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“Crise brutal.” Economistas duvidam de uma retoma rápida e apontam para crise estrutural

Mário Cruz / Lusa

Um grupo de economistas consultados pelo Jornal de Negócios assume que dificilmente a economia portuguesa escapará de uma crise prolongada e com características estruturais.

No seu primeiro debate na Assembleia da República enquanto ministro das Finanças, João Leão assumiu estar convicto de que, “quando esta pandemia estiver ultrapassada, se seguirmos políticas adequadas, vamos mais rapidamente do que na anterior crise conduzir de novo o país para um caminho de confiança, crescimento e sustentabilidade”.

A declaração está em linha com a de Mário Centeno. “A recuperação, apesar de tudo, já se começa a visualizar”, tinha dito o ministro demissionário, na apresentação do Orçamento retificativo.

Ora, os economistas ouvidos pelo Jornal de Negócios não consideram que ambas as afirmações estejam erradas, mas consideram que criam uma expectativa que dificilmente terá resposta na realidade. Na prática, sugerem que Portugal vai sair depressa da crise e que assim que o problema da pandemia for ultrapassado, a economia volta a funcionar a todo o gás. Mas os economistas duvidam.

Miguel Ferreira, economista da Nova SBE, concorda que a recuperação será mais rápida do que a saída da crise anterior, “mas essa demorou cinco anos”. Para o especialista, uma recuperação rápida seria uma retoma em “V”, em que no próximo ano a economia estaria já no nível de onde partira e a crescer ao ritmo que se esperava antes da pandemia.

Ninguém acredita nesse cenário. “Dois a três anos será o tempo expectável“, considera.

Carlos Marinheiro, vogal não executivo do Conselho das Finanças Públicas, avisa que “ninguém sabe se vai ou não haver uma segunda vaga” e que essa incerteza faz com que seja muito difícil prever a recuperação que Portugal irá ter.

Luís Aguiar-Conraria, economista e professor na Universidade do Minho, considera que, mais do que a incerteza, há razões de fundo para acreditar que a crise demorará tempo a ser resolvida. “O facto de o choque inicial não ter sido estrutural, não significa que não venha a ser estrutural.”

O facto de o nosso país ter uma economia muito dependente de serviços – os mais afetados pela pandemia – prejudica as visões mais otimistas. “Um ou dois anos com o turismo muito incerto e colocam-se problemas de estrutura na economia”, assegurou ao Negócios um macroeconomista especialista em assuntos europeus, que pediu para não ser identificado.

Os economistas não têm dúvidas de que a quebra de atividade permanente terá consequências estruturais. Além disso, Aguiar-Conraria lembra que as economias ocidentais já tinham problemas estruturais e que a crise os vem agravar.

“A banca voltará a ter de lidar com problemas de malparado, a questão das empresas-zombies estava a ser resolvida mas agora regressa, tínhamos um enorme problema de dívida que agora se vai agravar”, disse ao matutino. No fundo, quanto mais endividados o Estado, as empresas e as famílias saírem desta recessão, mais difícil e lento vai ser o processo de voltar a crescer.

Fernando Alexandre, economista e professor na Universidade do Minho, considera que, “se não se estancar rapidamente a crise sanitária, e rapidamente é já, vai ser uma crise brutal”.

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