Cereais voltam a ser “arma de guerra” 90 anos depois. Acordo entre Rússia e Ucrânia assinado hoje

A Rússia e a Ucrânia deverão assinar um acordo esta sexta-feira em Istambul, na presença do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, que permitirá reabrir os portos ucranianos no Mar Negro e retomar as exportações de cereais.

Embora nem a Ucrânia, nem a Rússia, tenham confirmaram de imediato a declaração divulgada na quinta-feira pelo gabinete da presidência turca, o líder ucraniano Volodymyr Zelenskyy deu a entender, no seu discurso habitual, que os portos do seu país no Mar Negro poderiam ser desbloqueados em breve.

Sabe-se que Guterres deverá estar sexta-feira na Turquia, segundo um porta-voz da organização. Tudo indica que o acordo será assinado esta sexta-feira às 13:30, precisou o gabinete do Presidente turco Tayyip Erdogan.

Segundo avançou a agência Lusa, o efeito mortífero do uso dos cereais como “arma” na Ucrânia há 90 anos, narrado no livro Fome Vermelha da historiadora Anne Aplebaum, é agora revivido, à escala global.

“Apesar das evidentes diferenças, há várias similitudes entre o Holomodor, em 1932, e o bloqueio dos cereais ucranianos, em 2022. Desde logo, o entendimento por parte de Moscovo de que a fome é uma arma terrivelmente eficaz para fazer ceder os mais frágeis”, explicou à Lusa James Bakewell, historiador da Universidade de Sussex, em Brighton, Reino Unido.

Diversos especialistas em Direito Internacional consideram que será difícil estabelecer o bloqueio dos cereais nos portos ucranianos como um “crime de guerra”, na medida em que Moscovo está apenas a exercer o seu direito de controlo territorial conquistado durante a invasão iniciada no final de fevereiro.

Num livro de 2017, e publicado em Portugal na passada semana, sob o título Fome Vermelha, a historiadora e jornalista Applebaum descreve como o regime da União Soviética já tinha utilizado a técnica da fome como arma de guerra na Ucrânia, há exactamente 90 anos, entre 1932 e 1933.

Applebaum explica como, há 90 anos, o regime soviético matou à fome quase quatro milhões de ucranianos, num episódio que ficou conhecido como o Holomodor, literalmente “a exterminação pela fome”.

Rússia abate dois caças… russos

A Rússia terá abatido dois caças russos na Ucrânia, um a 17 de julho e outro a 19, se tratando das aeronaves mais sofisticadas da sua frota, avançou o El Confidencial.

Um dos caças foi abatido no domingo, em Alchevsk, uma cidade da região de Luhansk. “A tripulação de defesa aérea das forças aliadas destruiu um alvo nos céus sobre Alchevsk”, escreveu o correspondente de guerra russo Yevgeny Poddubny, no Telegram, citado pela Forbes,

Num vídeo publicado no Twitter, avançou que se trata de um dos dez Su-34M que foram entregues pela fabricante Sukhoi à Rússia. Cada um custa cerca de 35 milhões de euros, adianta o jornal ABC. Os Su-34M podem atingir alvos a mais de 900 quilómetros de distância e transportar 12 toneladas de bombas e mísseis.

Segundo o ministério da Defesa do Reino Unido, os aviões terão tido uma performance inferior ao esperado e estão a ser usados essencialmente para transportar bombas que requerem voos de baixa altitude para atingir o alvo – o que permitiu às forças ucranianas abaterem onze destas aeronaves.

O El Confidencial acrescentou que a causa pode ter sido uma falha do sistema ou falta de coordenação.

A 19 de julho, foi um Su-35 cair, uma aeronave que custa cerca de 83 milhões de euros, embora as forças ucranianas tenham dito que foram elas a abater o avião. Neste caso, o alvo seria um rocket fornecido pelos Estados Unidos (EUA) à Ucrânia.

Mísseis anti-aéreos substituem os terrestres

A Rússia tem vindo a aumentar a utilização de mísseis de defesa anti-aérea por falta de mísseis de ataque terrestres, revelaram os serviços de informação britânicos esta sexta-feira no seu boletim diário.

A Rússia já terá implantado em redor da Ucrânia sistemas estratégicos de defesa aérea S-300 e S-400, que servem para abater aviões e mísseis a longa distância. Tais armas podem constituir uma ameaça significativa para as tropas ucranianas em edifícios abertos, mas é pouco provável que penetrem em estruturas mais protegidas.

E há ainda uma grande probabilidade de estas armas falharem os alvos pretendidos e atingirem civis em vez disso, alertou o Ministério, visto que estes mísseis não estão otimizados para tal função e, além disso, não haverá muito tempo para treinar as tropas nesse sentido.

