Costa “amuado” enquanto Marcelo ralhava com o Governo: “cada um no seu galho”

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Rodrigo Antunes/Lusa

Reunião do Conselho de Estado teve lugar esta terça-feira no Palácio de Belém, em Lisboa

Metade do discurso de Marcelo “picou” o Governo, mas Costa nunca respondeu. “Cada um deve estar no seu próprio galho”, disse horas antes da reunião do Conselho de Estado, retomada esta terça-feira precisamente “para o primeiro-ministro ter oportunidade de discursar”.

Marcada em julho pelo presidente da República na sequência da demissão do ministro das infraestruturas João Galamba, da comissão de inquérito à TAP e da atuação do SIS, a reunião do Conselho de Estado foi retomada esta terça-feira no Palácio de Belém, em grande parte para o primeiro-ministro ter oportunidade de discursar.

Tudo estava concluído e, para Marcelo, só faltava mesmo “a intervenção do senhor primeiro-ministro, se ele quiser tê-la, porque ele não teve oportunidade de ter no final das intervenções dos demais conselheiros [a 21 de julho] e depois a intervenção do Presidente da República.”

No entanto, enquanto o presidente da República fazia, ao longo de quase duas horas e meia, reparos à situação atual do país, o primeiro-ministro terá ficado praticamente em silêncio absoluto ao longo de toda a reunião decorrida esta terça-feira.

Após abdicar da palavra e não se dirigir aos conselheiros de Estado na passada reunião de julho, por ter de viajar para a Nova Zelândia para assistir ao Mundial de Futebol Feminino, o primeiro-ministro viu ser agendada esta segunda reunião onde teve oportunidade de o fazer, mas mesmo assim voltou a optar pelo silêncio, fazendo jus às afirmações que teceu horas antes, segundo o Público: se em tempos chegou a ser comentador, agora é um “fazedor” a quem cabe “executar” como líder do Governo e não “falar, discursar” como cabe aos outros.

Guerra, TAP e crise política na agenda. Costa só falou da PJ

Mas se António Costa se rendeu ao silêncio, Marcelo Rebelo de Sousa discursou durante 20 minutos perante a mesa composta pelo Presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva, a provedora da Justiça, Maria Lúcia Amaral, o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, os antigos presidentes da República, General António Ramalho Eanes e Aníbal Cavaco Silva (todos membros por inerência); António Lobo Xavier, Lídia Jorge, Luís Marques Mendes e Leonor Beleza (membros designados pelo Presidente da República, por mandato); Carlos César, Francisco Pinto Balsemão, Manuel Alegre, António Sampaio da Nóvoa e Miguel Cadilhe (eleitos pela Assembleia da República, pelo período da legislatura).

Ausentes três conselheiros (o Presidente do Governo regional da Madeira, Miguel Albuquerque, o presidente do Tribunal Constitucional, José João Abrantes, e o neurocientista António Damásio) sem justificações dadas, o chefe de Estado remeteu para os 14 presentes sua apreciação sobre a comissão de inquérito do dossier da TAP — na qual não faltaram críticas quanto à sua gestão política — e aproveitou para abordar a crise política vivida no Governo, referindo-se à névoa sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa e ao ministro diretamente envolvido, Pedro Nuno Santos.

O conflito na Ucrânia, segundo ponto da ordem de trabalho, a nota indicou que foi “reafirmada a solidariedade e admiração pela resistência do povo ucraniano e reconhecido todo o apoio que Portugal — com plena concordância entre os órgãos políticos de soberania — tem prestado, nas suas múltiplas dimensões, nomeadamente política, diplomática, militar e humanitária”, acrescentando que “foi ainda assinalado o compromisso de Portugal no processo de integração da Ucrânia na União Europeia e na NATO”. Felicitado pela visita de sucesso à Ucrânia e por Portugal falar a uma “única voz” no apoio ao país invadido, Costa, mais uma vez, não teceu comentários.

Costa só terá falado mesmo no início da sessão em relação às regras em torno das operações de buscas da Polícia Judiciária. Após intervenção dos conselheiros, resguardou-se no silêncio.

Em relação ao diploma do pacote Mais Habitação, que se prepara para ser confirmado pela maioria absoluta do Partido Socialista após ser vetado por Marcelo — que o deve promulgar —, Costa foi claro: vai simplesmente aguardar a decisão.

“Para que o Estado funcione bem, cada um deve estar no seu próprio galho e fazer aquilo que lhe compete”, afirmou horas antes da reunião.

Montenegro critica postura de um Costa “amuado”

O presidente do PSD, Luís Montenegro, criticou esta terça-feira a eventual postura de António Costa na reunião de Conselho de Estado, afirmando que o primeiro-ministro se apresentou “amuado” e sem apresentar explicações aos conselheiros de Estado.

“Houve um Conselho de Estado e parece que houve um primeiro-ministro amuado. Houve um primeiro-ministro que não prestou explicações aos conselheiros de Estado, ao senhor Presidente da República, não prestou explicações sobre a situação económica, sobre a situação social, sobre aquilo que é a sua responsabilidade“, criticou.

