam perante os limites do sofrimento e da compaixão, mercê da incapacidade de tratar o outro, e assim são vítimas de burnout e sofrimento ético. São eles que, além dos doentes, sofrem no terreno, e que aguentam a pressão brutal sobre o SNS”, adverte.

Para a OM, “as meias medidas nem servem a saúde nem a economia: já perdemos demasiado tempo e continuamos a perder. É inaceitável continuar nas meias medidas e meias verdades. Dizer que está tudo bem, quando não está”.

Assim como “dizer que estamos a atingir a linha vermelha quando já a ultrapassamos há muito”, afirma, lembrando os mais de 25 milhões de consultas presenciais, cirurgias e exames complementares de diagnóstico e terapêutica que ficaram por fazer.

A OM refere que a “situação emergente que se vive na Saúde em Portugal, por ausência de medidas robustas por parte de quem tem a responsabilidade política de tomar decisões”, levaram o seu bastonário, Miguel Guimarães e o seu Gabinete de Crise para a covid-19 a renovar um conjunto de 10 “propostas urgentes para combater de forma mais eficaz a pandemia”.

Entre o conjunto de medidas, a OM defende a adoção “sem reservas e com a maior brevidade um confinamento geral, no mínimo semelhante ao que ocorreu em março/abril de 2020 e apela ainda à “revisão imediata” do Plano Nacional de Vacinação Covid-19 e pedido de parecer urgente ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida sobre critérios de prioridade para a mesma.

“Comunicar aos portugueses de forma transparente, coerente e objetiva, não omitindo a verdade, não tentando esconder a gravidade da situação, nem tentando encontrar bodes expiatórios para justificar a incapacidade de liderar o combate à pandemia”, é outra proposta, assim como o reforço da capacidade de resposta das equipas de saúde pública para realizar inquéritos epidemiológicos válidos e em tempo útil” para identificar rapidamente contactos de alto risco e quebrar cadeias de transmissão.

Defende ainda o aumento de “forma exponencial” da capacidade de testagem de pessoas infetadas e dos seus contactos, através da “utilização massiva” de testes rápidos e a utilização de “forma planeada e organizada” de todos os recursos do sistema de saúde, para dar “uma resposta integrada e consistente” aos doentes covid e não covid.

A covid-19 já matou 8.861 pessoas em Portugal dos 549.801 casos de infeção confirmados, segundo os últimos dados da Direção-Geral da Saúde.

Daniel Costa, ZAP // Lusa

22 Comments

  1. Neste momento há escolas que com o número de funcionários no activo, teriam sido fechadas em dia de greve.
    Será que o governo ainda acha que somos totós? Não têm é a coragem de assumir o erro, de assumir que os técnicos consultados erraram nas previsões, aliás alguns deles já assumiram a mudança de opinião.

    E porque é que os professores, muitos com mais de 55 anos, não são considerados grupo de risco, como os polícias, a grande maioria jovens e na força da idade, e com menos contactos com grupos de risco?
    Porquê os policias estão na lista para serem vacinados e os profs não?

  2. Estão a tentar evitar essa situação, visto que “seria mau para os cofres”.
    Durante estas jogatanas, vão morrendo crianças, jovens, adultos e idosos. Que vergonha de governo, que miserável presidente, que ministérios cheios de corruptos…!!!! Por este andar, ninguém sobreviverá a 2021. 🙁

  3. A medida mais forte, mas também a mais recomendada, seria tomar magostão+ e calcitrin. Isso sim, resolveria o problema… ou não.

      • Eh lá… o teu caso ainda é mais grave do que parecia à primeira vista…
        Acho que nem com Calcitrin lá vais!…

      • Já tentei referir que ainda não cheguei aos trinta anos.
        Tu, pelo teu discurso de fanfarrão miserável, deves ter o triplo da minha idade, e continuas a ser reles e vil para as pessoas. Queres que seja esse o teu legado, quando morreres de Covid-19? 🙂

      • Who cares??!
        Achas que alguém que saber da opinião de uma tontinha frustrada como tu?!
        Agora desampara-me a loja!…

      • Ninguém quer (*) saber.
        Agora, desampara-me a mercearia, pois não quero que vejam um comunista infantil por aqui. 🙂

      • Começo a perceber pelos comentários que há por aqui muitos espaços comerciais abertos!!! Quer o Eu! quer a Guida demonstram possuir espaços abertos ao público. Sabendo-se que a Guida tem uma mercearia, poderá estar a funcionar até às 20:00, respeitando todas as regras de segurança emanadas pela DGS. Quanto ao Eu!, a questão é dúbia. Refere loja, não especificando o teor da mesma. Em caso de prevaricação, o Eu! incorre em processo contraordenacional.

  4. Os Professores se fosse para pedir aumentos de vencimento ou redução de horas de trabalho, já tinham feito greve, mas neste caso estão calados!
    Será que já lhes prometeram alguma coisa…

  5. Estes “especialistas” sabem muito… Primeiro deixaram o pessoal do ensino superior andar de um lado para o outro, depois do Natal, a espalhar bem a coisa. Agora que já acabaram as frequências e exames, vamos fechar as escolas locais (onde a maioria dos miúdos não têm nada nem fazem grandes deslocações) e por os pais a fazer de professores a ganhar 66%, e os professores em casa a ganhar o ordenadinho por inteiro… a corrigir “fichas”. Os putos e os pais que se amanhem… Políticos da treta em país da treta! É só jogadas!

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