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Covid-19 promove inovadora prestação de cuidados de HIV na Cidade do Cabo

Confrontada com as condicionantes da pandemia de covid-19, a Cidade do Cabo, capital da África do Sul, promoveu uma inovadora prestação de cuidados de HIV.

A África do Sul é casa da maior epidemia de HIV no mundo. O tratamento sustentado com terapia antirretroviral eficaz (TARV) pode permitir que pessoas que vivam com HIV atinjam uma esperança de vida quase normal. Mas, de acordo com números de 2019, apenas dois terços dos estimados 7,7 milhões de pessoas a viver com HIV na África do Sul estavam em TARV.

Há uma necessidade urgente de ampliar ainda mais o programa de TARV, iniciando novos pacientes e dando boas-vindas às pessoas que regressam após interrupções do tratamento, mantendo os pacientes já em atendimento.

Neste contexto, 2020 viu a propagação global de um novo coronavírus altamente infeccioso. Em resposta, muitos países impuseram severas restrições ao movimento, incluindo a África do Sul. Os serviços de saúde sofreram interrupções significativas, à medida que os recursos foram redirecionados para combater a pandemia.

Os serviços de saúde da África do Sul já estavam sobrecarregados antes da covid-19. O seu impacto disruptivo sobre o HIV e outros serviços de saúde foi motivo de preocupação óbvia. Os especialistas em saúde destacaram duas preocupações.

Em primeiro lugar, pessoas com problemas de saúde, incluindo diabetes, hipertensão, tuberculose e HIV, podem estar em maior risco de contrair e sucumbir à covid-19. Em segundo lugar, a gestão clínica destas condições pode ser interrompida. Os pacientes podem preocupar-se que uma visita ao médico aumente o risco de contrair covid-19, enquanto as clínicas podem ficar sobrecarregadas com procura relacionada à covid-19, deixando menos capacidade para atender às outras necessidades.

As crises geralmente apresentam oportunidades para inovação, como foi o caso da Cidade do Cabo.

As recomendações para adaptar os serviços de HIV no contexto da covid-19 foram prontamente produzidas pela Organização Mundial da Saúde e outras organizações.

Muitas dessas recomendações não eram novas. Elas já tinham recomendado a ampliação da prestação de serviços diferenciados. Esta é uma abordagem centrada no utente que simplifica e adapta os serviços de HIV para se adequar às preferências dos pacientes e ao mesmo tempo reduzir a carga sobre o sistema de saúde. Por sua vez, isto permite a realocação de recursos especializados em serviços de saúde para aqueles que precisam deles.

As receitas médicas pré-covid-19 na África do Sul eram válidas por um período máximo de seis meses. Os clientes com doenças crónicas eram obrigados a visitar a clínica para uma avaliação cada vez que uma nova receita era necessária, pelo menos duas vezes por ano.

No início deste ano, em resposta à covid-19, os regulamentos foram alterados para permitir que as receitas médicas fossem estendidas até 12 meses, potencialmente permitindo que utentes bem controlados visitassem o médico apenas uma vez por ano para avaliação clínica e nova receita.

Seria difícil exagerar a complexidade de garantir um fornecimento consistente de medicamentos em milhares de clínicas em todo o país. Os ensaios clínicos demonstraram a aceitabilidade e a viabilidade da administração de seis meses de TARV, para que os utentes precisem de recolher medicamentos apenas duas vezes por ano. Mas há preocupações de que a administração de quantidades crescentes de medicamentos aumenta a complexidade de gestão.

A covid-19 levou a um aumento das quantidades de TARV dispensadas para quatro meses na Cidade do Cabo. Resta saber se isso, e ainda mais aumentos, podem ser sustentáveis, permitindo que os utentes gastem menos tempo a recolher medicamentos.

Até recentemente, a maioria dos pacientes com HIV recolhia os seus medicamentos pessoalmente numa clínica. A covid-19 levou as clínicas a tentar várias estratégias alternativas de recolha e entrega. Transferir medicamentos para a casa de alguém é caro e requer conhecimento atualizado da área. No contexto sul-africano, também existem preocupações de segurança para os correios.

Foi introduzido um serviço de entrega nalgumas áreas da Cidade do Cabo, onde o Governo registou a entrega bem-sucedida de mais de 240.000 pacotes de medicamentos crónicos até meados de junho.

O Governo também lançou um bot de chat do WhatsApp chamado “Clínica de Bolso”, que permite que os pacientes atualizem os seus dados de contacto eletronicamente e solicitem medicamento crónicos.

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