Manuel Monteiro, o antigo presidente do CDS que quer voltar a inscrever-se no partido, não terá resposta da direção até haver um sucessor para o lugar de Assunção Cristas.
A carta que Manuel Monteiro enviou à secretaria-geral do partido na semana passada, em que questionava qual a base legal e regulamentar para a sua refiliação estar a ser travada, ficará sem resposta pelo menos até janeiro de 2020, data do próximo congresso do partido.
Essa carta, juntamente com a ficha de militante de Monteiro, farão parte da “pasta de transição” que será entregue ao próximo líder do partido, de acordo com o semanário Expresso, que confirmou essa informação junto várias fontes da direção do CDS.
Segundo os estatutos do partido, a refiliação deveria estar dependente da aprovação da concelhia onde o processo fosse entregue – coisa que aconteceu há mais de um mês, quando a concelhia da Póvoa de Varzim aceitou, por unanimidade, o regresso de Manuel Monteiro.
No entanto, o processo travou na secretaria-geral, que nunca chegou a enviar ao ex-presidente o novo cartão de militante, gerando críticas dos apoiantes de Monteiro a um suposto “veto de gaveta”. O ex-presidente disse mesmo ao Expresso, na semana passada, que o CDS “não é um partido pária” e que deve respeitar os próprios estatutos, porque isso distingue “uma democracia de uma ditadura”.
Para a direção atual, o caso de Monteiro tem especificidades que não permitem que seja tratado da mesma forma que o resto das inscrições. Monteiro, que presidiu ao CDS antes de Paulo Portas, saiu do partido e chegou a fundar um concorrente, o Nova Democracia. Com isso “roubou votos e deputados”, fez “do CDS um alvo” e, já depois do fim Nova Democracia, apelou à abstenção em várias eleições.
O regresso de Manuel Monteiro, era desejado por vários setores do partido, mas também visto como uma afronta pelos mais próximos do “portismo”. Há um ano e meio, Assunção Cristas assumiu que o regresso de Monteiro viria abrir “feridas” antigas e incomodar pessoas próximas de si.
Monteiro chegou a dizer ter apenas uma razão para hesitar quanto à filiação: os rumores que corriam e lhe apontavam uma suposta ambição para se candidatar de novo à liderança do CDS. O antigo presidente dos centristas assumia que votaria nestas eleições no seu ex-partido, mas assegurava não ter “absolutamente planos nenhuns” para avançar com nova candidatura.
Em 1998, após um mau resultado autárquico, Manuel Monteiro anunciou a demissão da direção do partido. No congresso para eleição de uma nova liderança, Monteiro apoiou Maria José Nogueira Pinto contra Paulo Portas, que acabou por conquistar a presidência do CDS.
Em 2003, já desfiliado do CDS, Manuel Monteiro fundou um novo partido a Nova Democracia, cuja liderança abandonou em 2008. Desde 2010, depois de ter sido cabeça de lista do Nova Democracia/Missão Minho no círculo de Braga nas legislativas de 2009, afastou-se de qualquer atividade partidária.
O CDS obteve 4,25% nas eleições legislativas, passando a sua representação parlamentar de 18 para cinco deputados. Os resultados levaram a líder centrista, Assunção Cristas, a deixar a liderança do partido. Logo no domingo, Filipe Lobo d’Ávila afirmou-se “em estado de choque” com os resultados do partido.
João Almeida e Filipe Lobo d’Ávila, dois dos nomes apontados para substituir Cristas na liderança do partido, apresentam uma moção de estratégia global ao Congresso, na qual pode vir uma candidatura à liderança. Pedro Mota Soares, outro nome apontado, diz que “não é candidato a nada”.
Adolfo Mesquita Nunes, depois de ter sido desafiado por António Pires de Lima a avançar para a sucessão de Assunção Cristas, anunciou que não será candidato à liderança do CDS.
Telmo Correia era outro dos nomes que alguns não descartava, devido à “experiência governativa” e por ser, a par de João Almeida, um dos cinco deputados eleitos este domingo. Porém, o deputado já anunciou que não se vai candidatar.
O presidente da Juventude Popular (JP), Francisco Rodrigues dos Santos, anunciou que vai apresentar “em nome próprio” uma moção de estratégia global ao congresso do CDS pela “reconstrução de um novo partido velho”, o que pode abrir portas à candidatura à liderança do partido.