O deputado do Chega Miguel Arruda assegurou a sua inocência no caso em que é arguido por furto de malas no aeroporto, e revelou que vai pedir o levantamento da imunidade parlamentar numa entrevista onde falou em “cabala” e em imagens geradas por IA.
Miguel Arruda passou a deputado não inscrito, desvinculando-se do Chega, depois de ter sido acusado de furto de malas no aeroporto de Lisboa, e após uma “conversa muito franca, muito aberta” com André Ventura, conforme notou em entrevista à TVI.
Mas apesar do afastamento oficial do partido por que foi eleito nos Açores, Arruda assegurou que vai continuar a votar ao lado do Chega – “é o partido dos meus ideais”.
Na mesma entrevista, também salientou que vai pedir o levantamento da imunidade parlamentar para esclarecer “rapidamente” este assunto, e comprovar que está “inocente”, como garantiu à jornalista Sandra Felgueiras.
Apesar da suspeita de furto qualificado, crime punível com pena de prisão superior a 5 anos, Arruda recusa sair do Parlamento porque isso seria “meter o rabinho entre as pernas”.
“Estou ali para dar a cara e no sítio certo, nos tribunais, demonstrar cabalmente a minha inocência”, reforçou.
Sobre as malas e as suspeitas de furto, o deputado escudou-se no segredo de Justiça e não deu grandes esclarecimentos.
“Trazia malas minhas que são da minha propriedade, que trouxe para o Continente vazias e que depois, levava para os Açores com mercadorias que comprava cá, ou que mandava vir da Internet, porque cá recebemos muito mais rapidamente”, explicou sobre o facto de lhe terem sido apreendidas várias malas.
Arruda nota que comprava em sites como “Vinted, Ali Express, Shein, Temu” e que levava essas “mercadorias” para si, e para outras pessoas nos Açores, nomeadamente para a esposa e para as filhas.
Arruda não se lembra de ter conta na Vinted
Saíram notícias indicando que o deputado do Chega teria um perfil na Vinted, plataforma de venda de roupa em segunda mão, com o nome “MiguelArruda84” (o deputado nasceu em 1984), que seria usado pelo próprio para vender os artigos alegadamente roubados das malas.
O comentador socialista Miguel Prata Roque fez referência a esta conta da Vinted no Instagram.
“Quem quiser comprar roupa em segunda mão, de homens, mulheres, crianças e de todo o género e feitio, consulte o perfil de miguelarruda84”, escreve o socialista, notando que foi criado “há 8 meses atrás, curiosamente quando os deputados à Assembleia da República tomaram posse”.
Ver esta publicação no Instagram
Este perfil na Vinted foi desactivado “20 minutos depois” de a redacção da RTP1 ter enviado uma “mensagem ao utilizador MiguelArruda84”, como relata a jornalista Rita Marrafa de Carvalho na rede social X.
Mas antes disso, a RTP1 conseguiu espreitar a conta na Vinted, confirmando que foi aberta há 8 meses e que vendeu mais de 180 artigos, incluindo roupas para homem, mulher e criança, com diferentes tamanhos, do S ao XXL, e também sapatos para vários tamanhos de pés.
Tinha também alguma roupa nova, ainda com etiquetas.
Algumas das fotografias dos produtos à venda aparecem em cima de malas, e em algumas das imagens, é possível ver produtos de higiene dentro de sacos plásticos transparentes que são habitualmente usados em aeroportos.
A RTP1 apurou ainda que o email associado a esta conta Vinted é o mesmo que o deputado facultou ao Chega.
A @RTP1 começou cedo a ver o site da Vinted. Encontrou o perfil ainda aberto. Enviámos mensagem ao utilizador MiguelArruda84.
20 minutos depois, o perfil foi desactivado. https://t.co/V4Hoy16DBp— Marrafa de Carvalho (@RitaMarrafadeC) January 23, 2025
Na entrevista à TVI, Arruda disse não ter “memória de ter criado uma conta” na referida plataforma, mas salientou que será da esposa, sem revelar certezas, frisando que talvez a mulher vendesse “umas camisas” suas porque “emagreceu” nos últimos tempos.
“Um lapso” com uma mala da Egyptian Airlines
Quando foi confrontado pela jornalista com o facto de, alegadamente, ter uma equipa do Ministério Público (MP) à sua espera no aeroporto, na passada terça-feira de manhã, altura em que terá sido apanhado em “flagrante” a pegar numa mala que não lhe pertencia da Egyptian Airlines.
Miguel Arruda realçou que “foi um lapso”, mas recusou-se a dar mais explicações, salvaguardando-se no “segredo de justiça”.
Contudo, explicou que foi “abordado pela PSP” e que “não tinha uma equipa do MP à espera, nem uma juíza” – “ainda levaram uma hora e meia, duas horas, a chegarem ao local”, notou.
“Até prova em contrário, estou inocente”, reforçou também, destacando que “a caça às bruxas e a queima de bruxas são tristes tempos passados, e ainda bem que ficaram lá atrás”.
“Podem aparecer imagens de IA”
Arruda desvalorizou as alegadas imagens de vídeo-vigilância do aeroporto que terão apanhado o deputado a pegar em malas que não são suas, e a levá-las para a casa de banho, saindo depois com apenas uma mala grande.
Começando por sublinhar que não tem “memória” de o ter feito, Arruda fala depois das “novas tecnologias” e diz que “até podem aparecer imagens de IA [Inteligência Artificial] a demonstrarem isso”.
“Da maneira que o caso está a ser conduzido, já fui condenado sem nunca sequer ter sido ouvido” pelo MP, lamentou na mesma entrevista, garantindo que “em momento nenhum” se declarou “culpado”.
“Cabala” e perseguição política
Arruda insinuou ainda que está a ser alvo de uma perseguição política por “andar a atacar certos e determinados interesses que estão instalados neste país”, mas recusa especificar a quem se refere.
A jornalista questionou-o sobre se se estaria a referir às insinuações que fez, na semana passada, sobre casos de pedofilia abafados pela justiça nos Açores, visando em particular o presidente do PS no arquipélago, Francisco César.
“Quero acreditar que este processo não seja por causa disso”, mas “ponho em dúvida”, vincou.
Mais à frente, referiu que acredita estar a ser alvo de uma “cabala” do “sistema que se instalou em Portugal”, e que o Chega quer “combater”.
“Vou para São Miguel e não tenho mala nenhuma”
“Eu sou uma pessoa que cumpre a lei, sempre cumpri em toda a minha vida, fui militar inclusive”, notou também Miguel Arruda na entrevista à TVI, lamentando que está “a ser crucificado na comunicação social”.
“Já nem sei quantas malas é que tenho”, atirou também, referindo-se às notícias que têm surgido sobre o número de malas que teria em sua posse.
“Vou amanhã para São Miguel e já não tenho mala nenhuma para ir“, queixou-se, referindo que “foram confiscadas” porque “não tinha a factura das mesmas”.
Sobre as malas encontradas no Parlamento, apontou que vive num “apartamento exíguo”, onde “não dá para ter malas”. Por isso, diz que deixava algumas malas na Assembleia da República.
Miguel Arruda também revela que, além das malas, as autoridades apreenderam “roupa da esposa”, “uns canivetes” e “tralha diversa”.
Este desgraçado é tão limitado de inteligência, que nem percebe que quanto mais fala mais se “enterra”.
Ou será que se eleva?!
Nunca fiando.
Atravessamos um tempo de infantilidades bacocas (para ser branda) mantidas em mentes de “gente” crescida, que ganham(?) eleições.