Sem amuos ou perdão. Marcelo tentou apaziguar críticas, mas mantém que número de vítimas de abusos na Igreja é maior do que o denunciado

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Rodrigo Antunes / Lusa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa

Presidente da República recusou ainda a ideia de que a sua fé enquanto católico praticante esteja a interferir nas suas funções oficiais.

A polémica declaração foi feita ao início da tarde de ontem e marca, sem sombra de dúvidas, um dos episódios mais contestados dos mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa. Aos jornalistas, afirmou que “haver 400 casos [de abusos sexuais no seio da Igreja Católica] não parece que seja particularmente elevado”. As palavras rapidamente foram mal recebidas na opinião pública, mas também por partidos e atores políticos, que repudiaram a declaração.

Foi o caso do Livre e do seu fundador Rui Tavares, da Iniciativa Liberal, de Inês de Sousa Real (PAN), de Isabel Moreira (PS), Joana Mortágua (BE), Pedro Filipe Soares (BE) e de André Ventura (Chega). Entra as múltiplas mensagens deixadas na rede social Twitter, é comum a todas a ideia de que uma vítima já seria um número lamentável e exagerado, mas também a necessidade de um pedido de desculpas por parte do principal magistrado da Nação.

Este não chegou, pelo menos no decorrer do dia de ontem, mas dois esclarecimentos foram feitos, no sentido de enquadrar a declaração inicial. “O Presidente da República sublinha, mais uma vez, a importância dos trabalhos desta Comissão, muito embora lamente que não lhe tenham sido efetuados mais testemunhos, pois este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer no Mundo.”

A ideia foi reforçada. “Vários relatos falam em números muito superiores em vários países, e infelizmente, terá havido também números muito superiores em Portugal“, acrescentando que “espera que os casos possam ser rapidamente traduzidos em Justiça.”

Perante a tormenta mediática, o Presidente da República sentiu ainda necessidade de se explicar de viva voz, desta feita em direto na RTP e à porta do Palácio de Belém. “Para os milhões de pessoas que contactam com instituições religiosas, católicas, acho curto o número de 400 e tal. Se quer a minha convicção, acho que há muitos mais”.

Sobre as múltiplas críticas que recebeu dos partidos, diz não as compreender, lembrando que “em Portugal vivemos em democracia e, portanto, os dirigentes partidários e os deputados têm liberdade de formular críticas e o Presidente não pode amuar nem pode reagir como se não fosse democrata. Aceita, naturalmente, as críticas.”

Finalmente, recusou a ideia de que a sua fé enquanto católico praticante esteja a interferir nas suas funções como Presidente da República, esclarecendo que caso esta ideia fosse real não teria assinado “uma denúncia de ação ao mais importante dos bispos portugueses”. “Eu pus a minha assinatura na suspeita que me chegou relativamente a um bispo que, por acaso, é o presidente da conferência de todos os bispos para que o Chefe da Casa Civil participasse no Ministério Público“, justificou.

Este não é o primeiro episódio em que a relação de Marcelo Rebelo de Sousa e a igreja Católica é questionada por possível entrave à investigação e apuramento de todos os dados no âmbito dos casos de abusos sexuais perpetuados por membros do Clero. Há cerca de duas semanas, foi notícia o aviso do Presidente da República a José Ornelas sobre envio de uma denúncia à Procuradoria-Geral da República (PGR).

Em causa está uma denúncia de alegado encobrimento a abusos sexuais cometidos num orfanato em Moçambique, em 2011.

ZAP //

13 Comments

  1. Júlio Magalhães – Ó Sr. Professor Marcelo… como é que encarou todo este episódio das estatísticas do Presidente Marcelo acerca dos casos de abuso na igreja?

    Comentador Marcelo – Bommmmm… enquanto comentador posso dizer que isto foi tudo uma grande trapalhada. Quando alguém do mundo das leis, entra no mundo dos números, as coisas complicam-se um pouco. O Marcelo meteu as mãos pelos pés e os pés pelas mãos. Pior ainda, quis emendar, deu maior ênfase a tudo… e pouco melhorou com as intervenções posteriores.. para além de ter contribuído para arrastar ainda mais a discussão em torno deste assunto. Ora bommmmm… no segundo dia, o Primeiro-Ministro veio lançar uma boia de salvação ao sôr Presidente que, embora excelente nadador, já se encontrava a beber uns pirolitos em alto mar.
    Perguntam vocês… como é que tudo fica, comentador Marcelo… Ora bom…. brevemente começa a falar-se de outro assunto qualquer e o presidente passará entre os pingos da chuva. No futuro, o sôr Presidente fica nas mãos do Primeiro-Ministro. Afinal, não é todos os dias que se salva alguém de morte quase certa. Curiosamente no próprio dia em que bebeu uns pirolitos, o Presidente Marcelo já alinhou com o discurso do Governo contra as previsões do FMI para 2023. Seria isto já um prenúncio de que o mar estava revolto e de que o nadador se encontra com dificuldades?! Ou seria já um pagamento antecipado pelo favor do dia seguinte. Um dia saberemos.

