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Desabafo da ministra da Agricultura abre guerra com a CAP (e os estilhaços chegam ao Governo)

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Nuno Veiga / Lusa

A ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes (E), e a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes (D).

Está o caldo entornado entre a ministra da Agricultura Maria do Céu Antunes e a Confederação do sector, com acusações de “bullying” político e de “tiques de autoritarismo” pelo meio. E já há quem peça a cabeça da ministra.

A tensão entre a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, e a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) começou com o desagrado desta perante a falta de respostas do Governo para ajudar a lidar com o impacto da seca na produção agrícola.

“É melhor perguntar porque é que durante a campanha eleitoral a própria CAP aconselhou os eleitores a não votar no Partido Socialista“, apontou a ministra aos jornalistas, em jeito de resposta aos atrasos nos apoios, numa declaração que fez estalar de vez o verniz.

PSD fala em “tiques de autoritarismo”

As palavras de Maria do Céu Antunes levaram a CAP a falar em “bullying político” enquanto o PSD acusa a ministra de ter “tiques de autoritarismo”. Críticas que se estendem ao próprio Governo de António Costa.

“A reacção da ministra da Agricultura em relação à CAP é uma reacção descabelada e que demonstra, mais uma vez, um total desrespeito por parte do Governo relativamente a instituições”, aponta à agência Lusa o secretário-geral do PSD, Hugo Soares.

Hugo Soares sublinha que fica “demonstrado, mais uma vez, que há um padrão de tiques de autoritarismo por parte do Governo do PS” que, na sua opinião, já tinha sido evidenciado aquando do despacho do primeiro-ministro relativamente ao caso da Endesa.

O responsável do PSD ainda nota que o Governo confunde “aquilo que é uma maioria absoluta com o poder absoluto“.

CDS exige demissão da ministra

A Iniciativa Liberal (IL) junta-se às críticas e quer a ministra da Agricultura a dar explicações no Parlamento, considerando “inaceitável” a sua posição e notando que dá “a entender que a gestão do Ministério é decidida em função dos estados de alma da responsável pela pasta e que estes dependem do apoio que as suas associações representativas testemunham, ou não, ao PS”.

“A democracia não se coaduna com a promoção da ideia de que quem não apoia o PS não merece resposta ou acaba mesmo por ser prejudicado e quem apoia é recompensado”, critica ainda a IL.

Já o CDS-PP vai mais longe e exige a demissão de Maria do Céu Antunes, falando de uma “absoluta instrumentalização do Estado em favor do PS, ou de quem é próximo ou apaniguado do PS, sendo o contrário motivo de perseguição ou discriminação pela tutela”.

“A ministra da Agricultura deixou de ter quaisquer condições de isenção, distanciamento e dimensão de Estado para poder continuar a ocupar o cargo”, apontam ainda os centristas em comunicado, considerando que Maria do Céu Antunes já revelava “manifesta falta de capacidade para a função”.

O Chega, por seu turno, exige que a ministra “se retrate publicamente através de um pedido formal de desculpas à CAP e a todos os agricultores nacionais”. Sem esse mea culpa, o partido vai pedir ao primeiro-ministro a demissão de Maria do Céu Antunes, pois considera que se trata de “um ataque sem precedentes” e de “um acto de pura vingança política” por parte da ministra.

PCP só quer “resolver os problemas da agricultura”

Noutro sentido, o PCP desvaloriza a polémica e vinca que “o essencial é resolver os problemas da agricultura”, conforme palavras do membro da Comissão Política do Comité Central comunista, Jorge Pires.

Este dirigente comunista nota que é preciso “apoiar a pequena e média agricultura que tem sido muito prejudicada ao longo destes últimos anos, mas não apenas isso”.

“Temos problemas sérios na zona dos incêndios com a pastorícia, com as questões do gado, da madeira, enfim, de uma forma geral a agricultura e floresta exigem medidas que não têm vindo a ser tomadas”, acrescenta.

“É o fim da linha”, avisa a CAP

O desconforto entre a ministra da Agricultura e a CAP não é de agora. Nos últimos meses, os agricultores têm desesperado com o atraso na chegada dos apoios prometidos pelo Governo. Em causa estão os impactos da seca e da guerra na Ucrânia no sector.

