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“Estamos em guerra” e só a desobediência civil nos pode salvar

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Climáximo

Duas activistas do colectivo ambiental Climáximo partiram vidros da fachada da sede da REN, em Lisboa.

Duas activistas do colectivo ambiental Climáximo partiram vidros da fachada da sede da REN, em Lisboa.

“Parar é desistir da vida”. É desta forma que os activistas do Climáximo justificam as recentes acções levadas a cabo. “Estamos em estado de guerra”, argumenta ao ZAP uma das porta-vozes do movimento, defendendo a desobediência civil como arma para forçar “a paz”.

Partir a montra da loja da Gucci e os vidros da sede da REN, em Lisboa, cortar o trânsito em vias da capital, ou colar-se a um avião da TAP antes de um voo Lisboa-Porto. Estas foram algumas das acções do Climáximo, um movimento ambiental que extremou os seus protestos neste ano.

Estes activistas fartaram-se de apelar “à razão, através de petições e relatórios”, explica ao ZAP uma das porta-vozes do movimento, Leonor Canadas, em respostas enviadas por email.

“Não podemos esperar nada mais dos Governos e empresas que conduzem actos de extrema violência premeditada e coordenada contra nós”, atira Leonor Canadas, considerando que “desistiram da democracia e conduzem projetos que condenam centenas de milhares de pessoas à morte“.

Assim, o Climáximo vê-se obrigado a assumir “tácticas de democracia radical, para quebrar esta falsa sensação de paz social em que vivemos, e para abrir um debate sério e urgente na sociedade sobre como vamos travar esta guerra e implementar a paz”, atira ainda Leonor Canadas.

“Nenhuma injustiça foi travada por movimentos que obedeceram”

Na sua “Declaração de Estado de Emergência Climática“, o Climáximo defende “actos de desobediência civil como uma forma de obediência a leis e regras moralmente superiores”.

Leonor Canadas explica ao ZAP que esta postura mais radical surgiu depois de “uma análise honesta e profunda sobre o estado a que chegámos – um estado de guerra“.

“Nenhuma injustiça e/ou conflito social foi travado por movimentos que obedeceram e não incomodaram”, aponta, dando como exemplos “movimentos sociais históricos“, tais como “o movimento dos direitos civis, as sufragistas, e movimentos por libertação”.

“Ao longo de toda a História, as pessoas normais enfrentaram repressão e consequências legais para lutar pelo direito à vida e pelo fim de opressões e injustiças sociais”, acrescenta, notando que sem isso, “direitos que hoje consideramos sagrados, como o direito à liberdade de expressão e organização, ao voto, ao trabalho digno, entre outros, não teriam sido conquistados“.

E, de resto, “as consequências e perturbações que serão causadas pela crise climática são substancialmente mais elevadas do que as perturbações que as nossas acções estão a causar nas nossas vidas, e das pessoas cuja normalidade interrompemos”, atira ainda Leonor Canadas.

A nossa luta é pela vida, por condições de vida e justiça”, e “parar é desistir das nossas condições de vida”, constata também.

Climáximo paga custos judiciais com donativos

As acções do Climáximo têm motivado a detenção de vários dos activistas envolvidos. Em Outubro, três jovens do movimento foram condenadas a 600 euros de multa pelo crime de atentado à segurança do transporte rodoviário, após terem interrompido o trânsito na Rua de São Bento, em Lisboa.

Estas multas, bem como os custos judiciais associados aos processos que envolvem os activistas do Climáximo são pagos pelos próprios envolvidos e através de mecanismos de solidariedade, inter-ajuda, recolha de donativos, entre outros”, como explica Leonor Canadas ao ZAP.

“Somos maioritariamente financiadas através de donativos das activistas e apoiantes”, salienta ainda a porta-voz do Climáximo, apontando que “é extremamente importante” que “os custos legais não limitem a participação de ninguém nesta luta”.

“A capacidade de auto-financiamento e independência financeira é essencial para podermos agir com a urgência, frontalidade e honestidade a que a realidade nos obriga”, continua Leonor Canadas, garantindo que o Climáximo não depende de “qualquer financiamento externo” e que assenta também na “capacidade de improvisação” e nas “pessoas indignadas, activadas e envolvidas”.

De esquerda, mas em choque com “esquerda parlamentar”

Leonor Canadas assegura ainda ao ZAP que o Climáximo não tem apoio de “qualquer partido político em Portugal, com ou sem assento parlamentar”. Até porque não se revê em nenhum deles, como sublinha.

Em termos ideológicos, os activistas sentem-se mais próximos da esquerda, mas “chocam com a esquerda institucional e parlamentar” que não tem “um programa compatível com a urgência de travar esta guerra, e não está a agir em conformidade com o momento histórico que enfrentamos”, diz Leonor Canadas.

“A luta por Justiça Climática é necessariamente uma luta anti-capitalista e pelo desmantelamento dos vários sistemas que produzem desigualdade, privilegiando o lucro”, continua a porta-voz do Climáximo, frisando que a crise climática existe a par das “crises sociais” do custo de vida e da habitação, que se “alimentam mutuamente e têm uma raiz comum”.

