O fogo deflagrou na tarde de sábado numa área florestal em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e alastrou-se aos municípios vizinhos de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, obrigando a evacuar povoações e deixando-as isoladas. O último balanço dá conta de 62 mortos e 62 feridos.
Na localidade do Troviscal, perto da Estrada Nacional 349 onde ocorreram as mortes causadas pelo fogo, um grupo de moradores ainda fala da tragédia e chora a morte de muitos que tentavam fugir às chamas.
“Isto foi a morte que saiu à rua” aqui, “olhe para ali, é uma desgraça e os corpos já foram retirados”, diz Maria dos Anjos, de 90 anos, à agência Lusa. “As pessoas entraram em pânico e quiseram fugir. Era muito fogo e muito vento”, diz António, outro morador.
Maria Augusta Nunes tem 84 anos e nunca viu nada assim: “O vento era o diabo que levava o fogo para todo o lado. Até no sítio onde o fogo não andou está tudo seco. Tenho ali uma horta que morreu, mas não foi pelo fogo”.
É esta a ansiedade que se faz sentir nos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos. Pessoas que ficaram sem teto e apenas com a roupa que têm no corpo e os que ainda continuam sem saber dos familiares desaparecidos.
“Pensei que ficávamos lá todos”
Foi o caso de Hugo Manuel Almeida Santos, um homem de 33 anos, cuja casa ficou “totalmente destruída” pelo fogo, e que se salvou a si e à sua família fugindo das chamas numa carrinha.
“As labaredas batiam muito forte na carrinha, ainda fui contra um pinheiro e andei por valetas”, disse, no Hospital de Avelar, no concelho de Ansião, onde o pai, de 57 anos e com “muito pouca mobilidade”, está internado, por não ter onde ficar.
“A casa ardeu toda, ficou tudo queimado, fiquei sem nada”, relatou. “Ninguém sabe explicar” como se conseguiu salvar a si, ao pai, à mulher e à filha, de 11 anos de idade.
“Temi pela vida de nós todos, pensei que ficávamos lá todos“, repetiu, recordando que as chamas “bateram” de forma insistente na viatura, cujo controlo, “por várias vezes”, sentiu que podia perder.
“Isto não foi um incêndio, foi um furacão de fogo”
Ao contrário de Hugo Santos, Paula Alves insistiu em ficar na sua habitação, numa aldeia de Castanheira de Pera, quando as chamas avançaram. “A morrer, morríamos ao pé do que é nosso”, vinca a habitante de Sarzedas de São Pedro à Lusa.
Fora de casa e com uma mangueira que deitava pouca água. Foi assim que Paula enfrentou as chamas que galoparam da Serra do Vermelho até à aldeia onde vive há 17 anos num espaço de minutos. “Não tínhamos ninguém. Era eu e o meu marido, o meu vizinho e o pai e a mãe dele. Só nós e Deus“, conta a habitante da pequena aldeia.
“Apenas pensei: “Meu Deus ajuda-nos, porque não temos mais ninguém”, conta à agência Paula Alves, que garante que tomou a decisão certa. Os que fugiram, “se tivessem ficado nas suas casas, estavam vivos e as habitações intactas“, sublinha, recordando que, quando o fumo já não deixava ver mais do que a palma da sua mão, viu um carro a passar e a bater contra um castanheiro. “Ficaram todos carbonizados. O fumo era tanto que nem viam por onde iam”, refere.
“Não tenho vergonha de dizer: estava a rezar, todos estávamos”
O britânico Gareth Roberts, de 36 anos, mora em Portugal há quatro e é uma das pessoas que também conseguiu escapar às chamas (por muito pouco), conta a BBC.
“Estávamos a chegar de Cadiz, em Espanha, e estávamos a cerca de 50 minutos de casa. Sabíamos que havia um incêndio em curso e conseguíamos ver o fumo. Parecia muito grave, mas eu não tinha ideia do quanto até termos chegado mais perto”.
“O vento fazia com que os galhos das árvores batessem no nosso carro, mas não podíamos parar – dava para sentir o calor”. “Acabámos por ficar presos numa aldeia chamada Mó Grande, também cercada pelo fogo. Nós e os locais estávamos a chorar, comovidos pelo calor e pela velocidade do fogo. Estava tudo escuro, muito escuro“.
