Enquanto que na Europa a idade é um fator de risco da covid-19, no Brasil, o sítio onde moram e a cor da sua pele definem essa fronteira entre os que têm maior ou menor probabilidade de contrair a doença.
Denner Silva Melo vive em Grajaú, na periferia de São Paulo, e tem 2,5% mais probabilidades de contrair o novo coronavírus do que noutras zonas desta cidade brasileira.
Esta é a prova de que a desigualdade se reflete na ausência de infraestruturas básicas. “As pessoas não respeitam a quarentena nos bairros pobres, e é por isso que o vírus se propaga mais entre as pessoas da periferia, de baixa renda”, justificou.
Ao contrário da Europa, em que a idade é o fator mais decisivo para a taxa de mortalidade, em São Paulo, os estudos indicam que a morada e a cor da pele definem a fronteira entre os que têm maior ou menor probabilidade de contrair a covid-19 e morrer da doença.
“Eu conheço pessoas que morreram” porque “não se preveniram corretamente”, afirmou à Lusa Dener Silva Melo, que critica o comportamento da população mais pobre, que depende de transportes públicos e nem sempre usa máscaras ou proteções adequadas.
A Rede Nossa São Paulo, uma ONG que realiza anualmente um mapa sobre a desigualdade na maior cidade do Brasil, divulgou no final de junho uma versão extraordinária do estudo cruzando dados sobre a covid-19 que confirmaram informações de que os moradores de pele escura das periferias da cidade são as maiores vítimas da doença.
“Diferentemente do que aconteceu na Europa, em que o grande indicador de covid-19 foi a idade, o maior fator de risco, aqui em São Paulo e no Brasil, é o endereço”, adiantou Jorge Abrahão, diretor da Rede Nossa São Paulo.
O mapeamento da Rede Nossa São Paulo mostrou que Moema e Jardim Paulista, dois bairros de classe média alta com expectativa de vida acima de 80 anos, registavam cerca de 130 mortes causadas pelo novo coronavírus até junho.
Comprando estes dados com os números dos bairros periféricos onde a população tem expectativa de vida abaixo dos 60 anos verificou-se que em dois deles, Grajaú e Cidade Tiradentes, registaram 460 mortos.
Nestas duas periferias existem 3,5 vezes mais óbitos causados pela pandemia do que nos dois distritos ricos e com maior expectativa de vida da cidade. Destacando indicadores como a raça, o cruzamento de dados da ONG apontou que os afrodescendentes são as maiores vítimas da doença em São Paulo.
Os dois bairros com maior proporção de população negra entre seus habitantes, Jardim Angela (60%) e Grajaú (57%), apresentam um elevado número de óbitos causados pelo novo coronavírus (507).
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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