Arguidos referiam-se a António Costa como “Deus”

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Hugo Delgado / Lusa

Nas escutas, Salema referir-se-á ao primeiro-ministro António Costa como “Deus” enquanto discutia estratégias para influenciar decisões políticas, incluindo o uso da proximidade de Diogo Lacerda Machado com Costa.

Entre as mais de 100 páginas que compõem o despacho de indiciação, recheadas de citações das conversas dos arguidos visados pela Operação Influencer — que levou ao pedido de demissão do primeiro-ministro na passada terça-feira, seguida de uma crise política que levou o Presidente da República a dissolver o parlamento —, o Correio da Manhã destaca esta sexta-feira um detalhe nas afirmações encontradas de Afonso Salema, da Start Campus, um dos detidos nas buscas desta terça-feira.

Nas escutas, Salema referir-se-á ao primeiro-ministro António Costa como “Deus” enquanto discutia estratégias para influenciar decisões políticas, incluindo o uso da proximidade de Diogo Lacerda Machado com Costa.

“Pôr a mão de Deus em cima deles, porque a atitude deles não pode ser assim”, referia, de acordo com o matutino, Afonso Salema, dizendo depois que ia “puxar as orelhas” ao Nuno.

As escutas também envolvem Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara de Sines, e Vítor Escária, e destacam o seu conhecimento em leis de urbanismo. Há referências jocosas a Costa feitas por Pedro Nuno dos Santos, ex-ministro e possivelmente futuro presidente do Partido Socialista.

As conversas intercetadas destacam as manobras de Salema para assegurar o apoio político ao seu projeto em Sines, mencionando a sua intenção de levar Diogo Lacerda Machado a uma reunião crucial devido à sua proximidade com Costa.

Os arguidos detidos no âmbito do inquérito que investiga negócios de exploração de lítio e hidrogénio começaram esta quinta-feira a ser ouvidos pelo juiz no Campus de Justiça, em Lisboa.

O processo — intitulado “Operação Influencer” — visa as concessões de exploração de lítio de Montalegre e de Boticas, ambos em Vila Real; um projeto de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, Setúbal, e o projeto de construção de um data center na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade Start Campus.

99% das escutas de Costa “não têm relevância”

Sobre as escutas, que são, segundo disse, o essencial da prova do MP neste processo, disse que através delas se pode “verificar que efetivamente não há nada de irregular” no processo e referiu, em relação às escutas que envolvem o primeiro-ministro, António Costa, que “em 99% dizem respeito às relações privadas entre as pessoas”, pelo que não têm relevância para o processo, e que a única que poderá ter relevância é a que deu origem à investigação autónoma que corre no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e sobre a qual não quis fazer comentários.

Acrescentou também que na consulta do processo essa foi a única escuta relevante que encontrou, pelo que acredita que seja a única, referindo que, se existissem outras, “deixavam rasto”.

ZAP //

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