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Brasil a braços com uma tragédia anunciada. República Checa pede ajuda estrangeira

António Lacerda / EPA

No Brasil, o número diário de mortes já ultrapassou o dos Estados Unidos. Alemanha, Suíça e Polónia estão a disponibilizar os seus hospitais para receber casos graves de covid-19 da República Checa.

Em relação a número de novos casos e de óbitos, o Brasil continua a bater recordes. Os hospitais e as unidades de cuidados intensivos estão a entrar em sobrelotação e, segundo especialistas e funcionários do Ministério da Saúde citados pelo Expresso, as mortes podem mesmo disparar para 3 mil diárias nas próximas semanas.

Recentemente, o Presidente brasileiro voltou a fazer comentários infelizes que desencadearam uma onda de indignação no estado de Goiás, onde mais de 9 mil pessoas já morreram devido à infeção.

“Parem de reclamar e de fazer esta agitação toda. Por quanto tempo vão continuar a choramingar?”, questionou Jair Bolsonaro aos apoiantes em Goiás, na quinta-feira. Devido a estes comentários, o Presidente foi chamado de “coveiro do Brasil” por Ciro Gomes, seu rival de esquerda.

No Twitter publicou: “Impeachment e cadeia para este criminoso!”.

Na mesma rede social, o compositor Zeca Baleiro também fez saber que “um Presidente que diz ‘pare de choramingar’ no momento mais crítico, doloroso e comovente que o povo brasileiro tem enfrentado desde o início da pandemia não é apenas um político desastrado, é um homem mau e um idiota. Ele é um sociopata incurável”.

Esta sexta-feira, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a situação no Brasil é “muito preocupante” e instou o Governo a tomar medidas “agressivas”. “O Brasil deve levar esta luta muito a sério”, disse.

Numa conferência de imprensa a partir de Genebra e na resposta a uma pergunta sobre o aumento no Brasil de internamentos em cuidados intensivos de pessoas jovens, vários responsáveis da OMS afirmaram-se preocupados com a situação no país e o diretor-geral eferiu que está também preocupado com os estados vizinhos.

“Se o Brasil não agir de forma forte vai afetar todos os vizinhos e além da América Latina. Medidas de saúde sérias são muito importantes”, disse, referindo o “aumento contínuo” de casos em fevereiro, mas também do número de mortes. ,“Muitos países baixaram [o número de casos] mas o Brasil piorou”, salientou.

Maria Van Kerkhove, infeciologista chefe da OMS, disse que o aumento de pessoas jovens em unidades de cuidados intensivos acontece noutros países, nomeadamente quando os mais jovens começam a sair para, por exemplo, ir trabalhar, e que tal acontece quando há aumento do número de casos de transmissão.

Michael Ryan, do programa de Emergências em Saúde da OMS, assinalou que o aparecimento das vacinas poderá ter levado as pessoas a ficarem mais tranquilas e a adotar outros comportamentos, mas a avisou que este “não é o momento de baixar a guarda” porque o vírus continua a espalhar-se.

É preciso apoiar as comunidades, não criticá-las”, disse também o responsável, afirmando que tal se aplica a todos os continentes.

Soumya Swaminathan, cientista chefe da OMS, acrescentou ainda que a obesidade é um dos principais fatores de risco para a covid-19, para dizer depois que a América Latina tem uma percentagem considerável de população obesa.

República Checa pede ajuda ao estrangeiro

Alemanha, Suíça e Polónia estão a disponibilizar os seus hospitais para receber casos graves de covid-19 da República Checa, cuja capacidade de internamento hospitalar se encontra praticamente esgotada.

Jan Hamacek, ministro checo da Saúde, afirmou que a Alemanha disponibilizou dezenas de camas para casos graves de covid-19, estando 19 disponíveis imediatamente, e que também a Suíça ofereceu internamento para 20 pacientes, bem como o seu transporte.

Com a Polónia prosseguem contactos para disponibilização de cerca de 200 camas, numa altura em que a República Checa regista mais de 16 mil casos diários de covid-19, com mais de 8.000 internamentos hospitalares.

Os internamentos estão já a ser rejeitados por hospitais cuja capacidade se encontra esgotada, sobretudo no Oeste e no Centro do país, nos arredores de Praga e região de Pardubice.

Segundo o ministro da Saúde, a partir de quinta-feira o pessoal médico a exercer em centros de saúde, exceto clínicos gerais e ginecologistas, poderá ser mobilizado para os hospitais públicos. “A situação nos nossos hospitais é verdadeiramente crítica. Devemos mobilizar todas as nossas reservas para salvar vidas”, disse Blatny.

Outra das novas medidas do Governo é a obrigatoriedade de testes em massa em empresas privadas, que já começaram naquelas com mais de 250 trabalhadores, e que se estenderão a partir de sexta-feira às a partir de 50 trabalhadores. O ministro do Comércio e Indústria, Karel Havlicek, afirmou que a medida deverá incluir também funcionários públicos.

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a República Checa regista 1,3 milhões de casos de covid-19, para uma população de 10,7 milhões, e 21 mil vítimas mortais.

Depois da Hungria e da Eslováquia, a República Checa será o terceiro país da União Europeia (UE) a receber vacinas russas Sputnik V, segundo a imprensa checa.

ZAP // Lusa

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