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“Banho de sangue” em Tiananmen. Foi há 30 anos

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Há 30 anos, a imprensa portuguesa noticiava o massacre da praça Tiananmen como “um banho de sangue”, com multidões a defenderem-se com paus e pedras dos tanques e balas com que o governo chinês tentava aniquilar o movimento pró-democracia.

Havia seis semanas que os estudantes ocupavam a praça de Tiananmen, no centro de Pequim, para exigir reformas democráticas, num movimento a que se juntaram muitos cidadãos e que começava a ter eco em outras cidades chinesas.

Na noite 3 para 4 de junho, os confrontos com o exército intensificaram-se e tropas forçaram a entrada no reduto ocupado pelos estudantes.

Um telex emitido pela Lusa reportava: “Pequim entrou hoje no caos, com os soldados a dispararem indiscriminadamente sobre multidões exasperadas de cidadãos desarmados, enfrentando a morte para protestarem contra o que descrevem como os seus dirigentes fascistas”.

As embaixadas estrangeiras preparavam planos de retirada dos seus cidadãos e aconselhavam os residentes a não saírem de casa.

Os jornais davam conta de milhares de vítimas, com base em testemunhos, manifestantes e fontes diplomáticas. A China apenas reconheceu algumas centenas, entre soldados e manifestantes, invocando razões de segurança nacional para justificar o massacre.

As imagens que chegavam de Pequim chocavam o mundo. À comunidade internacional exigiam-se medidas e criticava-se a falta de ação.

Os jornalistas debatiam-se com apreensões de material, censura e uma lei marcial que duraria um ano, como noticiava a Capital em 1990: “Tiananmen limpa de tropas. Levantada Lei Marcial em Pequim em oito meses”.  Meses antes do massacre, o movimento ganhara força nas universidades, onde os estudantes decretaram uma greve geral.

Em maio, a demissão de Deng Xiaoping e dos principais líderes chineses, como o primeiro-ministro, Li Peng, era exigida nas ruas de Pequim por um milhão de pessoas, numa manifestação de apoio a “centenas de estudantes em greve de fome”, conforme noticiou o Europeu.

O número exacto de pessoas mortas continua a ser segredo de Estado. Segundo um arquivo britânico recentemente tornado público, o esmagamento do movimento estudantil pró-democraciaterá feito pelo menos 10.000 mortos.

“Estimativa mínima de mortos civis 10.000”, concluiu em 1989 o embaixador da Grã-Bretanha, Alan Donald, num telegrama secreto enviado a Londres, documento que integra o espólio dos arquivos nacionais britânicos tornado público há dois anos.

A estimativa, calculada pelo diplomata a 5 de junho de 1989, um dia depois do massacre, é quase dez vezes superior ao números aceites na época, que davam conta de um balanço que variava entre centenas e mais de mil mortos, diz a agência France-Presse, que consultou o documento.

A estimativa britânica é considerada credível pelo sinólogo francês Jean-Pierre Cabestan, que recorda que os documentos confidenciais que foram desclassificados nos últimos anos nos Estados Unidos sugerem a mesma ordem de grandeza.

Em 2014, foi inaugurado em Hong Kong um museu mundial dedicado ao massacre de Tiananmen. “Há 25 anos, logo após o massacre, os residentes em Pequim disseram-nos uma coisa: tínhamos de contar ao mundo a verdadeira história do que se passou”, disse Lee Cheuk-yan, líder do grupo pró-democracia que fundou o museu.

A emotiva inauguração foi perturbada por gritos de cerca de uma dúzia de manifestantes pró-China, que chamavam “traidores” aos promotores do museu.

Em outubro de 2016, foi libertado Miao Deshun, o último preso detido na sequência dos protestos, depois de as autoridades chinesas terem reduzido em 11 meses a pena aplicada. O estudante esteve mais de 27 anos na prisão.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. É o maior massacre de um país contra o seu povo! Sim, na china, mas não foi esse. Foram os 100 MI-LHÕ-ES de mortos no programa de governo do comunista mao tse tung chamdo de “o grande salto à frente”. Essas pessoas morreram de fome para que a comida fosse exportada e o país ganhasse dinheiro! Foi nessa época em que se acostumaram a comer cães, gafanhotos, baratas, suponho!

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