Entretanto, o governador de Luhansk, Sergei Haidai, disse no Telegram que “os russos estão a atirar todas as suas reservas para a batalha”, citado pelo Guardian. “Praticamente todas as aldeias e cidades onde as armas do inimigo podem chegar atualmente foram bombardeadas com artilharia durante o dia de ontem”.

As autoridades ucranianas denunciaram também esta sexta-feira a morte de cinco civis, pelo menos, em ataques levados a cabo na quinta-feira pelas forças russas em várias localidades da região de Donetsk, avançou a Europa Press.

“A Rússia mata civis”, disse o chefe da administração regional de Donetsk, Pavlo Kirilenko, no Telegram. Três civis morreram nos ataques em Siversk, um em Pavlivka e outro em Mariintka, além de que dez outras pessoas ficaram feridas.

“Desde o início da invasão russa da guerra, foram mortos 637 civis e outros 1641 feridos como resultado do bombardeamento na região de Donetsk”, indicou, declarando que, “neste momento, é impossível especificar o número exato de vítimas em Mariupol e Volnovaja”.

Rússia acusa Ucrânia de atacar central de Zaporíjia

Na quarta-feira, num comunicado citado pela Reuters, o ministério da Defesa russo acusou os ucranianos de usarem “dois drones kamikaze para atacar as instalações da central nuclear de Zaporíjia”. “Foi apenas por pura sorte que não provocou danos nos equipamentos da central nem um desastre provocado por mão humana”, acrescentou.

Pouco antes, a Ucrânia tinha acusado Moscovo de colocar tropas na central nuclear e ali armazenar equipamento militar.

A agência nuclear ucraniana Energoatom, cujos funcionários ainda se mantêm na central apesar de as forças russas a controlarem, assegurou que a Rússia estava a exigir o acesso às salas das máquinas de três reatores. A agência alega que as forças russas têm receio que a Ucrânia ataque a central para a recuperar.

Espionagem russa reduzida para metade

O chefe da agência de serviços secretos britânica MI6, Richard Moore, afirmou esta sexta-feira que a capacidade de espionagem russa na Europa foi reduzida a metade após a expulsão de mais de 400 agentes, num discurso durante o Fórum de Segurança realizado em Aspen, no estado norte-americano de Colorado.

Citado pela CNN, assegurou que é por causa disso que a invasão russa da Ucrânia está “a perder força”, com a expulsão de agentes e a prisão de vários espiões disfarçados de civis em todo o continente a reduzir para “metade a capacidade da Rússia de espiar na Europa”.

O britânico acredita que a Rússia “fracassou significativamente” nos seus objetivos iniciais de tomar a capital, Kiev, e derrubar o governo ucraniano, estando atualmente a usar tropas como “carne para canhão” na ofensiva para conquistar o controlo do leste da Ucrânia.

Os russos terão cada vez mais dificuldade em reunir tropas e, por isso, “terão que fazer uma pausa e isso dará aos ucranianos a oportunidade de contra-atacar”, disse, garantindo que os ucranianos permanecem com a moral em alta e que “começam a receber quantidades crescentes de bom armamento” dos aliados ocidentais.

Quanto à saúde do Presidente russo, Moore assegurou que “não há provas de que [Vladimir] Putin esteja a sofrer de graves problemas de saúde”. Essa opinião foi também defendida na quarta-feira pelo diretor da CIA, Bill Burns. “Tanto quanto sabemos, [Putin] está demasiado saudável”, afirmou.

Zelenskyy desmente rumores sobre a sua saúde

Zelenskyy negou os “falsos rumores” sobre o seu alegado grave estado de saúde. “Como todo o respeito aos idosos, 44 não é 70“, afirmou numa referência à idade de Putin, que em outubro completa o 70.º aniversário.

No vídeo, partilhado no Instagram e traduzido pela Ukrainska Pravda, Zelenskyy denunciou que estas informações sobre a sua saúde foram transmitidas quando algumas estações de rádios ucranianas foram alvo de ataque de hackers.

“Hoje, a Rússia espalhou mais notícias falsas em que alegam que o Estado não está a ser governado pelo Presidente Zelensky porque ele está no hospital, ou melhor, nos cuidados intensivos, devido a uma condição séria. Por isso aqui estou, no escritório”, disse ainda.

O líder ucraniano garantiu que nunca se sentiu tão bem como agora, acrescentando que as “más notícias” para aqueles que divulgam este tipo de notícias falsas é que há “40 milhões de pessoas como ele”.

Os comentários de Zelenskyy surgem no mesmo dia em que o Kremlin rejeitou as “notícias falsas” de que Putin estava, também ele, doente.

Taísa Pagno , ZAP //

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