Assim, a luta do Climáximo é também por “justiça e equidade”, nota Leonor Canadas, considerando que é preciso fazer uma “transição justa” para uma nova era, com os custos a serem “pagos” com “os lucros multi-milionários” de “empresas como a Galp, à custa de todas as pessoas, de forma a garantir acesso universal a bens e serviços essenciais, empregos e vidas dignas”.

Susana Valente, ZAP //

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15 Comments

  1. Usar a lei para estes alarmistas e siga. Andam a aprender com os EUA, e o Stop Oil em UK?

    Será que não têm nada mais importante e que agregue valor para fazer?

  2. E usar a lei contra certas avestruzes, ursos ou cães de fila, que ladram mas não sabem fazer mais nada de valor, ou contra quem envenena o ar que respiras, a água que bebes (se é que passas do vinho) ou a comida que enfias pela goela?

  3. Será que estes meninos(as) não tomam banho com água quente? e quando se deslocam não andam em transportes?
    Afinal parece que utilizam tudo aquilo que dizem contestar.

    A educação à antiga com umas palmadas no rabo e a mostrar a responsabilidade dos seus atos, talvez fosse boa conselheira.

  4. Aparentemente estes jovens têm razão. Mas lendo o que aqui diz Leonor Cavadas fica-se com a ideia, para não dizer com a certeza, de que ela e seus parceiros de combate ainda não se aperceberam verdadeiramente do que nos espera, a todos,. É pena que andem a perder tempo.

  5. Seria pertinente saber-se como vai então financiar todos esses supostos custos. Por outro lado, faço uso da icónica frase de João César das Neves: “Não há almoços grátis”.

  6. Ou dizem-se de esquerda mas são agentes provocadores?
    Berlim, anos 30 do século passado (a história, quando se repete, é sob a forma de [tragi] comédia…)

  7. Estes filhinhos da mamã e do papá que nada sabem da vida, atropelam quem trabalha e sabe deus que mais. Gostava que alguém filmasse 30 dias da vida desta gente e mostrassem a diferença, o modo de vida sustentavel ou o exemplo a seguir para a viragem. A final não é só ser do contra, há que dar exemplos sustentaveis ao país e ao mundo como se faz, a viragem tem de acontecer mas não a custa da destruição, a mérito crascia não sustenta a destruição. Por isso defendo a prisão destes e de todos os que optem pelo mesmo caminho e que a fatura lhes chegue a casa, vivemos numa república e não em anarquia, A isto chama se vandalismo. Um comboio não para quando trava.

  8. Todos somos sensíveis às alterações climáticas e temos pressa de resolver o problema, no entanto a complexidade torna o processo lento e sem possibilidade de fazer milagres.
    Na europa a maioria da energia elétrica ainda é produzida com combustíveis fósseis, infelizmente fechar a Galp, tornaria a vida como a conhecemos impossível. Para extrair lítio para as famosas baterias dos carros elétricos utilizam-se máquinas de grande porte a diesel, para extrair alumínio para a estrutura dos painéis solares também.
    Se fechassem hoje a GALP, se todos os carros a fóssil parassem hoje, os transportes públicos não teriam capacidade de resposta e consumiriam tanta energia que a produção eólica, solar e barragens hídricas não seriam capazes de suprir as necessidades domésticas e a exigência do aumento necessário a uma utilização 100% elétrica.
    Por estes motivos e não só, os meninos do climáximo, estariam em São Bento em 2 dias a pedir a reversão do fecho da GALP, porque estavam a pé, sem telemóvel por falta de rede e por falta de energia para carregá-lo, ás escuras, sem ar condicionado, sem possibilidade de carregar a trotinete ou bicicleta elétrica, sem elevador no prédio, sem aviões, sem barcos para trazer alimentos para o país, sem empregada doméstica por falta de transporte e por aí adiante, é tudo muito lindo, mas não estamos preparados para uma mudança radical não calculada e acautelada. Se vamos a tempo? Tenho dúvidas, se devemos mudar às pressas sem avaliar as consequências? Tenho mais dúvidas ainda.

  9. democracia é respeitar as opções da Maiorias, não quere forçar-nos a aceitar as escolhas de meia dúzia de extremistas filhos da mamã. Com esta gente, como com todos, cumpra-se a lei rigorosamente.

  10. Têm um cartaz contra os aviões, mas deviam ter primeiro contra a internet!
    Em 2010 a internet já tinha ultrapassado a aviação comercial na emissão de gases de efeito de estufa. Com o aumento exponencial do uso da internet nos últimos dez anos, não sei onde está agora (não encontro os dados em lado nenhum) mas já deve estar também a ultrapassar os carros…
    É muito bom viver no mundo da Lua e assumir que o que veêm em determinados sites é a verdade única (lembro-me sempre da Inquizição) e nunca se procura a discussão científica.
    Bem sei que são jovens (eu também fui e fiz ocupações, e vejo que “fui levado” e 50 anos depois ainda não se corrigiu completamente o que “conseguimos impor”!).

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