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Especialistas apoiam fim do uso de máscaras, com apelos à responsabilidade individual

Sebastião Moreira / Lusa

Na generalidade, os especialistas defendem o fim da obrigatoriedade do uso de máscara na rua, assim como outras restrições, mas apelam ao bom senso e à responsabilidade individual dos cidadãos.

Com 70% da população portuguesa vacinada — um nível apontado pelo Governo como fim de muitas das medidas estabelecidas para conter a propagação do novo coronavírus — é expectável que a sociedade se prepare para uma nova fase da pandemia. A título de exemplo, o uso de máscara pode deixar de ser obrigatório na rua, a lotação dos restaurantes deve aumenta, os transportes públicos deixarão de ter capacidade máxima e os casamentos, batizados e espetáculos culturais poderão receber o equivalente a 75% das lotações previstas para os recintos.

Os especialistas parecem estar de acordo com esta abordagem, não levantando entraves ao levantamento de algumas restrições. Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, considera que “podemos relaxar e seguir o caminho apontado pelo Governo que é um desconfinamento gradual“. Em declarações ao jornal Público, o especialista disse ainda que não vê “razão para que não aliviemos medidas como a das máscaras na rua, mantendo sempre o bom senso“, ressalva.

Ainda não se sabe qual a data para o relaxamento nas restrições, mas segundo Carmo Gomes esta informação não é particularmente relevante, já que o que importa é o ritmo com que as restrições vão sendo levantadas. “Se deve acontecer exatamente, por exemplo, no dia 5 ou no dia 6, é indiferente. Deve, sim, haver um gradualismo no alívio das medidas”, defende.

Para Tiago Correia, especialista em saúde internacional, o alívio nas restrições é tardio: “já devia ter acontecido“. “Parece-me que terá que acontecer. Se foi anunciado um plano de desconfinamento de acordo com um único pressuposto que é o pressuposto da vacinação e se chegamos a esse patamar, se nada acontecer, torna-se difícil perceber a fundamentação”, disse ao mesmo jornal.

Perante a evidência de que a vacinação permite reduzir os internamentos e os óbitos, o professor no Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade de Lisboa considera que “as restrições devem ir sendo aligeiradas” à medida que o processo avança. Caso as autoridades competentes não acompanhem esta evolução, corre-se o risco dos cidadãos se adiantarem às decisões oficiais, como está a acontecer no uso de máscara —  Tiago Correia considera que as pessoas já deixaram de as usar.

Carla Sousa Pontes, por sua vez, prefere um discurso mais moderado, sublinhando que os países que optaram por levantar medidas, como o uso de máscaras na rua ou em espaços fechados acabaram por dar um passo atrás, como foi o caso dos Estados unidos da América, a Nova Zelândia, os Países Baixos ou Israel. Outro motivo de preocupação para a também especialista em saúde internacional reside nas novas variantes.

“A variante Lambda, apesar de a Organização Mundial de Saúde a ter considerado de um nível não tão preocupante como a Delta, vai ser o próximo desafio”, afirmou. “Não estamos a falar do uma doença estanque”.

Vasco Ricoca Peixoto partilha desta opinião, apontando que a propagação das variantes do SARS-CoV-2 deve ser considerada na tomada de decisões relacionadas com o controlo da pandemia, nomeadamente no que respeita à circulação entre países. “Temos que ter um controlo de fronteiras efetivo para atrasar ao máximo a entrada de novas variantes. Já percebemos que a variante Delta reduz a efetividade vacinal, apesar de manter a eficácia elevada para hospitalizações e óbitos”, lembra.

No atual contexto pandémico “é, agora, tempo de perceber que com a maior parte da população vacinada as pessoas podem e devem ter mais algum à vontade com as pessoas com quem convivem”. Mesmo assim, uma “gestão do risco individual”, juntamente com o aumento da responsabilidade de cada um quando as máscaras caírem serão primordial, no entender de Ricota Peixoto.

“Se houver distâncias na rua para estar sem máscaras não vejo problema. Depois é uma coisa que deve ser gerida pelas pessoas: por exemplo, numa rua com muita gente que eu não conheço, não me deixa fazer confusão usar máscara na rua”, explica.

Vasco Ricoca Peixoto antecipa ainda que Portugal deve “entrar neste inverno o mínimo possível à base de medidas restritivas, mas como uma consciência coletiva de que vale a pena ter um conjunto de comportamentos preventivos que garantem uma maior normalidade possível.”

Finalmente, Pedro Simas também considera não fazer sentido “insistir no uso das máscaras, na população em geral, para mitigar incidência possível de infeções respiratórias de outros vírus”. O virologista considera que “temos que ser inteligentes e usar a máscara e outras medidas de prevenção se houver maior incidência de outros vírus respiratórios na população de risco”. “Sou a favor que na população em geral se comece a retirar as máscaras e nada melhor do que começar pelo exterior“, disse à TSF.

Pedro Simas também concorda com aqueles que defendem que o alívio de restrições já deveria ter acontecido face ao avanço no processo de vacinação. “Fazia sentido ter revisto algumas medidas já no inicio de agosto, porque a imunidade de grupo na sequência da vacinação evoluiu muito. Estamos em condições de começar a desconfinar, a testar com prudência o regresso a uma vida normal.”

Sobre o próximo inverno, o investigador do Instituto Molecular da Universidade de considera que é importar virar atenções novamente para o vírus da gripe, que no último ano passou despercebido em termos de vacinação.

“É muito importante que tenhamos um forte plano de vacinação, porque durante dois anos interrompemos o círculo natural dos outros vírus respiratórios. É muito importante que todos os anos existia uma percentagem da população infetada com gripe e outros vírus respiratórios para manter a imunidade de grupo. Isso foi interrompido e há expectativa se vai aumentar muito ou não a incidência destas infeções respiratórias.”

Ana Rita Moutinho, ZAP //

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