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Esquerda espera para ver como promessas de Costa se vão refletir no OE. Direita fala em “propaganda”

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António Cotrim / Lusa

Depois do discurso de António Costa que encerrou o 23.º Congresso do PS, os partidos que foram convidados para marcar presença (e também os que não foram) reagiram às suas promessas.

Em declarações aos jornalistas depois do discurso de António Costa, o deputado do Bloco de Esquerda Jorge Costa considerou que, apesar de ter sido feito o “anúncio de uma série de medidas importantes”, o seu partido “quer ver como é que se vão refletir, ou não, no texto de Orçamento do Estado” que o Governo vai apresentar no Parlamento.

Contudo, o bloquista não quis “deixar de sublinhar a ausência no discurso de alguns tópicos essenciais” para o BE. A legislação laboral é uma matéria da qual o partido não prescinde e “onde o PS insiste em recusar a alteração das medidas que a troika, o Governo de Passos Coelho, introduziu em 2012”, acusou.

“Quando o primeiro-ministro fala da dignidade do trabalho e da necessidade de fazer crescer o salário médio, isso só pode conseguir-se alterando a condição do trabalho na sociedade, alterando a condição dos trabalhadores neste contexto”, completou.

No que diz respeito ao investimento na saúde, tópico que foi um dos mais abordados durante o congresso socialista, continua a ser marcado pela “falta de um compromisso” do PS, advogou o deputado bloquista.

Jorge Costa também anunciou que durante a próxima semana haverá um “conjunto de reuniões” com o Governo para dar “sequência a esse diálogo” de negociação do OE.

Já o membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, Vasco Cardoso, destacou que o país se encontra, neste momento, “confrontado com problemas muito significativos”, sendo que “muitos deles já existiam antes da pandemia”.

“Ora, esses problemas precisam de respostas que não encontrámos, nem ouvimos, nesta intervenção do secretário-geral do PS que é, simultaneamente, primeiro-ministro”, disse aos jornalistas.

O comunista advertiu que, para o PCP, são imperativas “respostas do ponto de vista do aumento dos salários“, mas “sobre isso o primeiro-ministro nada disse”.

Vasco Cardoso também apontou críticas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), um dos tópicos mais abordados ao longo do congresso, considerando que Portugal não pode “ser um país que fica muito com um PRR, mas que depois tem os mais baixos salários que se pode verificar em toda a União Europeia”.

O dirigente comunista acrescentou que houve ainda uma “ausência completa de abordagem sobre o aparelho produtivo nacional” e sobre a necessidade de substituir as importações pela produção nacional.

Interpelado sobre o enfoque dado por Costa ao combate aos abusos laborais, o membro da Comissão Política comunista disse compreender que, “em vésperas de eleições, há toda uma dinâmica propagandista”.

No entanto, sustentou, “não faltaram oportunidades ao PS para alterar a legislação laboral” e impedir “despedimentos absolutamente selvagens” e abusos laborais que ocorreram durante a pandemia.

PSD fala em “paz contida”, Rio aponta propaganda

Depois de ter ouvido António Costa a afirmar que o PS sai desta reunião magna unido e “com paz de espírito”, o vice-presidente do PSD, David Justino, considerou sim que foi notória uma “paz contida”.

“Falou-se muito de uma paz fria. Acho que o problema que ressaltou deste congresso é que há uma paz contida ou seja, nem é fria nem é quente, ela está anunciada, está prenunciada mas fica para o próximo. Enquanto António Costa liderar o partido penso que essas pretensões irão conter-se”, considerou.

Classificando o congresso dos socialistas como um “congresso dos sucessores”, orientado para “saber quem é que está na porta de substituição” de Costa, Justino lamentou não ter ouvido no seu discurso referências a riqueza e crescimento económico.

“O que eu não ouvi e gostava de ter ouvido, porque é bom para o país, é como nós vamos crescer, como é que vamos criar riqueza, como é que vamos desenvolver o país.”

Para o dirigente social-democrata, a parte final da intervenção do primeiro-ministro foi “o iniciar de uma agenda de negociação com os seus parceiros à esquerda, visando o Orçamento geral do Estado”, considerando “evidente” que os socialistas estão “amarrados à esquerda”.

“Ao custo de poder engajar os seus parceiros à esquerda está a transformar os empresários portugueses numa espécie de vilões que, no fundo, andam só a fazer mal”, criticou também.

Entretanto, o líder do PSD, Rui Rio, classificou o congresso do PS como “um evento de propaganda eleitoral” para as autárquicas, dizendo “não ser correto” que António Costa tenha anunciado medidas do Governo para “captar votos para o PS”.

O líder do PSD até reconheceu que Costa anunciou “um conjunto de boas medidas” para captar eleitorado, destacando as ligadas ao apoio à infância, como o aumento de vagas em creches e a redução de IRS para as famílias com filhos.

“Porque é que é uma boa medida? Essa foi exatamente a primeira ideia que o PSD transmitiu em força desde que eu ocupo este cargo”, afirmou. “Essa medida temos de aplaudir porque ela é nossa e o PS veio buscar a nossa ideia, tarde, mas apesar de tudo bem”, insistiu.

O vice-presidente do CDS, Pedro Melo, considerou, por sua vez, que foi um discurso “profundamente marcado pela propaganda política” e que apresenta uma visão do país que “não tem adesão à realidade”.

O centrista relembra que os socialistas defendem que “nos últimos 25, 30 anos tudo aquilo que correu bem no país é fruto do trabalho do PS, quando na realidade é fruto da resiliência e da perseverança das famílias e das empresas”.

Liberais atacam “discurso trágico” de Costa

Em comunicado, a Iniciativa Liberal afirmou que, “para António Costa, o PS e o Estado são a mesma coisa” e acrescenta que “quando apela a que os portugueses elejam os autarcas do PS para que sejam estes a gerir os fundos europeus que vão chegar, ‘para manter o caminho certo'” está a tornar Portugal “o país mais pobre da União Europeia, agravando as condições económicas e sociais em que os portugueses vivem”.

“A única estratégia do Governo é controlar e gastar os fundos europeus da mesma forma ineficaz e displicente que tem sido seu apanágio. O crescimento económico não é prioridade. As empresas não são prioridade. A iniciativa privada não é prioridade”, lê-se no comunicado da IL, que não esteve na sessão de encerramento do congresso e que fala num “discurso trágico” do primeiro-ministro.

Ainda segundo os liberais, Costa “faz sempre promessas entusiasmadas de que vai eliminar a pobreza, mas, na prática, as políticas que depois aplica faz com que esses problemas nunca se resolvam” no que se refere à habitação, e pobreza infantil.

A IL termina o comunicado com a acusação de despesismo ao PS, que depois “não é capaz de indicar uma medida que promova crescimento económico“.

Chega aponta irrelevância do congresso socialista

Em comunicado, o Chega considera que a reunião magna socialista “terminou sem nenhuma novidade política ou governativa relevante”.

António Costa, afirma o partido de André Ventura, não lançou durante o congresso “qualquer ideia estruturante para a retoma económica e para o futuro do país”.

O partido justifica a sua ausência do encerramento do congresso queixando-se de “constantes insinuações dos principais dirigentes socialistas” sobre “racismo e xenofobia” do Chega, sem indicar exemplos concretos.

ZAP // Lusa

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