Declaração invulgar de um presidente da República, numa espécie de ameaça pública em frente a uma ministra.
Marcelo Rebelo de Sousa anda em fase particularmente polémica, entre as duas diversas declarações sobre vários temas.
No mês passado a sua análise ao número de denúncias de abusos sexuais na Igreja Católica multiplicaram críticas, que se espalharam ao longo de vários dias.
Agora fala-se e escreve-se sobre as suas palavras dirigidas, em público, a Ana Abrunhosa.
No sábado passado, durante a inauguração dos Paços do Concelho na Trofa, o presidente da República deixou um aviso à ministra da Coesão Territorial sobre os fundos europeus.
“Este é um dia super feliz, mas há dias super infelizes. E verdadeiramente super infeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que eu acho que deve ser. Nesse caso, não lhe perdoo. Espero que esse dia não chegue, mas estarei atento para o caso de chegar”, comentou Marcelo, olhando para Abrunhosa, que estava entre os convidados.
Pedro Miguel Santos, do portal Fumaça, já conhece o presidente da República mas não gostou do que ouviu: “De Marcelo Rebelo de Sousa espera-se tudo, já nada é verdadeiramente surpreendente. Mas o tom com que o fez, o local e o alvo, confesso, deixaram-me entre o embasbacado e o indignado“.
“Mas onde é que chegámos? É assim que um presidente da República se dirige, em público, a uma ministra da República?“, questiona.
E as perguntas do jornalista continuam: “Desde quando o mandato constitucional virou uma função confessional para que o chefe de Estado tenha que perdoar ou deixar de perdoar o que quer que seja, a quem quer que seja?”
Depois, o foco no sexo de Ana Abrunhosa: “Ocorreu-me que, se na cadeira onde se sentava Ana Abrunhosa estivesse um ministro – um homem – tais palavras nunca teriam sido ditas“.
Pedro recorda Pedro Marques, antigo ministro do Planeamento e das Infraestruturas, que assegurou que o programa Ferrovia 2020 estava a cumprir os seus planos, que iria estar tudo pronto a tempo (não esteve, nem está) e que “anunciou obras que não existiam”.
Ao longo desses anos, e já com Marcelo em Belém, “onde andou” o presidente da República?
“Se descobrirem algum puxão de orelhas dado em público a Pedro Marques, enviem-me. Procurei e não encontrei nada que se assemelhe à humilhação feita a Ana Abrunhosa”, pede Pedro Miguel Santos, na newsletter do Fumaça.