    Como literatura… esta semana recomendo um excelente livro, muito recentemente publicado, e que se intitula “Há mar e mar, há ir e voltar” da autoria de César Peixe e da editora “Por vezes os melhores nadadores também se afogam”

  2. O super-conservador, presidente mais que populista, filho de um provado fascista do Estado Novo, veio dizer mais ou menos isto, conforme os exterminadores da gloriosa civilização lhes convém: “Olhem, olhem, eu só tenho 10 escravos…. aquele ali tem 100, o malvado. Hoje já posso dormir descansado,”. Tudo dito deste vende ilusões que é democrata, quando é um conservador a cheirar a bafio por todos os poros.

  3. Talvez se tenha que avaliar , uma suposta “incompatibilidade” do cargo de P.R , quando este tem duas profissões uma como P.R , e outra como Comentador de tudo e mais alguma coisa ! … o cargo de P.R exige no mínimo un certo recato e decoro no exercício das funções que lhe são atribuídas .

    • Neste caso foi mau o conteúdo mas ainda foi pior a forma. E eu nem desgosto do Presidente enquanto pessoa. Enquanto presidente tenho uma opinião um pouco diferente. Mas enquanto pessoa, acho que ninguém que o conheça minimamente, tem qualquer dúvida que é uma pessoa correta e com muitos outros bons atributos. Mas todos temos momentos melhores e piores. E este ficará provavelmente como o pior da sua carreira.
      No meio disto tudo, quem ganhou foi mesmo o Costa. Depois deste salvamento público que hoje o Costa fez, o Marcelo tão cedo não será verdadeiramente independente.

  4. Das duas, uma:
    Ou há muita ignorância, ou há muita má-fé.

    É tão claro e, inequivocamente, bem-intencionado o comentário do Presidente, de cariz preventivo na avaliação do número de casos reportados em Portugal, para que a realidade que os portugueses terão de enfrentar seja recebida de uma forma que ‘ELE’ adivinhou ser mais triste do que o reportado.

    É uma tristeza ver a actuação de pessoas (supostamente idóneas e credíveis) a sublinhar o erro de interpretação da intenção do Presidente.
    Desses, esperava…melhor.

    Mas quero deixar aqui a chamada de atenção para a repetição dos actores neste tipo de ‘neo-censura’.
    São sempre os mesmos ‘desviados’. Sempre os que nunca aceitam os valores e tradições da cultura portuguesa. Sempre os mesmos suspeitos da turma do ‘arco-íris’, frustrados(as) traumatizados(as) que querem companhia na miséria da sua inocuidade.
    E são esses que se arrogam ‘porta-vozes’ das vítimas, atacando aquele que já deu mais do que provas da sua idoneidade, honestidade e humanidade.
    São estes que, legitimamente, reclamam a aceitação e tolerância dos outros para todos os que são diferentes na sua natureza ou nas suas opções, que se tornam os intolerantes de todos os que são identificados como ‘normais’, ou seja, a maioria dos cidadãos.

  5. Conjugando a conversa entre o Professor e o Clérigo, que já por si é controverso, e esta benevolência em minimizar os aspectos pedófilos dentro da igreja portuguesa, e sabendo haver um rede enorme de pedófilos por todo lado e especialmente em sítios escondidos como as baratas, sacrificando de vez em quando um inocente como o Carlos Cruz, para despistar os verdadeiros doentes e criminosos, que tal como os narcotraficantes parecem impunes à justiça, faz me pensar qual o papel verdadeiro deste chefe de estado nisto tudo. Não concordo com António Costa que poe por ele a mão no fogo . . .

  6. Esta Presidente Marcelo, foi eleito para cumprir e fazer cumprir a lei Portuguesa, se fosse algum familiar do seu seio familiar concertesa não falava assim, na comunicação social.

  7. Este sujeito fala de mais (por isso lhe chamam o papagaio) e um dia estampa-se na sua oratória infatigável. Agora que meteu o pé na argola, então não sai da beira dos microfones a tentar dar a volta ao texto. Às vezes este senhor mais valia estar calado e não se ocupar de ninharias em estilo retórico.

  8. Ele que é tão perspicaz, desta vez falhou. Ele deveria ter dito: Em Portugal são 400 casos, menos que noutros países, sobretudo da Europa, MAS MESMO ASSIM SÃO MUITOS – UM CASO JÁ SERIA MUITO:

  9. Eu não acredito que não percebessem o que o Professor quis dizer: “Que não são só 400, imagina que devem ser muitos mais” Acharam logo maneira de criticar o cansaço do Presidente Rebelo de Sousa, se ele tivesse escrito, não falhava nem um artigo! mas falar à pressa!! O anterior, nunca o criticaram por nada! Com este, estão sempre a ver se ele se ‘engasga’ Tenham respeito, porque o cansaço acontece a Qualquer um! Que “atire a primeira pedra, aquele que nunca trocou as palavras, sem dar por isso”!

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