O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) classifica como “galopante” o aumento de casos da variante Delta em Portugal no último mês.
A frequência da variante Delta aumentou de forma galopante num mês, passando de 4% em maio para 55,6% em junho, segundo o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
De acordo com o mais recente relatório de situação sobre a diversidade genética do SARS-CoV-2 em Portugal, divulgado pelo INSA, a variante Delta, associada inicialmente à Índia, teve “uma subida galopante” na frequência relativa a nível nacional, mas a sua distribuição “é ainda muito heterogénea entre regiões”.
Segundo o INSA, a distribuição da variante delta varia entre 3,2% (Açores) e 94,5% (Alentejo), mas, tendo em conta a tendência observada entre maio e junho, “é expectável que esta variante se torne dominante em todo território nacional durante as próximas semanas”.
Do total de sequências da variante Delta analisadas até à data, 46 apresentam a mutação adicional K417N na proteína Spike, refere o instituto.
No entanto, sublinha, cerca de 50% destes casos restringem-se a apenas duas cadeias de transmissão de âmbito local, o que sugere que a sua circulação comunitária é ainda limitada, sendo a frequência relativa deste perfil (Delta+K417N) na amostragem nacional de junho de 2,3%.
De acordo com o relatório, entre as novas sequências analisadas, a variante Alpha (B.1.1.7), associada inicialmente ao Reino Unido, foi detetada por sequenciação com uma frequência relativa de 40,2% na amostragem nacional de junho, evidenciando uma forte redução de frequência a nível nacional (88,4% em maio).
Contudo, explica o INSA, “esta variante é ainda a mais prevalente na região Norte (62,7%) e nas regiões autónomas dos Açores (96,8%) e Madeira (69,8%)”.
O relatório do Instituto Ricardo Jorge dá ainda conta de que a frequência relativa das variantes Beta (B.1.351) e Gamma (P.1) mantém-se baixa, sem tendência crescente nas últimas amostragens.
“Em particular, destaca-se que a variante Beta foi detetada a uma frequência de 0,1% e em apenas duas regiões (Lisboa e Vale do Tejo e Região Autónoma da Madeira)”, refere.
Segundo o documento, até à data foram analisadas 9.846 sequências do genoma do novo coronavírus, obtidas de amostras colhidas em mais de 100 laboratórios, hospitais e instituições, representando 284 concelhos de Portugal.
No âmbito da vigilância genómica que o INSA está a coordenar, foram obtidas 1.087 sequências da amostragem nacional de junho de 2021, a qual incidiu nos dias 2 a 15 de junho. Esta amostragem envolveu laboratórios distribuídos pelos 18 distritos de Portugal continental e pelas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, abrangendo um total de 131 concelhos.
A partir de junho, o INSA adotou “uma nova estratégia de monitorização contínua da diversidade genética do novo coronavírus em Portugal”, a qual assenta em “amostragem semanais de amplitude nacional”
“Esta abordagem permitirá uma melhor caracterização genética do SARS-CoV-2, uma vez que os dados serão analisados continuamente, deixando de existir intervalos temporais entre análises”, considera o instituto.
Imunidade de grupo só se deve atingir aos 85%
O médico intensivista José Artur Paiva admitiu que, com a variante delta, a imunidade de grupo só se deverá atingir perto dos 85%.
O especialista, que pertence à Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a covid-19, sublinhou que o grande determinante do aumento de doentes em medicina intensiva é o aumento da transmissibilidade do vírus e que quanto mais transmissível for o vírus mais difícil é atingir a imunidade de grupo.
“Com esta variante (delta) o atingimento da imunidade grupo não se fará nos tais 70%, mas sim com valores muito perto dos 85% de imunização”, disse, sublinhando a importância de conter o Rt (índice de transmissibilidade).
O especialista em medicina intensiva considera que o processo vacinal em curso “está a ser capaz de ter uma efetividade grande, que se mantém com esta variante (delta), nomeadamente de evitar formas de gravidade moderada ou intensa da doença”.
José Artur Paiva recorda que a média de idade nos internamentos diminuiu “por ausência ou franca diminuição dos casos em pessoas mais idosas”, frisando: “A média de idade dos doentes em medicina intensiva é de cerca de 50 anos, francamente mais baixa do que foi nas ondas anteriores”.
José Artur Paiva lembra que com variantes mais transmissíveis, “como um determinado percentual dos casos será sempre grave, o número de hospitalizações e de internados em medicina intensiva fatalmente aumenta”. Contudo, insistiu, “aumenta menos do que aumentaria se não tivéssemos um processo vacinal em curso relativamente avançado”.
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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