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Governo italiano proibiu desembarque de migrantes (mas algumas cidades estão a desafiá-lo)

european_parliament / Flickr

Matteo Salvini, líder da Liga e novo ministro do Interior italiano

O ministro do Interior de Itália pediu a Malta que receba o barco da ONG SOS Mediterrâneo, com 629 migrantes a bordo, que o novo Governo italiano não autoriza que desembarquem em Reggio Calabria, no sul do território.

De acordo com a comunicação social italiana, Matteo Salvini enviou uma carta urgente às autoridades maltesas, explicando que o Aquarius, com pessoal dos Médicos Sem Fronteiras, encontra-se a 43 milhas náuticas de Malta (quase 80 quilómetros), pelo que a obrigação de desembarque dos migrantes não pertence aos italianos.

A Guarda Costeira italiana, que coordena as operações de vigilância e resgate no Mediterrâneo central, disse à EFE que, no sábado, foram resgatados 629 imigrantes em seis operações, nas quais participaram unidades da ilha de Lampedusa, três navios mercantes e a ONG SOS Mediterrâneo.

Todos os imigrantes – 123 menores não acompanhados e sete grávidas – foram transferidos para o Aquarius, disse a ONG francesa.

O membro do Governo, que é também o líder da Liga, partido de extrema-direita,  comunicou a posição de Itália quanto ao Aquarius na sequência da recusa de há dias de desembarque de 232 migrantes resgatados por um navio da organização não-governamental alemã Sea Watch.

A embarcação chegou ao porto de Reggio Calabria, depois de quatro dias no mar Mediterrâneo, com as mais de duas centenas de migrantes a bordo.

Segundo o diário Malta Today, um porta-voz do Governo maltês disse que o “resgate ocorreu na zona de busca e resgate da Líbia e foi coordenado pelo centro de coordenação de resgate de Roma”. “Malta não é a autoridade coordenadora e não tem competência no caso”, assinalou.

“Ministro sem coração”

Apesar da posição de Salvini, várias cidades do Sul de Itália estão a desafiar o Governo e dizem estar prontas para receber o navio com 629 migrantes a bordo, avança a Renascença esta segunda-feira.

De acordo com a rádio, autarcas de Palermo, Nápoles, Messina e Régio de Calábria já se mostraram disponíveis para autorizar que a embarcação atraque nos seus portos.

“Se um ministro sem coração permite a morte de mulheres grávidas, crianças, idosos no mar, o porto de Nápoles está pronto a recebê-los. Somos seres humanos com um grande coração e estamos prontos para salvar vidas”, destacou Luigi de Magistris, presidente da Câmara de Nápoles, na sua conta no Twitter.

Segundo o Público, esta posição começou com Leoluca Orlando, presidente da câmara de Palermo. “Palermo, em grego antigo, quer dizer ‘porto completo’. Sempre demos as boas-vindas a barcos de salvamento e embarcações que salvem vidas no mar. Não iremos parar agora. Salvini está a violar a lei internacional. Uma vez mais, mostrou que estamos sob um Governo de extrema-direita”, disse o autarca, citado pelo jornal.

Esta foi a primeira prova de que Salvini não vai ceder relativamente à sua dura política de imigração. “Malta não recebe ninguém. França empurra as pessoas de volta para as fronteiras, Espanha defende o seu território com armas. A partir de hoje, Itália também vai começar a dizer ‘não’ ao tráfico humano, ‘não’ ao negócio da imigração ilegal“, escreveu o ministro no Facebook.

No início do mês, o novo Ministro do Interior já tinha defendido que Itália não pode ser o “campo de refugiados” da Europa, considerando ser de “bom senso” limitar a chegada de migrantes.

“Os bons tempos dos clandestinos chegaram ao fim: preparem-se para fazer as malas”, avisou Salvini, considerando que o novo Governo de Itália “não tem uma posição de força” contra a imigração, “mas sim de bom senso”.

A Liga e o Movimento 5 Estrelas chegaram a acordo para formar um Governo de coligação, no início de junho, depois de vários meses de negociações. Em março, o partido de Luigi di Maio reuniu a maior percentagem de votos (30%), mas não conseguiu chegar a uma maioria que lhe permitisse governar.

ZAP // Lusa

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