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Pandemia de covid-19 deixa mais de 4 mil cancros por diagnosticar

Mahmoud Khaled / EPA

A pandemia de covid-19 está a levar a que os cuidados oncológicos sejam descurados. Previsões apontam que haja mais de 4 mil pessoas com cancro sem saber.

Nos tempos que correm, o Serviço Nacional de Saúde está atulhado devido aos pacientes de covid-19. A pandemia deixa os cuidados não urgentes fechados há mais de um mês e a oncologia é uma das áreas mais afetadas.

Segundo o Expresso, os prestadores de cuidados de saúde adiantam que ficaram por fazer mais de 20 milhões de exames de diagnóstico e análises clínicas. Além disso, a Liga Portuguesa Contra o Cancro travou os 30 mil rastreios mensais a tumores. Desta forma, a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia prevê que haja mais de 4 mil pessoas com cancro sem o saberem.

Em média, em cada mil rastreios 2,5 dão positivo e por mês são feitos 30 mil. As estimativas apontam para 4.849 novas neoplasias por diagnosticar: 856 colorretais, 581 da mama, 551 da próstata, 440 do pulmão, 240 do estômago ou 135 do pâncreas.

“No último mês, desde que o Governo decidiu suspender tudo o que não fosse urgente, estão congelados mais de dez milhões de atos só para utentes do SNS e mais de 20 milhões se incluirmos os beneficiários de subsistemas de saúde, como a ADSE”, disse Abel Bruno Henriques, secretário-geral da Federação Nacional dos Prestadores de Cuidados de Saúde.

“Produzimos mais de 90% dos atos em ambulatório, portanto o SNS está congelado. Temos contabilizada uma redução de 80% nas análises clínicas, 95% na imagiologia e 100% em exames de cardiologia ou de gastrenterologia, como endoscopias ou colonoscopias, por exemplo”, acrescentou, em declarações ao Expresso. As únicas áreas que se mantêm são a diálise e a radioterapia.

O responsável pelo Programa para a Área das Doenças Oncológicas, da Direção-Geral da Saúde, José Dinis, defende que, tal como a covid-19, “a oncologia devia ter também um gabinete dedicado”.

Com medo de serem infetadas pelo novo coronavírus, há muitos pacientes com medo de se dirigirem aos hospitais. “Vários colegas têm-me dito que têm de telefonar para convencer os doentes a virem às consultas ou até a vir fazer a quimioterapia. Estão a faltar muitos doentes no hospital de dia”, conta José Dinis.

Após a recuperação, “a prioridade será para a aferição de exames”, afirma Vítor Rodrigues, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro. “Estamos a perder algum tempo, mas terá uma consequência muito reduzida no prognóstico”, explica.

O presidente do IPO-Porto, Rui Henrique, considera que “não vai haver um regresso à normalidade mas sim uma evolução para uma nova normalidade e é de esperar que a nova normalidade implique uma eficiência inferior ao que estávamos habituados“.

A ministra da Saúde, Marta Temido, diz que o SNS vai reativar os cuidados programados, suspensos a 16 de março, mas ainda não explicou como o pretende fazer.

ZAP //

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