Esta sexta-feira, Ana Gomes e André Ventura estiveram frente-a-frente para protagonizar um duelo entre opostos, um dos debates mais aguardados da pré-campanha.
O pontapé de saída coube a Ana Gomes. Questionada pelo jornalista Pedro Mourinho sobre se se refere a André Ventura quando diz que sabe lidar com “diabos”, respondeu que, ao longo da sua carreira de diplomata, lidou com “vários”. Desta vez, no papel de candidata, “os diabos com que quero lidar são aqueles que querem impor a ditadura“.
Em tom de retaliação, o candidato e líder do Chega disse que “ficar à frente de Ana Gomes não é uma questão pessoal, nem política”, sublinhando que a candidata socialista é a sua principal adversária. “Ana Gomes representa tudo aquilo em que eu não acredito, tudo aquilo que o país não deve ser”, atirou.
Por contraposição, a socialista disse que o seu adversário principal é Marcelo Rebelo de Sousa, por acreditar que “pode ser Presidente da República”. Numa breve menção aos recentes acontecimentos nos Estados Unidos, onde cinco pessoas morreram na sequência da invasão do Capitólio, Ana Gomes disse que quer evitar que aconteça algo semelhante em Portugal e que é isso “que forças como as que André Ventura representa” promovem.
“É errado, ponto.” Ventura demarcou-se e atirou contra Ana Gomes, afirmando que a candidata não é democrata, uma vez que defende a ilegalização do Chega e militou no MRPP.
A socialista lembrou que foi apenas um “soldado raso” no MRPP, ao contrário de um antigo líder do antigo partido de Ventura, Durão Barroso, que foi dirigente. Na sequência das acusações do deputado único, Ana Gomes referiu que não tem “nenhum problema” em ter sido membro do partido, dizendo que tem uma “marca na cara da vergastada de um PIDE, de um tempo que muita gente lutou contra a ditadura”.
“Não vou ser o Presidente de José Sócrates”
“Não há como fugir do seu passado”, disse André Ventura, insistindo em colar Ana Gomes ao MRPP. Após a insistência, explicou o que quer dizer com “ditadura de pessoas de bem”, salientando que não será o “Presidente de José Sócrates, dos pedófilos, dos traficantes de droga”.
No debate que colocou frente-a-frente André Ventura e Tiago Mayan, na terça-feira, o líder do Chega já tinha afirmado, convictamente, que não será o Presidente de todos os portugueses se for eleito no dia 24 de janeiro.
Ana Gomes, por sua vez, referiu que luta “pela defesa da Constituição e da democracia” e que é contra a prisão perpétua, que caracterizou como um “retrocesso civilizacional”.
“Qualquer dia está a defender cortar as mãos aos ladrões”, atirou, uma provocação que motivou uma resposta do seu adversário: “Corte de mãos aos ladrões… a alguns não faria mal”.
Paulo Pedroso. “Confio em quem trabalha comigo”
Foi pela voz de André Ventura que Paulo Pedroso, diretor de campanha de Ana Gomes, chegou ao debate. “É uma vergonha apresentar-se numa campanha com um nome que representa as influências que o PS moveu para condicionar a Justiça”, disse, invocando um documento do Supremo Tribunal de Justiça onde se dizia que houve tentativa de condicionar a Justiça por parte do PS.
Na resposta, Ana Gomes disse que Ventura tem “truques para arrastar para a lama” quem debate com ele e que repudia “qualquer tentativa de insinuação deste senhor”.
Mas a candidata socialista não ficou por aqui e comparou textos de André Ventura a “romances de cordel com passagens pornográficas” e lembrou que a primeira proposta do Chega no Parlamento foi a “descriminalização de agressores sexuais entre os 14 e 18 anos”.
“É preciso ter topete”, referiu ainda, lembrando que “como funcionário da Autoridade Tributária ajudou o patrão de Sócrates, Lalanda de Castro, a escapar ao Fisco“. Ventura disse que a acusação de Ana Gomes é “mentira” e que “não é arguido de nada”.
A última pergunta do debate foi feita por André Ventura, que questionou a sua adversária resgatando o tema Paulo Pedroso: “Vai manter Paulo Pedroso como diretor de campanha?”
“André Ventura insiste em ser vil, mas eu não vou descer ao nível. Mantenho a confiança em quem trabalha comigo, absolutamente. E vou com confiança às eleições, com clareza, sem contradições”, respondeu.
Das assinaturas falsas à “fascista que quer destruir a Europa”
Ana Gomes já deixou claro que, se fosse Presidente da República, não daria posse a um Governo com o apoio do Chega. No debate desta sexta-feira, Ventura criticou-a e a candidata defendeu-se argumentando que o partido foi “legalizado com assinaturas falsas, incluindo de pessoas já falecidas”.
Munido de uma fotografia de uma publicação de um dirigente do PAN, Albano Lemos Pires, onde se vê um ataque a um polícia, o líder do Chega atira a mesma pedra de Ana Gomes, a do “topete”, por criticar o seu partido quando tem um que a apoia que defende a “morte aos polícias”. A candidata é apoiada pelo PAN e pelo Livre.
“Os militares portugueses sabem” que “defendo a segurança e a defesa”, mas “sou intransigente a não aceitar racistas nas forças de segurança“.
No mesmo dia em que André Ventura se reuniu com Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, Ana Gomes não deixou passar o encontro em claro. Sublinhando que o seu adversário esteve “com uma fascista, que quer destruir a Europa“, questionou “o que seria dos emigrantes portugueses se esta senhora tivesse esse discurso quando foram por essa Europa fora”.
O líder do Chega disse que a líder da Frente Nacional “tem hoje muitos dirigentes no seu partido que são lusodescendentes”.
Sobre o adiamento das eleições, Ventura sacou da ironia para afirmar que, se fossem adiadas, “Ana Gomes passaria para quinto ou em sexto“. A socialista disse que Ventura “nem sequer manda no seu partido, por isso é que impôs a lei da rolha” e que é o “boneco” dos “poderes ocultos, na sombra, ligados ao imobiliário, ao BANIF e ao BES”.
“Antes um boneco das forças antissistema do que um boneco de José Sócrates, Paulo Pedroso ou dos seus amigos do Irão”, acusou.
“Um registo de coelhinho em Belém e aqui de gatarrão”
Na pergunta final, Ana Gomes questionou André Ventura sobre a sua postura em diferentes ambientes e situações. “Aquele senhor tem um registo de coelhinho nas audiências em Belém, segundo revelou Marcelo Rebelo de Sousa, e vem para os debates em modo gatarrão. Qual destas posturas utilizou quando esteve hoje com Marine Le Pen?”
André Ventura criticou a revelação do Presidente e sublinhou que o “tom é sempre o mesmo”, “assertivo”. “Ficou muito mal a Marcelo Rebelo de Sousa revelar conversas privadas no Palácio de Belém”, rematou.
Para a noite deste sábado, estão agendados debates entre Marcelo Rebelo de Sousa e Ana Gomes (na RTP1, às 21h); Marisa Matias e Tiago Mayan (na SIC Notícias, às 22h); e Vitorino Silva e João Ferreira (na RTP3, às 22h45).
Sentaram-se frente a frente, e pontapé de saída, bonitas imagens…
Estiveram em pé…