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Brasileiro finalista do Festival da Canção denuncia ódio e xenofobia

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O cantor Leo Middea que se tornou no primeiro brasileiro a passar à final do Festival da Canção da RTP lamenta que tem sido vítima de “discursos de ódio” e xenofobia, denunciando publicações ofensivas de que tem sido alvo.

A algumas horas da final do Festival da Canção que se realiza neste sábado, para escolher o representante de Portugal para a Eurovisão 2024, o cantor Leo Middea denuncia os comentários ofensivos que tem recebido nas redes sociais, por ser brasileiro.

O cantor de 28 anos que mora em Portugal há sete anos diz que essas ofensas só lhe dão “mais força”, embora lamentando que “os discursos de ódio têm aumentado muito” desde que se tornou no primeiro brasileiro a passar à final do Festival da RTP1 com a música “Doce Mistério”.

“Quer cantar com esse sotaque nojento, que vá representar o seu país que é o Brasil”, atira um utilizador cujo comentário é divulgado por Leo Middea.

“Em Portugal, não és bem-vindo”, atira outro enquanto alguém salienta que espera que o cantor fique “em último”.

“Absolutamente vergonhoso”, escreve outra pessoa enquanto uma outra questiona se “para o ano vamos ter funk de favelas no Festival”.

Só falta entrarem no Festival “intérpretes do Bangladesh, Índia e Nepal“, desabafa outro utilizador.

Também há quem questione o timming da divulgação destes comentários ofensivos quando estamos a algumas horas da final do Festival da Canção.

“Ser imigrante é muito difícil”

Perante a onda de ódio, Leo Middea reforça que as suas “músicas falam sobre Portugal” e que tem entre os seus “principais públicos” muitos portugueses.

O cantor diz que, desde Janeiro deste ano, deu 17 concertos em cinco países diferentes, “onde o público variava entre brasileiros, portugueses, alemães, holandeses, belgas, ingleses, espanhóis, italianos”.

“E foi bonito ver todas essas nacionalidades cantando as praias e os bairros desse país (como as canções: “Banho de Mar” , “Freguesia de Arroios” e “Bairro da Graça”“, escreve também Leo Middea no Instagram.

“Celebrar a diferença é lindo” e “o amor pela música é maior que qualquer ataque”, prossegue, concluindo que “o multiculturalismo é de uma beleza sem tamanho e o intercâmbio entre ritmos e sotaques é valioso”.

Leo Middea também recorda que ser imigrante é “muito difícil”. “A gente deixa um pedaço de nós para trás, pessoas que a gente ama ficam distantes”, “em prol de um sonho que não se sabe bem se se vai realizar”, aponta.

Em sete anos como imigrante, o artista diz que já pensou “em desistir inúmeras vezes: da música, de Portugal, da Europa”. E, por isso mesmo, a passagem à final do Festival do Canção deixa “o sentimento” de que “todas as dificuldades” passadas valeram a pena, constata também.

 

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Leo Middea recebe apoio de cantores portugueses

Carolina Deslandes e Salvador Sobral, o único vencedor português da Eurovisão, já manifestaram o seu apoio a Leo Middea.

“Querem todos falar de sotaque brasileiro no Festival, mas quando o Pepe jogou pela Selecção estavam todos contentes“, destaca Carolina Deslandes. “Só são de fora enquanto não são do vosso interesse”, escreve ainda num comentário à publicação de Leo Middea no Instagram.

“Gritam aos quatro ventos que somos os descobridores e os aventureiros quando invadiram, mataram, e agora falam do quê? O mundo é de quem é do mundo. Somos todos uma mistura de todos os cantos“, continua Deslandes, apelando ao voto nas eleições legislativas no próximo domingo.

Não deixes que o ódio manche o que te faz acordar todos os dias de manhã”, refere ainda a cantora numa mensagem directa para Leo Middea.

“Esse hate [ódio] vai transformar-se em amor e ainda ganhas isso”, escreve, por seu turno, Salvador Sobral, também num comentário no Instagram. A irmã do cantor, Luísa Sobral, que escreveu a música “Amar pelos dois” que venceu a Eurovisão em 2017.

Leo Middea recebe ainda o apoio de outras figuras públicas e até de outros adversários que vão competir com ele na final do Festival da Canção, como é o caso de Iolanda que tem sido apontada como uma das favoritas à vitória, e Buba Espinho.

ZAP //

3 Comments

  1. O problema foi criado na origem, de forma leviana, sem a devida ponderação sobre probabilidades desta natureza. Desconheço se as normas o permitem, mas não me parece uma boa decisão a abertura à participação a estrangeiros.
    O festival da canção não é evento que me mereça muita atenção, mas confesso que adorei quando Portugal ganhou, o mesmo com a canção, que a princípio nem gostei.
    Contextos de ódio e xenofobia à parte, também não me parece propriamente agradável, vermos o nosso país, que tantos talentos tem, representado por um estrangeiro, mesmo que falando a mesma língua.
    Enfim, sendo ou não permitido, não creio que nuna situação inversa, qualquer brasileiro se sentisse confortável.

  2. Meu caro brasileiro,
    As portas do nosso país estão sempre abertas para entrar mas também para sair.
    Se não estás bem por cá….

  3. Eu só quero imaginar se fosse um português em algo do tipo do outro lado do atlântico, sim, naquele país onde se vendem passaportes portugueses nos centros comerciais!!!

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