Diácono cabo-verdiano espantado. “É fake news. Ninguém está desaparecido”

António Cotrim / Lusa

Um dos diáconos que acompanham peregrinos cabo-verdianos à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) disse hoje que “ninguém está desaparecido” e que alguns jovens optaram por ficar em Lisboa em vez de participar nas atividades em Leiria.

O diácono José Manuel Vaz, que acompanhou uma das quatro delegações oriundas da ilha de Santiago que entre 25 de julho e quarta-feira chegaram a Lisboa, mostrou o seu espanto com as notícias que dão conta de um desaparecimento de peregrinos cabo-verdianos e angolanos.

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) comunicou hoje que quase 200 peregrinos cabo-verdianos e angolanos não compareceram na Diocese Leiria-Fátima, em cujas atividades estavam inscritos.

É ‘fake news’. Ninguém está desaparecido e nenhum peregrino é obrigado a participar em atividades das dioceses”, indicou o diácono.

“Alguns peregrinos que chegaram a Lisboa optaram por ficar na cidade, onde arranjaram alojamento junto de familiares e amigos, em vez de ir a Leiria para participar nas atividades. Ninguém informou que as atividades eram obrigatórias”.

Querem saber onde estão estes peregrinos? Venham à jornada e vão encontrá-los”, disse.

Lembrando que os peregrinos têm um visto de 18 dias, após os quais não podem permanecer em Portugal, o religioso ressalvou: “Ninguém garante que, após esse período, alguns peregrinos não fiquem em Portugal, mas isso é um problema que não tem nada a ver com a participação na jornada”.

Um grupo de 106 peregrinos de Angola e Cabo Verde, que tinham sido acolhidos em três paróquias da diocese de Leiria-Fátima, foi dado como desaparecido pela organização esta segunda-feira.

Em comunicado, a Diocese de Leiria-Fátima confirmou “a ausência de 106 peregrinos dos grupos estrangeiros de nacionalidade angolana e cabo-verdiana acolhidos em três paróquias da Diocese”.

Em declarações à TSF, o bispo de Cabinda, em Angola, Belmiro Chissengueti, que chefia a delegação angolana, avança que pelo menos 5 peregrinos angolanos, que chegaram a Lisboa para a JMJ, já abandonaram a delegação em que viajavam e não tencionam regressar a Luanda.

Belmiro Chissengueti crítica as autoridades portuguesas por não especificarem as nacionalidades dos peregrinos, acabando por tratar os africanos como um todo.

O chefe da delegação angolana realça que “Cabo Verde não é Angola e que Angola não é Cabo Verde, e haverá certamente mais casos, pelo que o melhor será especificar a informação”.

À Lusa, o embaixador cabo-verdiano em Portugal, Eurico Correia Monteiro, considerou que “pode ser ainda cedo para se formular juízos seguros sobre este incidente e suas causas”.

Pode ser precipitado extrair conclusões nesta altura, devendo-se reservar juízos conclusivos para momento posterior”, adiantou.

E recordou que “só as autoridades administrativas portuguesas e as autoridades eclesiásticas cabo-verdianas e portuguesas podem eventualmente dispor de informações relevantes sobre este caso”.

O assessor de imprensa da Embaixada de Angola em Portugal, Vitor Carvalho, referiu à Lusa que esta representação diplomática não tem qualquer conhecimento do alegado desaparecimento de peregrinos angolanos.

A organização da JMJ indicou hoje que está a acompanhar “com tranquilidade” a situação dos peregrinos angolanos e cabo-verdianos, garantindo que foi acionado o protocolo acordado nos casos de “não-comparência” de participantes no evento.

“A organização acompanha a situação com tranquilidade e com toda a confiança nas entidades públicas. O protocolo acordado para este tipo de casos foi acionado”, disse a porta-voz da Fundação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Rosa Pedroso Lima, em conferência de imprensa.

A responsável explicou mais tarde à Lusa que os peregrinos em causa não compareceram ao ‘check-in’ do local de acolhimento.

Pelo menos 1.518 angolanos, residentes em Angola e na diáspora, inscreveram-se para participar na JMJ Lisboa 2023 e a partir de Luanda devem embarcar 518 peregrinos para este encontro com o Papa Francisco. De Cabo Verde, está prevista a participação de um total de 913 cabo-verdianos, incluindo religiosos.

// Lusa

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