Dezenas de alunos dos colégios Fomento, em Lisboa, foram colocados em quarentena. A Fenprof aponta que mais de metade das escolas não consegue assegurar distanciamento físico.
As escolas públicas podem começar a abrir portas a partir desta segunda-feira e voltar a receber os alunos do 1.º ao 12.º ano, que regressam ao ensino presencial, interrompido em março devido à pandemia de covid-19. Logo no primeiro dia, já há casos confirmados em algumas escolas, o que levou a que turmas inteiras ficassem em quarentena.
Dois alunos dos colégios Fomento, em Lisboa, testaram positivo ao novo coronavírus. Como tal, duas turmas inteiras e um grupo de alunas estão agora de quarentena. Ao todo, escreve o Observador, são 59 estudantes que foram colocados em quarentena profilática.
Também os alunos do 7.ª ao 12.º ano do colégio Saint Julian’s em Carcavelos estão de quarentena, depois de terem sido detetados quatro casos (dois alunos e dois professores) de covid-19.
O jardim-de-infância do Rodrigo, na Covilhã, foi encerrado “por prevenção” na sequência de uma situação de covid-19 que envolve quatro pessoas da mesma família, entre as quais uma criança que frequenta aquele espaço, disse à agência Lusa o presidente da Câmara.
“O jardim-de-infância foi encerrado por cautela e prevenção e, entretanto, os serviços da proteção civil municipal já procederam à desinfeção e higienização das duas salas”, referiu Vítor Pereira.
O autarca deste município do distrito de Castelo Branco indicou que a medida vai manter-se até nova reavaliação das entidades de saúde e foi determinada no fim de semana, depois de quatro pessoas da mesma família terem testado positivo para a covid-19.
Segundo adiantou, estão em causa um casal e dois filhos menores, que se encontram estáveis e a cumprir isolamento em casa. A situação está a ser acompanhada pelas entidades de saúde e a rede de contactos desta família já começou a ser testada, aguardando-se os respetivos resultados.
Falta de profissionais e ausência de distanciamento
O ano letivo vai arrancar com falta de funcionários e docentes na maioria das escolas portuguesas, segundo um levantamento feito pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), que aponta que mais de metade também não consegue assegurar distanciamento físico.
Segundo os resultados apresentados hoje pelo secretário-geral da Fenprof, 91% dos 321 agrupamentos e escolas não agrupadas inquiridos na semana passada revelaram ter falta de assistentes operacionais (AO), um problema que, lembra Mário Nogueira, é antigo.
Em cerca de 20% das escolas, os diretores revelaram ter uma carência superior a 10 trabalhadores e em 42,8% o número de AO em falta é de entre cinco a uma dezena.
“São problemas estruturais que as escolas já tinham e a que este, como governos anteriores, não deram resposta, mas que agora, na fase em que vivemos de pandemia e de cuidados acrescidos, ganhou ainda maior importância”, referiu o dirigente sindical.
Segundo o dirigente sindical, que falava aos jornalistas junta à entrada da Escola EB 2,3 Marquesa de Alorna, em Lisboa, no total, as escolas públicas precisam de ser reforçadas com mais cerca de 5 mil AO e o reforço do Governo de 500 trabalhadores é insuficiente.
O problema, acrescenta, é ainda mais preocupante, tendo em conta as exigências acrescidas de higiene impostas à escola para o próximo ano, devido à pandemia da covid-19.
“Lembremo-nos que, quando o [ensino] secundário abriu, aquilo que foi dito foi que a limpeza era de tal ordem exigente que os AO tiveram formação com membros das forças armadas. Agora chegamos ao momento em que dizemos que podem ser os professores a ter de fazer essa limpeza”, lamentou.
Por outro lado, a falta de profissionais nas escolas estende-se também aos professores e 75% dos diretores inquiridos pela Fenprof revelaram que na semana anterior ao início do ano letivo continuavam a faltar docentes.
“Este é um problema que pode ser ainda mais grave do que no ano passado”, alertou, referindo que no próximo ano muitos professores não poderão dar aulas por fazerem parte de grupos de risco para a covid-19.
Os resultados revelam ainda que em 61% dos agrupamentos o reforço de recursos humanos direcionado aos alunos com necessidades educativas especiais não se verificou, bem como o reforço anunciado de professores para apoiar na recuperação de aprendizagens, que não chegou a 85% das escolas.
No levantamento que conduziu entre 9 e 11 de setembro, a Fenprof também inquiriu os diretores sobre as condições de segurança nas escolas e, segundo os resultados, 84% admitiram que não é possível respeitar o distanciamento físico de, pelo menos, 1,5 metros.
Em mais de metade das escolas (52,5%) nem o distanciamento mínimo de um metro, aconselhado pelo Ministério da Educação, é respeitado.
“Porque as turmas não se puderam dividir, esse distanciamento mínimo não é respeito”, explicou Mário Nogueira, sublinhando que, nestes casos, “o distanciamento entre os alunos na sala de aula é de centímetros”.
Por outro lado, 45% dos diretores queixaram-se de verbas insuficientes para adquirir os produtos de limpeza e desinfeção e cerca de 30% admitem que o valor destinado à aquisição de equipamentos de proteção individual não chega para o 1.º período.
“Esta é uma fotografia deste início de ano letivo”, disse o secretário-geral, considerando que, se as medidas não forem mais exigentes e se não forem criadas as condições necessárias, as escolas vão voltar a encerrar.
“Nós achamos que nada substitui o ensino presencial, mas se as medidas não forem exigentes, rigorosas, se não forem aquelas que se recomenda para a comunidade, o que vamos ter é rapidamente escolas a fecharem”, sublinhou Mário Nogueira.
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
-
20 Outubro, 2024 Descobertas mais provas de que a COVID longa é uma lesão cerebral
-
6 Outubro, 2024 A COVID-19 pode proteger-nos… da gripe
Mário Nogueira tem razão. Desde quando 1 metro é distanciamento (nem é preciso baixar para menos de 100 centímetros, como será o caso em muitas salas de aula). 1 metro não é distanciamento, é proximidade.