“Criticámos a ministra por falhas na anterior legislatura e estamos a fazê-lo agora pelas mesmas razões. A seca começou no ano passado. Houve muitas promessas e muitos anúncios de milhões, mas ninguém recebeu um euro. Nem relativamente à seca nem à crise na Ucrânia”, explica ao Observador o secretário-geral da CAP, Luís Mira.

Mira critica ainda que “não há capacidade para agir, só para anunciar e fazer propaganda”. “A seca tem um impacto brutal e o Governo não pode alegar que tem falta de verbas, porque não tem”, vinca ainda o responsável da CAP, frisando que o Executivo “arrecadou em impostos, em três meses, o mesmo que o Alqueva custou em 25 anos”.

Na quarta-feira, a ministra da Agricultura garantiu que o Governo “está a fazer tudo” para apoiar o sector com verbas extraordinárias, realçando que há “mais de 100 milhões de euros, neste momento, que estão comprometidos para chegar aos agricultores”.

Mas a CAP ficou perplexa com as declarações da ministra quanto à falta de apoio ao PS na campanha eleitoral. “A ministra não paga aos agricultores e adia decisões por retaliação política à CAP?”, questiona a entidade em comunicado, apelando “ao escrutínio do verdadeiro sentido destas declarações”.

A CAP também explica que durante a campanha eleitoral, apelou à “rejeição do voto” no PS e em todos os partidos “que tivessem intenção de coligar-se com o PAN ou com todos os partidos anti-agricultura e anti-mundo rural“.

Agora, o desagrado é tal, que os agricultores já admitem fazer protestos. “Quando se parte para uma manifestação é porque todas as outras formas de diálogo foram esgotadas. É o fim da linha“, nota Luís Mira no Observador.

“Esperamos não ter de chegar a esse ponto mas, se as coisas se alterarem, não haverá outra solução”, avisa ainda.

ZAP // Lusa

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12 Comments

  1. Apenas constatou um facto, que não é de hoje, desde a sua criação por via de 90% CDS e 10% do PSD, hoje com a inexistência do CDS está dependente do PSD a 100%, e a Ministra apenas constatou esse facto, ou seja, uma organização como tantas (infelizmente, que vive escondida como associação, neste caso agricultores, mas que nada faz por eles, e vão ficando podres de ricos á custa dessa capa, assim é um facto que todas as suas intervenções são político-partidárias, para os agricultores vale zero.
    Para a maioria dos Partidos, mais propriamente o PSD, os outros são seguidores, a democracia é apenas para eles, uma Ministra que é uma pessoa não tem o direito de se pronunciar, é-lhe coartada a liberdade de expressão e de pensamento, um direito reservado ao PSD.

  2. Fugiu-lhe a boca para a verdade. Quem não apoia abertamente o PS vê as portas todas fechadas. Seria bom que se investigasse no âmbito do Portugal 2020 quem tem projetos aprovados e quem tem projetos indeferidos. Nalguns programas operacionais é um verdadeiro escândalo. O ministério público deveria investigar.

    • Com tanto ano na governação, o PS é sinal de pobreza e estagnação do país. A maioria deste povo não há meio de acordar. Estamos quase e novamente no chafurdo e a cauda da Europa já se avista.

  3. Vergonha! Vergonha! Vergonha!
    Como diria o Ventura, aquele tipo com pinta de cigano…
    Só que vergonha é algo que a gentinha do Ps desconhece, por isso atreve-se – com a maior das latas – a explicar que a situação se deve ao facto da CAP ter apelado ao voto contra o PS…
    Caso tivesse apelado ao voto a favor do PS, nada destes problemas se teriam verificado, porque não teria havido retaliação. Obviamente, como é óbvio!

  4. Mas que se passa com estes comentários?
    É mentira? Não pode a ministra expressar a sua opinião baseada em factos? Ficam melindrados e ofendidos por cada “verdade que dói” que seja proferida?
    Já agora o CDS ainda BUFA? Aquilo não acabou já? Se continuam a opinar, então quero saber o que diz o MRPP também.

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