O índice de transmissão do vírus que provoca a covid-19, o chamado Rt, baixou para os 0,73 em Portugal, sendo o mais baixo da Europa. Mas, ainda assim, o país tem a maior incidência de novos casos per capita numa altura em que há novas variantes do vírus a aparecer que causam preocupações acrescidas.
O último relatório do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) aponta para a presença de várias estirpes do coronavírus em Portugal.
“A mais espalhada” ainda será a variante que teve origem em Espanha e que “foi detectada em 54,7% das 532 amostras sequenciadas na semana de 10 a 19 de Janeiro”, como nota o Diário de Notícias (DN) com base nos dados do INSA.
Já a chamada variante inglesa poderá “representar 43% dos novos casos no país”, segundo referiu António Costa numa conferência de imprensa recente. Estimava-se que, nesta semana, esta variante pudesse atingir 60% dos casos, mas o confinamento terá evitado essa expansão.
“Surpreendente” é o aparecimento de uma variante “prima” da que se espalhou pela Califórnia e que está a crescer, como destaca o responsável do INSA, João Paulo Gomes, citado pelo DN. Esta variante tem uma mutação que lhe permite ligar-se melhor às células humanas e que também lhe confere maior resistência a anticorpos neutralizantes.
A variante californiana estava presente em 6,8% das amostras de 10 a 19 de Janeiro.
Entretanto, a variante brasileira foi detectada em vários casos de infectados, como revelou o director-geral da Unilabs Portugal, Luís Menezes, em entrevista ao Jornal 2 da RTP. Menezes fala em “números baixos”, mas nota que é “normal que outros laboratórios comecem também a identificar mais casos”.
A variante sul-africana também já foi detectada em Portugal.
Estas diversas variantes colocam novos desafios porque apresentam mutações genéticas que podem tornar o vírus mais contagioso ou mais resistente.
A comunidade científica considera que “as variantes inglesa, brasileira e sul-africana” são as mais preocupantes, como nota ao DN a patologista clínica Daniela Fonseca e Silva, coordenadora responsável pelo laboratório de testagem de covid-19 no IPO do Porto.
“Essas três estirpes têm em comum a mutação na posição 501“, o que permite ao vírus ligar-se de forma mais eficiente às células humanas, destaca Daniela Fonseca e Silva.
País ainda está a pagar o pico de Janeiro
Apesar destas preocupações, o confinamento está a surtir o efeito desejado na contenção do vírus e Portugal tem agora o Rt mais baixo da Europa, com 0,73, segundo os dados do INSA relativos ao período entre 3 a 7 de Fevereiro.
É o Rt mais baixo de sempre em Portugal, desde o início da pandemia, como atesta a TSF.
A maioria dos países europeus tem um Rt próximo do 1. Em Portugal, apenas a Madeira tem um índice de transmissão superior a 1, com 1,15 de incidência.
É nos Açores que o RT é mais baixo (0,58), seguindo-se o Norte (0,68) e o Centro (0,70). O Algarve e a região de Lisboa e Vale do Tejo apresentam índices de 0,75 e o Alentejo de 0,77.
Apesar desta descida no índice de transmissão, Portugal continua a ser o país europeu com mais novos casos de infectados, surgindo ainda acima dos 960 por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.
A aparente contradição pode ser justificada pelo pico de casos atingido em Janeiro, quando os novos infectados andavam acima dos 1600 por 100 mil habitantes.
Hospitais mais aliviados
O que é certo é que a contenção do vírus já se sente nos hospitais, onde a pressão baixou depois de se terem vivido dias de grande aflição.
Agora, o maior problema prende-se com a falta de pessoas para acompanhar os milhares de inquéritos epidemiológicos que estão em atraso, como nota ao Público o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH).
“É urgente resolver o défice de pessoal”, alerta este responsável depois de o secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, ter referido no Parlamento que havia 4 mil inquéritos pendentes.
A ministra da Saúde, Marta Temido, garantiu, na mesma audiência na Assembleia da República, que o número de pessoas encarregues destes inquéritos passou de menos de 500 em Dezembro passado para mais de 1100 a 4 de Fevereiro. Mas, ainda assim, não será suficiente.
Coronavírus / Covid-19
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Manipular os números é fácil… 😉