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Colecionador privado quer retirar centenas de obras do museu de Serralves

José Coelho / Lusa

Inauguração da exposição de Robert Mapplethorpe no Museu de Arte Contemporânea de Serralves

O colecionador de arte Luiz Teixeira de Freitas aguarda resposta à decisão de retirar de Serralves um vasto conjunto de obras que detém, acusando a administração da fundação de censura, no caso da exposição de Robert Mapplethorpe.

“Na semana passada, mais precisamente no dia 25 de Setembro, enviei ‘e-mail’ à Administração de Serralves dando conta da minha intenção de terminar o contrato de depósito de obras da minha coleção particular do artista Damian Ortega, que tenho com aquela instituição”, disse à agência Lusa o colecionador.

No mesmo dia, o colecionador enviou uma carta registada idêntica para o museu. “Ainda não obtive qualquer resposta do Museu”.

A agência Lusa contactou a Fundação de Serralves, e fonte do gabinete de imprensa disse que se trata de “assuntos internos” da instituição, não pretendendo por isso fazer declarações sobre esta questão.

O colecionador, segundo disse à Lusa, endereçou mais um ‘e-mail’ e uma carta a Serralves, este sábado, a notificar a instituição da vontade de terminar também o depósito da Coleção de Desenhos da Madeira, constituída por “600 desenhos em depósito”, propriedade sua e de Rosana Rodrigues, sua sócia na sociedade de advogados TFRA.

O foco principal da Coleção de Desenhos da Madeira é o desenho contemporâneo, produzido maioritariamente nos últimos dez anos, por artistas nascidos depois de 1960.

Tomei esta decisão por não concordar com a política de intervenção da administração nas escolhas curatoriais do Diretor Artístico da instituição, João Ribas, em especial a recente situação de censura criada pela Administração de Serralves no caso da exposição de Robert Mapplethorpe, caso que foi amplamente divulgado pela imprensa nacional e internacional”, justificou Luiz Teixeira de Freitas.

Em causa estão obras de Damian Ortega e de mais de cem artistas representados na Coleção de Desenhos da Madeira, entre os quais Julião Sarmento, Gabriel Orozco, Elmgreen Dragsed, Mateo Lopez, Francis Alys, Guilhermo Kuitca, Guego e Olafur Eliasson.

“As obras foram depositadas em momentos diferentes no Museu, mas diria que o depósito existe há quase oito anos“, estimou o colecionador à Lusa.

O jornal Público noticia hoje a vontade de Luiz Teixeira de Freitas de retirar as obras depositadas em Serralves, “em solidariedade com João Ribas“, o diretor demissionário, citando a curadora Luiza Teixeira de Freitas, filha do colecionador.

Segundo o jornal, a intenção foi conhecida durante a feira de arte Vienna Contemporary, que abriu na quinta-feira e encerra hoje, na capital austríaca. Luiz Teixeira de Freitas tornou pública a sua decisão durante um encontro em que participou, no sábado, no âmbito da feira.

O anúncio deu origem a comentários de outros colecionadores, nomeadamente o belga Alain Servais, que relacionou a decisão com a “censura” ao ex-diretor de Serralves, numa declaração publicada na sua conta na rede social Twitter. Servais está entre os principais 200 colecionadores de arte a nível mundial, no ‘ranking’ da plataforma ArtNet.

O diretor do Museu de Serralves, João Ribas, demitiu-se a 20 de setembro, após a inauguração da mostra “Robert Mapplethorpe: Pictures”, que comissariou, por entender que não tinha condições para prosseguir o trabalho, depois de terem sido definidas zonas reservadas , e de o seu universo ter sido reduzido de 179 para 159 obras.

O conselho de administração da Fundação de Serralves, por seu lado, garantiu não ter mandado retirar qualquer obra da exposição.

Entretanto, a comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto aprovou as audições do diretor demissionário do museu e da administração da fundação, que deverá realizar-se em outubro, após a visita dos deputados à exposição dedicada a Robert Mapplethorpe, marcada para o próximo dia 4.

// Lusa

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