Revelação sobre algo que estará a acontecer no Parlamento, mas que escapa a quase todos os portugueses.
O debate na generalidade sobre o Orçamento do Estado para 2024 não foi rico, no conteúdo.
Destacou-se o facto de João Galamba ter sido o ministro escolhido por António Costa para fechar o debate. E o ministro das Infraestruturas até citou Marcelo Rebelo de Sousa – o presidente da República disse publicamente que Galamba já nem deveria ser ministro.
Eunice Lourenço não esperava esta escolha. Achou “muito relevante” ter sido João Galamba a encerrar o debate, mesmo que a escolha tenha sido feita antes do veto de Marcelo sobre a privatização da TAP.
A editora de política no jornal Expresso descreveu o discurso de João Galamba: “Feito com muitos nervos, muito agarrado ao papel, muito ao estilo de finalista do liceu a tentar fazer bem o discurso, mas depois mandando indirecta, ou directa, ao presidente da República” – e sem qualquer referência à TAP, recordou.
Eunice destacou, na rádio Observador, que ficou com “muita pena” por não se ter debatido o uso do excedente orçamental “e o Fundo Medina – salvo seja – que venha a ser criado”.
“Perdeu-se uma óptima oportunidade para se fazer um debate político e ideológico sobre o assunto” e para tentar perceber em que deve ser usado esse dinheiro, completou. Bloco de Esquerda e PCP ainda tentaram, mas o Governo fugiu desse tema.
Recorde-se que, recentemente, Fernando Medina disse que o excedente não deve ser aplicado para resolver situações urgentes, porque há que pensar no “amanhã”.
O bullying do Chega
No entanto, a especialista em política destacou uma questão lateral ao debate que muitos portugueses não se apercebem, ao ver o plenário pela televisão ou ao ouvir pela rádio.
Os elogios seguiram para Rui Tavares e Inês Sousa Real, deputados únicos (Livre e PAN, respectivamente), que “são continuamente alvo de autêntico bullying por parte do Chega“.
“De cada vez que estão a falar, são interrompidos, ouvem insultos por parte dos deputados do Chega. Muitas vezes só quem está lá no plenário é que percebe”, revelou.
A dupla mereceu elogios porque “conseguem continuar a cumprir a sua missão de deputados, apesar desse bullying quase diário que sofrem, quer no plenário, quer muitas vezes nos corredores“.
“És só um!”
O ZAP foi ver – de novo – excertos do debate da semana passada.
Na terça-feira, já na fase de encerramento, Rui Tavares revelou que tinha havido reunião da Assembleia do Livre. Começaram-se a ouvir “bocas” da bancada do Chega, como “oh, oh!”, ou logo a seguir “És só um!”.
O presidente da Assembleia da República interrompeu o discurso e pediu respeito pelo deputado.
Rui Tavares acrescentou: “E respeito por quem veio assistir a este debate, atentamente, e viu certamente quem avilta permanente o trabalho parlamentar, achincalhando assim a democracia” – palavras que justificaram aplausos de diversos deputados do PS (enquanto continuavam os gritos de deputados do Chega, que ainda protestaram contra o acréscimo de 30 segundos ao tempo de Rui Tavares).
Inês de Sousa Real foi a deputada seguinte a falar. Ainda esperou porque os deputados do Chega continuavam a falar e a gesticular na direcção de Rui Tavares. “Não tenho pressa, até porque é importante que estes jovens percebam o que são forças políticas anti-democráticas“, comentou a deputada do PAN.
Através da transmissão televisiva, não conseguimos perceber o que foi dito – e se foi dito – no fim do seu discurso mas, quando terminou, Inês de Sousa Real estava continuamente a olhar para a bancada parlamentar do Chega enquanto descia as escadas.