“Um homem gritou a oferecer-nos abrigo em sua casa, onde estava também a sua mãe. Muitos de nós aceitámos”, recorda. Depois, “ficámos sem energia e as chamas vieram com tudo, como um tornado feroz e vermelho a passar pelas janelas. Encolhemo-nos no chão durante uma hora, a tentar respirar, a rezar, a chorar”.
“Não sou um homem religioso, mas não tenho vergonha de dizer: estava a rezar, todos estávamos. Não havia mais nada a fazer. Disse a mim mesmo: ‘não posso morrer assim’. Comecei a chorar, fiquei emocionado. Não consegui fazer nada durante 20 minutos. Até que o fogo passou e saímos para ver os destroços da aldeia, que ainda ardiam em chamas. Milagrosamente, a nossa casa e a casa ao lado não pegaram fogo”, conclui.
“Se estas pessoas não tivessem sido generosas, eu não estaria aqui hoje. Agradeci por me terem salvado a vida. Mas um mero obrigado não é nem de longe o suficiente. Eu podia ter morrido. Devia ter morrido. Um ato aleatório de bondade salvou a minha vida, e agora a única coisa que posso fazer é rezar por Portugal”.
Onda de solidariedade
O treinador português de futebol André Villas-Boas disse este domingo que vai doar 100 mil euros às famílias das vítimas. A verba ficou definida depois de uma iniciativa do técnico na sua conta oficial no Instagram, na qual prometia doar dez euros por cada like a uma publicação sua de uma foto do incêndio em Pedrógão Grande.
“O meu muito obrigado a todos os que contribuíram na minha página em favor das famílias das vítimas da tragédia de Pedrógão Grande. Amanhã [segunda-feira] serão transferidos 100 mil euros em apoio às mesmas. Força Portugal”, escreveu Villas-Boas.
O Imamat Ismaili, sede mundial da Comunidade Ismaelita, vai doar meio milhão de euros para ajudar as vítimas. O príncipe Aga Khan já ligou ao Presidente da República para apresentar as suas condolências e a sua solidariedade para com o governo português.
O Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian também já anunciou a constituição de um fundo com uma dotação inicial de 500 mil euros, assim como a Cáritas que doou 200 mil euros e a Associação Mutualista Montepio que disponibilizou 150 mil.
Na Internet, uma campanha de crowdfunding, lançada pelo cidadão Sérgio Gonçalves, começou com o objetivo de angariar cinco mil euros, mas a rapidez da ajuda foi tal, que já foi ‘obrigada’ a atualizar-se para um novo patamar: dez mil euros.
A Caixa Geral de Depósitos também criou uma conta solidária intitulada “Unidos por Pedrógão”, com 50 mil euros de montante inicial. O IBAN da conta é PT50 0035 0001 00100000330 42. Seguiram o exemplo o Novo Banco (IBAN PT50 0007 0000 0034046195023), que também doou 50 mil euros e o BCP (IBAN PT50 0033 0000 45507587831 05).
A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, apelou à paragem da doação de alimentos, “dado a vaga de solidariedade estar a criar problemas logísticos”. No entanto, todos podem continuar a ajudar, nomeadamente, com peças de roupa.
O último balanço dá conta de 62 mortos civis e 62 feridos, dois deles em estado grave. Entre os operacionais, registam-se dez feridos, quatro em estado grave. Há ainda dezenas de deslocados, estando por calcular o número de casas e viaturas destruídas. O Governo decretou três dias de luto nacional, até terça-feira.
ZAP // Lusa
Incêndio em Pedrógão Grande
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Antes de mais quero deixar os meus profundos sentimentos aquelas Vitimas que perderam a vida neste incêndio de grandes proporções.
E agora os nossos Dr,s Políticos o que tem a dizer sobre o grave assunto, brevemente tudo será esquecido.
A falta dos nossos Voluntários Bombeiros aonde estão? se calhar seguiram o conselho do Passos Coelho, a aconselhar a emigração dos nossos Jovens para fora do nosso Portugal. e neste momento oferecem os míseros €1,20 hora a estes escassos Homens. Será que o Mexia (EDP) ou Ricardo Salgado (BES) aceitariam este valor.
As nossas Forças Armadas, Exército, Força Área, Marinha, vem poderiam no seu tempo militar, ficassem acartoladas nos Quarteis dos BV de todo o País, os Desempregados que estejam a receber o rendimento minimo, e outros voluntários desde Seniores com capacidade limpar e vigiar todo o mato existente em todo o lado.
Haja Boa vontade e sejamos todos Patriotas e não pensem só no lucro. a custa dos incendidos.
Firmino