Festival RTP da Canção: 60 anos, 20 curiosidades

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Salvador Sobral e a irmã, Luísa Sobral, autora da música que venceu o Festival da Canção 2017

Hoje, 2 de Fevereiro, completam-se 60 anos desde que António Calvário inaugurou o palco. Muito aconteceu desde então.

2 de Fevereiro de 1964, Estúdios do Lumiar, Lisboa.

O dia do primeiro Festival da Canção. Faz precisamente hoje 60 anos.

Portugal juntava-se aos outros (ainda poucos) países que já estavam neste concurso musical, que apurava – e apura – o seu vencedor para o Festival Eurovisão da Canção.

Seis décadas depois, deixamos aqui 20 curiosidades. Poderiam estar muito mais, certo.

Nome original
Grande Prémio TV da Canção Portuguesa. Hoje é Festival da Canção, muitas vezes dito Festival RTP da Canção (porque nunca conheceu outra casa), mas no tal dia 2 de Fevereiro foi apresentado como o I Grande Prémio TV da Canção Portuguesa.

1964: Oração
É uma canção conhecida por ser a primeira vencedora do Festival. Mas, curiosamente, foi precisamente a música que inaugurou o palco. António Calvário foi o primeiro a cantar na primeira edição; música de João Nobre, letra de Rogério Bracinha e Francisco Nicholson.

1970: ausência e suspeita
Quem participou em 1970, já sabia que não ia à Eurovisão. Pela primeira vez, a RTP ficava fora do certame europeu porque estava em protesto contra o sistema de votação – em 1969 quatro países ficaram empatados no primeiro lugar; além disso, também em 1969, a Desfolhada Portuguesa ficou apenas no penúltimo lugar. Também em 1970, Canção de Madrugar não venceu (2.º lugar) e, anos mais tarde, o seu intérprete Hugo Maia de Loureiro admitiu que houve boicote àquele poema – de Ary dos Santos – e “alguém” não queria que vencesse, desligando a munição no palco e atrapalhando a sua interpretação.

Ary dos Santos
José Carlos Ary dos Santos. Nome eterno na poesia e no próprio Festival da Canção. Venceu quatro vezes (recordista), com Desfolhada, Menina, Tourada e Portugal no Coração.

1975: apolítico?
Em princípio o Festival da Canção não tem, nem pode ter, qualquer menção política. Mas vamos olhar só para os títulos das canções nesta edição de 1975? Pecado (do) capital, Batalha-povo, Com uma arma com uma flor, Alerta… E a própria vencedora Madrugada. Sim, foi o primeiro festival depois da revolução do 25 de Abril.

1976: a dupla mítica
Nunca se organizou um Festival como o de 1976. Numa fase em que também a RTP andava a experimentar um país novo, nesse ano Carlos do Carmo cantou as músicas todas. Mais do que isso: António Vitorino de Almeida comentou cada música, depois do fim da mesma; cantarolou, opinou, sentou-se ao piano, levantou-se e até fez perguntas ou lançou desafios ao público presente no Estúdio 1 da RTP. Sempre com a ajuda do mítico Thilo Krasmann. O título do programa foi Uma canção para a Europa.

1980: adeus, preto e branco
7 de Março, dia de aniversário da RTP. O primeiro programa televisivo emitido a cores em Portugal foi o Festival da Canção 1980.

1983: romance no Porto
Pela primeira vez o concurso deixou a capital. O Coliseu do Porto recebeu o evento, que serviu para o vencedor Armando Gama conhecer a apresentadora Valentina Torres – casaram ainda nesse ano.

1985: os irmãos Feist
Diversos nomes actualmente consagrados da música popular passaram pelo Festival da Canção, entre o final da década 1980 e o início da década 1990. Alguns serão surpresa: Toy, Emanuel, José Alberto Reis ou António Antunes – que mais tarde voltou como Tony Carreira (é a mesma pessoa). Pouco antes desta fase, em 1985, apareceram uns adolescentes no palco chamados Nuno e Henrique; eram os irmãos Feist. Nuno tinha 13 anos, Henrique tinha 12 (hoje isso já não seria possível). E ficaram no terceiro lugar.

1987: “Isto é fraco”
A segunda vez da descentralização – Funchal – teve uma particularidade. O júri, depois de ouvir todas as músicas originais enviadas, avisou a RTP: olhem que isto este ano está muito fraco. Só seis músicas foram aceites.

1996: Top Model (Check-In, Check-Out)
É o título da canção interpretada por João Portugal, que viria a ser do grupo Excesso. Mas quem estava mais em palco, no coro? Diamantina Rodrigues, que viria ser apresentadora da própria RTP, e ainda… Fernanda Serrano, uma das actrizes mais conhecidas no país.

2001: como? 50 músicas?
Sim, nesse ano o concurso teve 50 músicas. Cinco eliminatórias (sempre em cidades diferentes), 10 canções em cada.

2002: paragem
Depois de quase 40 anos ininterruptos, em 2002 não houve Festival da Canção. O evento estava a cair na popularidade, na qualidade – e as 50 músicas do ano anterior não devem ter ajudado.

2015: Simone
Simone de Oliveira é imediatamente associada a Sol de Inverno e Desfolhada Portuguesa, duas músicas que venceram o Festival logo nos primeiros anos. Mas em 2015 voltou, com À espera das canções; tinha 77 anos, apurou-se na meia-final e ficou no terceiro lugar na final.

2017: Salvador e idioma
Claro, o ano inesquecível. Muita qualidade em palco, vitória dos irmãos Sobral e vitória inédita na Eurovisão. Pela primeira vez, as canções poderiam ser apresentadas noutro idioma.

Canções desqualificadas
Em diversas edições houve várias canções desqualificadas do Festival da Canção. Sobretudo porque, afinal, não eram inéditas; já tinham sido apresentadas em público. Às vezes até já tinham subido ao palco do Festival. É desagradável mas já aconteceu. O último caso, e talvez o mais mediático, devido a alegado plágio, aconteceu em 2018 com A canção do fim que ditou o fim precoce de Diogo Piçarra no Festival da Canção.

2023: Ai coração, Viver
Desde o famoso ano 2017 a RTP convida compositores conhecidos para o Festival da Canção mas abre algumas vagas para submissão de canções. No ano passado, pela primeira vez no formato actual, a música vencedora veio do público, de uma “desconhecida” – embora Mimicat não seja uma desconhecida e até já tivesse participado no Festival em 2001, na altura como uma Izamena de 16 anos. Desta vez ganhou, com Ai coração.

Se Oração abriu a ementa em 1964, a que fechou foi Viver, do grupo SAL.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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