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“Paradoxalmente” Cavaco contribuiu para a estabilidade do Governo

Tiago Petinga / Lusa

O primeiro-ministro António Costa é entrevistado no Ciclo de Conversas “30 Portugueses, 1 País” em Lisboa

O primeiro-ministro afirmou nesta terça-feira que, “paradoxalmente”, a exigência do ex-Presidente da República Cavaco Silva de um acordo escrito, com horizonte de legislatura, entre PS, Bloco, PCP e PEV, deu “um grande contributo” para a estabilidade deste Governo.

António Costa assumiu estas posições em entrevista em Lisboa concedida ao jornalista Luís Osório, integrada no ciclo de conferências do grupo de turismo “PortoBay”, intitulada “30 pessoas e um país”, num período em que falou sobre a formação do atual Governo minoritário socialista, suportado no parlamento pelo PCP, Bloco de Esquerda e PEV.

Neste capítulo, o primeiro-ministro deu uma resposta surpreendente quando se pronunciou sobre as razões de o atual executivo já estar em funções há mais de três anos, encontrando-se em vias de terminar a legislatura.

“Curiosamente, quem deu um grande contributo para a estabilidade desta solução foi o então Presidente da República [Cavaco Silva], quando exigiu que houvesse uma expressão escrita de um acordo no horizonte da legislatura. Houve uma fase em que não era evidente que todos [os partidos] estivessem disponíveis para assinar um documento para o horizonte da legislatura”, referiu, numa alusão indireta à posição do PCP.

Ora, segundo António Costa, “essa posição do então Presidente da República, paradoxalmente, contribuiu para uma solução de estabilidade“.

A entrevista teve alguns momentos de humor, designadamente, quando o jornalista Luís Osório perguntou a António Costa se estava a dar “um abraço de urso” ao PCP. O primeiro-ministro respondeu imediatamente: “Acho que não tenho vocação para urso”, disse, provocando risos na plateia.

No plano estritamente político, António Costa assumiu mesmo que fala num estilo de maior proximidade com o PCP do que, por exemplo, com o Bloco de Esquerda. “Se as pessoas acham isso, é porque deve ser assim. Talvez tenha a ver com o meu pai, mas tem a ver sobretudo com anos de experiência, porque participei nas negociações de 1989 que geraram a coligação “Por Lisboa” liderada por Jorge Sampaio”, começou por justificar.

O primeiro-ministro referiu depois que possui “muitos anos de trabalho com o PCP” – uma força política que elogiou da seguinte forma: “É um partido com um grande sentido institucional, com que é muito duro negociar, mas há uma relação de fiabilidade e de confiança muito grande”, salientou.

Ao longo da entrevista, António Costa referiu, com humor, que, entre 1995 e 1999, foi “o Pedro Nuno Santos do Governo de António Guterres”, tendo desempenhado as funções de secretário de Estado e depois de ministro dos Assuntos Parlamentares.

Mais à frente – e apesar de ter reconhecido que escolheu Fernando Medina para lhe suceder nas funções de presidente da Câmara de Lisboa -, Costa fez questão de salientar que a via será diferente no seu partido e que não escolherá “o herdeiro” no cargo de secretário-geral do PS entre Fernando Medina, Pedro Nuno Santos, Ana Catarina Mendes “ou outros”.

// Lusa

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