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“Pandemia do medo”. Crianças brincam cada vez menos e isso pode aumentar a ansiedade

A pandemia assim o obriga. Mais tempo fechadas em salas de aula e sem oportunidades para brincarem com os amigos, as crianças estão cada vez mais sedentárias e isso não é positivo para o seu desenvolvimento.

O sedentarismo e a vontade de ficar o dia todo agarrado ao telemóvel ou ao computador já era um problema que muitos pais enfrentavam com as crianças. Agora, com a pandemia este cenário tem-se agravado cada vez mais.

“Presas” dentro de casa, as crianças viram o seu dia a dia desvanecer. Foram-se os jogos com os amigos, as correrias no recreio e perdeu-se o verão, algumas das coisas que ainda as faziam sair do sofá.

Em declarações ao Expresso, o psicoterapeuta Nuno Moura revela que o facto dos adolescentes e crianças passarem muito tempo ao telemóvel foi uma das coisas que a pandemia veio agravar.

A importância de brincar está consagrada na lista que apresenta os Direitos das Crianças, declarados em 1959 pela Organização das Nações Unidas. É o sétimo do conjunto de dez e determina o direito à educação gratuita e à “plena oportunidade para brincar”.

De acordo com os especialistas do estudo “The Power of Play”, a atividade promove as “capacidades socioemocionais, cognitivas, de linguagem e de autorregulação que constroem a função executiva e um cérebro pró-social”.

Numa altura em que temos de cumprir o distanciamento social, o professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana, Carlos Neto, fala numa “pandemia do medo”, dominada por regras que só aumentam “a ansiedade”.

“Há circunstâncias em que o medo é pior que o vírus”, acredita o professor, que desde há muito vem alertando para o tempo excessivo que as crianças passam fechadas em salas de aulas.

Carlos Neto relembra que “o mundo já ultrapassou situações difíceis como esta, é preciso ser resiliente”, defende, apontando como solução a recuperação dos espaços exteriores, “onde é inclusivamente mais fácil garantir distanciamento, arejamento e ganhar imunidade”. O especialista olha para este momento como “uma oportunidade” de reinvenção. “Fala-se muito de saúde mental. E o corpo?”, questiona.

Alterações do sono, ansiedade, manifestações de medo ou uma atitude mais passiva, são os sinais do desconforto causado e que requerem atenção, defende Nuno Moura.

Uma boa solução é aproveitar o maior tempo de que disponham agora, todos juntos em casa, para “encontrar atividades lúdicas” que a todos envolvam, jogos e brincadeiras que sejam ao mesmo tempo uma alternativa aos telemóveis e computadores, sugere o psicoterapeuta.

Carlos Neto insiste no risco de ficarem “marcas físicas, psicológicas e emocionais” na autoestima das crianças, que nota mais agitadas e com menos capacidade para estarem atentas. “As crianças precisam de mais natureza, e os pais também podem chamar a si esta tarefa”, realça.

ZAP //

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