Cavaco elogia um ministro de Costa (e explica memória de elefante com técnica incomum na política)

Cavaco Silva lança bicadas a António Costa, mas elogia um dos seus ministros, numa entrevista onde explica que tem uma competência técnica que “poucos outros políticos têm” que lhe permite ter uma “memória de elefante” quanto aos dias em que esteve à frente do país.

“Deixei tudo escrito em detalhe”, refere Cavaco Silva em entrevista no programa “Sob Escuta” da Rádio Observador, no âmbito do lançamento do seu 25.º livro – “O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar“, salientando que prestou “contas” sobre as funções que desempenhou, como ministro das Finanças, primeiro-ministro e Presidente da República.

Esta “memória de elefante” sobre o que aconteceu deve-se a “uma qualidade que poucos outros políticos têm” – “aprendi estenografia”, explica Cavaco Silva na entrevista.

A estenografia é uma técnica de escrita com abreviaturas que permite registar informação rapidamente, ao mesmo tempo que se fala.

Cavaco Silva conta que estudou no ensino técnico e que tirou o curso de contabilista no Instituto Comercial de Lisboa, onde aprendeu estenografia.

Isto significa que, “numa reunião, eu era capaz de registar praticamente tudo aquilo que eu dizia e aquilo que o meu interlocutor dizia”, salienta, frisando que é por isso que os seus livros de memórias “são muito detalhados”.

Quando terminavam as reuniões, fazia “uma gravação” de “todos esses apontamentos” e “uma secretária imediatamente transcrevia”, relata ainda.

Por isso, assegura “aos portugueses que aquilo que está lá escrito [nos seus livros] foi exactamente aquilo que se passou” e que registou “na hora”, acrescenta na mesma entrevista.

Amuo de Costa “não é normal”

Na Rádio Observador, Cavaco revela também que enviou o seu livro sobre “a arte de governar” ao primeiro-ministro António Costa e que este lhe “agradeceu”.

Apesar das “divergências políticas profundas” e “contrariamente ao que muitos pensam, tenho uma relação pessoal normal com o senhor primeiro-ministro”, reforça

Cavaco deixa, contudo, várias bicadas a Costa e aos seus ministros, recomendando, nomeadamente, que devem ter “cuidado com a mentira” porque “corrói”.

Nesta toada, critica Costa pelo recente “amuo” no Conselho de Estado, considerando que “não é normal” e que, em 28 anos de presença neste órgão, não se lembra de um primeiro-ministro ter ficado em silêncio.

Elogio a um ministro e o caso Galamba

Cavaco também critica o Governo no geral, e só deixa um elogio para um ministro de Costa, notando que José Luís Carneiro que tem a pasta da Administração Interna, é “uma pessoa de bom senso”.

Neste sentido, o antigo primeiro-ministro cita três casos no Executivo socialista de “clara manifestação de falta de bom senso”, designadamente, o ministro das Infraestruturas João Galamba, a secretária de Estado Patrícia Gaspar que se referiu ao algoritmo dos incêndios na Serra da Estrela, e a ministra da Agricultura Maria do Céu Antunes devido à polémica com os agricultores.

Quanto ao caso de João Galamba que esteve, nomeadamente, envolvido numa polémica com o seu ex-Secretário de Estado, Cavaco defende que Costa o devia ter demitido do cargo. “Foi tão esquisito, ultrapassou tudo o que se podia imaginar”, refere.

E o antigo Presidente da República deixa um conselho a Costa neste âmbito. “O primeiro-ministro pode enganar-se na escolha de um ministro, mas tem de ter a coragem de, quando concluir que se enganou, propor ao Presidente da República a sua demissão”, sublinha.