O Presidente da República reiterou, esta sexta-feira, que deseja evitar uma crise política criada por um eventual chumbo do Orçamento de Estado, porque “só juntaria um problema” à pandemia e à subida dos preços dos combustíveis.
“Eu desejava e desejo, esperava e espero, que o Orçamento passe, não tanto por questões de pormenor, mas porque olho para o mundo, olho para a Europa, vejo que a recuperação está a começar, vejo que a pandemia está em muitos casos, aqui mesmo [no Reino Unido], a voltar, vejo que a situação se está a agravar, vejo que os preços da energia estão a subir. Vejo, portanto, muitos problemas no horizonte“, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, após uma visita à exposição retrospetiva das obras da artista portuguesa Paula Rego, no museu Tate Britain.
O chefe de Estado acrescentou de seguida: “Uma crise política só juntaria mais um problema aos problemas que temos e por isso desejava e desejo, esperava e espero que seja possível ter um Orçamento”.
“Não é por acaso que na nossa história política não há muitos casos de um Orçamento chumbado”, enfatizou.
Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se convicto de que no início da próxima semana será possível saber se os partidos chegaram a um entendimento com o Governo para deixar passar o Orçamento, que vai a votação na Assembleia da República na quarta-feira.
O Presidente afirmou que não pretende voltar a chamar os partidos, e que tem acompanhado “à distância” os contactos as reuniões partidárias para desbloquear a situação.
“Esse é o momento de um diálogo entre partidos e partidos e Governo. O Presidente da República agora aguarda para ver o epílogo desses contactos e ver o sentido da votação”, vincou.
“Não podemos ter recaídas, seriam fatais”
Também hoje, mas numa conversa com o seu homólogo angolano, João Lourenço, por videoconferência, transmitida na quarta edição do Fórum Euro-África, Marcelo defendeu que Portugal tem de “superar bem” esta crise provocada pela pandemia, sem “ter recaídas”, que “seriam fatais”.
“Se tudo correr bem, daqui a um ano ou menos de um ano estaremos a discutir cada vez mais o pós-pandemia. E é esse o grande desafio de quem está a participar neste fórum hoje: não se esquecer de que é preciso superar bem a pandemia, não podemos ter recaídas. Não podemos ter recaídas, seriam fatais”, reforçou.
O chefe de Estado considerou que “não se pode perder tempo” na recuperação económica e social e que essa “é uma das lições da pandemia”.
“Para recuperarmos e darmos um salto qualitativo, na transição da energia, na transição do digital, nas formas de financiamento do futuro económico a curto prazo, em novos estatutos e novas formas de investimento – e aí a imaginação dos empresários, da sociedade civil é crucial – não se pode perder tempo“, disse.
No início desta conversa com o Presidente de Angola, Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que “boa parte do mundo ainda está em pandemia”, o que apontou como “uma questão prévia fundamental quando se fala de desenvolvimento económico, desenvolvimento social”, que “muitas vezes se não compreende, sobretudo na Europa”.
“Em muitos países europeus, nomeadamente do Leste europeu, em muitos países africanos, asiáticos, americanos, nomeadamente latino-americanos, a pandemia existe. Existe e condiciona o arranque económico, o arranque social”, referiu, acrescentando mais à frente: “Hoje ainda estamos a discutir esta realidade, porque ela está aí”.
Dirigindo-se aos “empresários, gente do mundo do trabalho, responsáveis públicos” participantes neste fórum, o Presidente da República chamou a atenção para “o atraso na recuperação de grandes economias”, como a República Popular da China, “que está a produzir para o mercado interno, mas ainda não está a exportar o que exportava”, os Estados Unidos e “vários países e economias importantes na Europa”.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “isso que está a ocorrer, e está a ocorrer um pouco por todo o mundo, tem a ver com o facilitar-se, considerar-se que o problema da pandemia está ultrapassado”.
Por outro lado, no plano da saúde pública, no seu entender “não se pode facilitar na testagem”.
“Para o funcionamento das escolas, para o funcionamento da atividade económica, para certas reuniões mais amplas às vezes familiares ou outras de natureza socioprofissional ou social, a prática da testagem – naturalmente não da forma intensiva com que aconteceu em fases anteriores – é muito importante, para irmos monitorizando a evolução da situação”, defendeu.
Partilha de vacinas “ainda é insuficiente”
O chefe de Estado considerou ainda que a partilha de vacinas contra a covid-19 “ainda é insuficiente” e afirma que a União Europeia e Portugal querem acelerar o processo.
“Eu devo dizer que este esforço internacional, quer da comunidade internacional como um todo, correspondendo ao apelo do secretário-geral das Nações Unidas António Guterres, quer na União Europeia, ainda é insuficiente. A Covax tem feito muito em termos de objetivos, mas a concretização tem sido insuficiente. No caso africano é patente isso, mas é à escala global”, considerou.
“No que respeita à União Europeia, a ideia é acelerar o processo. E, no caso português, continuar a acelerá-lo no futuro próximo.”
“Tudo o que seja apelar na comunidade mundial e na UE a maior solidariedade, a maior rapidez, a maior eficácia é muito importante, porque todos dependemos de todos“, defendeu.
Sobre esta matéria, o chefe de Estado começou por dizer que a União Europeia “foi, a seguir à Ásia, a segunda realidade atingida” pela pandemia de covid-19 e que “teve um arranque complicado, na primavera do ano passado”.
“Mas rapidamente percebeu que estamos perante um fenómeno global em que tem de haver solidariedade internacional“, prosseguiu Marcelo Rebelo de Sousa, “e daí ter fixado quanto à partilha de vacinas uns milhões apreciáveis, 335 milhões, para distribuição, na sua maioria via Covax”.
“Portugal tomou a iniciativa de, primeiro relativamente a um milhão de vacinas, e agora tem a meta de três milhões de vacinas, privilegiar naturalmente os Estados irmãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). E com algumas exceções, poucas, duas ou três exceções, naturalmente tem concentrado aí a sua energia”, referiu.
No seu entender, “a nível europeu tem havido assimetrias, isto é, desigualdades: há países com contributos mais fortes, há países com contributos mais fracos, atendendo à sua situação interna”.
O Presidente da República apontou as vacinas como “a solução possível para o controlo da pandemia” de covid-19: “Não há outras soluções para já. Esta tem sido a solução”.
“E onde há uma cobertura massiva de vacinação isso nota-se na vida das sociedades. Não resolve o problema como uma varinha mágica de um momento para o outro, mas dá uma ajuda decisiva à resolução”, assinalou.
ZAP // Lusa
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