“Eu não sei se o primeiro-ministro tenciona andar a vitimizar-se à conta desse conflito que está a criar com o senhor Presidente da República para ver se tem algum ganho político, partidário, eleitoral no próximo ano, não sei, desconfio, que deve ser qualquer coisa como isso”, acrescentou.

ZAP // Lusa

10 Comments

  1. O “amuado” e também aldrabão, já se deve ter esquecido do que disse no início desta maioria absoluta: que maioria absoluta não significa poder absoluto e, de qualquer modo cá estaria sempre o presidente para não deixar que isso acontecesse…
    Tal como os outros do seu governo, parece que a memória é curta e a aldrabice não tem fim!

  2. Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, é pois o ditado que se me apraz mencionar neste comentário. Este silêncio de Costa deveu-se a vários fatores, desde logo a querer descredibilizar o Conselho de Estado e quem o Preside, segundo, estava mais preocupado com o que deveria dizer na rentrée do PS do que no Conselho de Estado, terceiro, num ambiente que lhe é totalmente adverso, e que Costa não pode contrariar estando isolado, confrontado com as suas irresponsabilidades e incompetências, nunca assumidas por uma total falta de humildade, assim como do seu Governo que nos continua a não governar empurrando-nos para a pobreza e miséria, como se fosse para isto que um qualquer país de uma suposta Europa evoluída tem um Governo, sabendo-se como se sabe da alergia de Costa em fazer investimentos em Infra estruturas como as casas para rendas sociais prometidas todos os anos mas nunca construídas, nem uma, continuando a não respeitar a sua própria palavra dada no exercício das funções inerentes ao cargo que ocupa e pelo qual é pago pelo erário público português, o que só o qualifica, como podem qualificar os portugueses que continuam a ser enganados todos os dias por este Primeiro Ministro que nunca soube governar o país, provando-nos todos os dias que como o seu Governo nunca estiveram à altura das necessidades do país e do seu povo, o que se verifica sem brio profissional algum, quando o desemprego voltou a aumentar mesmo sem esquecer ser o país da UE com cada vez maior precaridade laboral imposta aos seus cidadãos, e depois admiram-se de a juventude virar as costas ao Costa e ao país que não lhes dá esperança nenhuma assim como aos idosos e reformados que a exemplo dos trabalhadores continuam a ser empurrados para a pobreza e miséria, por lhes serem impostos aumentos anuais abaixo da taxa de inflação, milhares sem médicos de família e sem acesso aos cuidados de saúde primários como o cidadão de 93 anos que morreu ontem á porta de um serviço de saúde que se recusou a assistir aquele cidadão. É esta a imagem que queremos de Portugal em 2023?

  3. O PM deveria ter dito cada “papagaio” no seu galho , pois todos não passam de gralhas e papagaios , começando pela oposição acabando nos ex-PM e ex PR …. custa a engolir as maiorias , ainda por cima quando pensavam que iam ganhar ….. basta salivar mais um pouco , pode ser que consigam, vão ter que o mastigar
    PM silencioso , (ainda bem ) …. pois os outros apenas cacarejam ….. nada fizeram melhor

  4. Mas que raio foi o Costa fazer em ir a esta peça Teatral se era para não intervir ? ………Porque en resumo , uma vez tudo espremido só revela que os frutos estão secos , este verão esteve mesmo muito quente !

  5. Muito bem, Anastácio. Somos praticamente o país mais pobre da União Europeia. E já lá vão quase oito anos e cada vez é maior a miséria. Este Costa fazia um grande favor aos portugueses se deixasse o governo fosse para um cargo na Europa (se o lá quisessem). Em todos os setores da governação é uma lástima, o que prova que este gajo não tem pedalada para governar o país.

  6. Por que é que se critica o PM por não estar de acordo com o PR e não se critica o PR por estar em desacordo com o Governo?
    Em democracia cada órgão tem os seus poderes e exerce-os de acordo com o mandato que lhe foi conferido pelo povo, não para fazer a vontade a outro órgão de soberania.
    Era só o que faltava!!!
    Já se esqueceram quando Cavaco era PM e estava permanentemente em desacordo com Soares até exclamando ” deixem-nos trabalhar” ou referindo-se ao PR da altura como ” força de bloqueio”?
    O que se diria se o actual PM apelidasse o actual PR de força de bloqueio?
    É preciso ter memória e ser coerente porque a relação na altura era muito pior e as instituições funcionavam.
    Mas os nossos jornalistas ( não estou a visar o ZAP, note-se), na sua grande maioria, não sabem fazer o trabalho de casa investigando o que se passou nesse tempo e compará-lo com o que se passa hoje. De modo que encharcam-nos com informação habilidosa.
    Haja paciência!

  7. Xu-Ladrôes …. nome engraçado deve ser alusivo a algo…

    Não sou rico, nem sou pobre, sou feliz porque vivo no melhor país do mundo .
    Parem de cuspir no prato que comem …
    Acabem com a maledicência …
    Fui imigrante no tempo da ditadura , trabalhei e ganhei o que merecia , voltei quando fomos libertados
    Alguns deveriam ter passado por esse tempo, valorizavam o que têm ….

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