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Johnson não queria confinar no Outono porque só idosos estavam a morrer, revela ex-assessor

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Andy Rain / Epa

Dominic Cummings

O primeiro-ministro britânico hesitou em apertar as restrições no Outono porque as vítimias mortais eram “basicamente todas acima dos 80 anos”, revela o ex-assessor de Boris Johnson, Dominic Cummings.

Dominic Cummings revelou que Boris Johnson lhe enviou mensagens a dizer que já não acreditava “nessas coisas do Serviço Nacional de Saúde estar sobrecarregado” e que preferia deixar a covid-19 “espalhar-se pelo país” do que arruinar a economia.

Estas revelações foram feitas numa entrevista televisiva à BBC, a primeira da longa carreira política de Dominic Cummings.

Os casos de covid-19 no Reino Unido no Verão passado, mas começaram a subir rapidamente no início do Outono. Cummings afirma que depois de ser aconselhado a aumentar as restrições, Johnson terá dito “não, não, não, não vou fazê-lo”, justificando que apenas pessoas acima dos 80 anos estavam a morrer.

O primeiro-ministro tinha “partes dos meios de comunicação e do partido Conservador a gritar” para não confinar e “sempre se referiu” ao Daily Telegraph como o “seu verdadeiro chefe”. Recorde-se que Johnson teve durante anos uma coluna de opinião no Telegraph.

Boris Johnson terá também querido manter no início da pandemia as suas reuniões semanais com a rainha e só mudou de ideias quando Cummings o alertou de que Isabel II, de 95 anos, poderá morrer se for infectada pelo coronavírus.

Cummings foi também questionado sobre a sua viagem no início do primeiro confinamento em Março, numa altura em que o governo tinha proibido as deslocações não essenciais. O ex-conselheiro diz que decidiu mudar-se coma família antes da sua mulher ter ficado doente com suspeita de covid devido à falta de segurança da sua casa em Londres.

A forma como lidei com toda a situação foi errada. O que devia ter feito era só demitir-me e dizer nada ou falar com a minha família e dizer “oiçam, vamos ter de dizer a verdade sobre toda esta situação”, revela. Na altura, Johnson apoiou publicamente o então assessor, depois de várias pessoas terem apelado à sua demissão.

Em resposta, Downing Street afirmou que o primeiro-ministro tomou todas as “medidas necessárias para proteger as vidas e os meios de sustento, guiado pelos melhores conselhos científicos” durante a pandemia e que o governo tinha evitado uma crise no sistema de saúde com “três confinamentos nacionais”, pode ler-se na BBC.

O gabinete de Johnson negou também que o primeiro-ministro quisesse continuar a encontrar-se semanalmente com a rainha.

O Ministro dos Negócios inglês, Paul Scully, defendeu as decisões de Johnson, referindo que também se deve ter em conta o impacto das restrições económicas na vida e na saúde das pessoas.

“Estas decisões não foram tão a preto e branco na altura como podemos pensar que são agora”, contou Scully, à estação de rádio 4 da BBC.

Esta entrevista surge depois de Inglaterra ter levantado todas as restrições e o uso obrigatório de máscara na Segunda-Feira, dia 19, e também na sequência da audição no parlamento de Cummings, em que o ex-conselheiro acusou Johnson de ter ponderado injectar-se com o vírus em directo na televisão.

Nessa mesma audição, Dominic Cummings acusou o governo de ser um grupo de “leões liderados por burros” e disse que inicialmente Boris Johnson acreditava que a pandemia era apenas um exemplo de pânico exagerado, como no caso da gripe suína.

AP, ZAP //

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