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Ex-ministro Azeredo Lopes arguido no caso de Tancos. “Absolutamente inexplicável”

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Olivier Hoslet / EPA

José Azeredo Lopes

O antigo ministro da defesa Azeredo Lopes foi, esta quinta-feira, constituído arguido no processo do furto das armas de Tancos pelo alegado crime de denegação de justiça e prevaricação.

O ex-ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, anunciou esta quinta-feira que foi constituído arguido no processo sobre o furto de Tancos, considerando que esta condição, apesar de garantir mais direitos processuais, é “socialmente destruidora”.

“Comunico que fui ontem (quinta-feira) constituído arguido no processo relativo ao chamado caso Tancos. Esta condição, se é verdade que me garante mais direitos processuais, é absolutamente inexplicável tendo em conta os factos relativos ao meu envolvimento do processo, que foi apenas de tutela política”, refere Azeredo Lopes, em comunicado enviado à Lusa.

O ex-ministro da Defesa Nacional frisa que está “convicto” que vai ser “absolutamente ilibado de quaisquer responsabilidades neste processo”.

A notícia foi inicialmente avançada pela TVI e pelo Observador, tendo sido confirmada pelo próprio em comunicado.

Os investigadores suspeitam que Azeredo Lopes estivesse a par da operação do alegado encobrimento do furto de armas dos paióis de Tancos, através de negociações entre o líder do grupo de assaltantes e investigadores da Polícia Judiciária Militar (PJM).

Essas negociações terão alegadamente sido transmitidas ao então ministro pelo coronel Luís Vieira, ex-diretor da PJM, e pelo major Vasco Brazão, líder da investigação da PJM ao assalto a Tancos.

De acordo com o Público, o facto de Azeredo nada ter transmitido ao Ministério Público está na origem da imputação dos crimes de denegação de justiça e de prevaricação.

Além da prestação de termo de identidade e residência, o antigo governante ficou ainda com uma segunda medida de coação: proibição de contactos com o coronel Luís Vieira, o major Vasco Brazão e com diversos elementos da GNR de Loulé que também estão envolvidos no caso de “achamento” das armas.

O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017 e, quatro meses depois, a PJM revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração com elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições. O processo de recuperação do material militar levou a uma investigação judicial em que foram detidos o agora ex-diretor da PJM.

Além da investigação judicial, que ainda continua, Tancos passa a ter um palco no parlamento, na comissão de inquérito, onde serão feitas, durante semanas, 45 audições, incluindo Rovisco Duarte e Azeredo Lopes. O primeiro-ministro, António Costa, respondeu a perguntas dos deputados por escrito.

Como já ficara claro no relatório do Ministério da Defesa sobre o furto, são evidenciadas, nas muitas horas de audições, falhas de segurança nos paióis de Tancos, quer a nível das instalações, quer na falta de efetivos.

Nas audições, os militares falam de falhas no sistema de comunicações, na videovigilância, que deixou de existir a partir de 2006, de buracos nas redes de segurança e até de cabras a pastar junto aos paióis.

A versão final do relatório da comissão de inquérito ao furto de Tancos sustenta que “não ficou provado” que tenha havido interferência política na ação do Exército ou na atividade da PJM, apesar da tentativa dos partidos de direita, em especial do CDS-PP, de uma maior responsabilização de António Costa.

Do processo judicial, foi o próprio diretor nacional da PJ, Luís Neves, quando foi ouvido na comissão de inquérito, em março, a adiantar que a investigação ao caso do furto de Tancos deverá estar praticamente concluída em “junho ou julho”.

ZAP // Lusa

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